Spurgeon
Mas, alguém exclama: “Eu não me declararei culpado, pois ainda que
esteja muito consciente de que não permaneci ‘em todas as coisas escritas no
livro da Lei’, fiz o melhor que pude.” Essa é uma mentira; diante de Deus é uma
falsidade. Não o tens feito! Não tens feito o melhor que podias. Houve muitas
ocasiões nas quais poderias ter realizado um esforço melhor. Acaso, aquele
jovem que está acolá, atrever-se-ia a dizer-me que está fazendo agora o melhor
que pode? Que não pode reprimir a sua risada na casa de Deus? É possível que
seja difícil para ele que o faça, mas é possível que poderia, se quisesse,
refrear-se de insultar o seu Criador, na Sua cara. De certo, nenhum de nós tem
feito o melhor que podia. Em cada período, em cada momento, houve oportunidades
de escapar da tentação. Se não tivéssemos tido nenhuma liberdade de escapar do
pecado, poderia haver alguma desculpa por ele; contudo, houve pontos decisivos
na nossa história quando teríamos podido decidir pelo correto ou o incorreto,
mas temos feito o mal e evitamos o bem, e dirigimo-nos a esse caminho que
conduz ao Inferno.
“Ah, mas eu declaro, senhor,” diz outro, “que embora seja certo que
tenho quebrantado essa Lei, sem dúvida alguma, não fui pior do que os meus
semelhantes.” E, por certo, esse é um argumento muito triste, pois de que te
serve? Seres condenado em grupo, não te serve de mais consolo, do que se tu
fores condenado sozinho. É certo que não foste pior do que os teus semelhantes,
porém, isto não te servirá de nada. Quando os ímpios forem atirados para o
Inferno, será de muito pouco consolo para ti que Deus diga: “Apartai-vos de
mim, malditos” a mil pessoas juntamente contigo. Recorda que a maldição de
Deus, quando arraste uma nação ao Inferno, será sentida por cada indivíduo da
multidão de igual maneira como se o castigo fosse para um só indivíduo. Deus
não é como os nossos juízes terrestres. Se os vossos tribunais estivessem
saturados de prisioneiros, poderiam sentir-se inclinados a tratar levianamente
muitos casos. Mas, com Jeová não acontece o mesmo. Ele é tão infinito na Sua
mente, que a abundância de criminosos não será uma dificuldade para Ele.
Tratará contigo com a mesma severidade e justiça como se não houvesse nenhum
outro pecador em todo mundo.
E eu pergunto-te: o que tens tu que ver com os pecados de outros
homens? Tu não és responsável por eles. Deus determinou que tu te sustentarias
ou cairias por ti mesmo. De acordo com as tuas próprias ações serás julgado. O
pecado da rameira pode ser mais grave do que o teu, porém, tu não serás
condenado pelas suas iniquidades. A culpa do assassino pode ultrapassar em
muito as tuas transgressões, porém, tu não serás condenado pelo assassino. Oh,
homem, a religião é algo entre Deus e a tua própria alma; e, portanto,
imploro-te que não olhes para o coração do teu vizinho, mas para o teu próprio
coração.
“Ai,” exclama alguém, “Mas eu esforcei-me, muitas vezes, para
guardar a Lei, e penso que o logrei por algum tempo.” Escuta outra vez a
leitura do versículo: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as
coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.” Oh, senhores!, não é algum
rubor febril nas faces que brota por uma irresolução doentia, o que Deus
reconhece como a saúde da obediência. Não se trata de uma ligeira obediência
durante uma hora, o que Deus aceitará no dia do juízo. Ele usa a palavra
“permanecer;” e, a menos que, desde a minha mais temporã infância, até ao dia
em que os meus cabelos brancos desçam à sepultura, tenha permanecido em obediência
a Deus, deverei ser condenado. A menos que tenha servido obedientemente a Deus,
desde o primeiro despertar da razão, quando comecei a ser responsável, até que,
como um arbusto de trigo, seja juntado no celeiro do meu Senhor, a salvação
pelas obras será impossível para mim, e eu serei condenado se estou apoiado no
meu próprio fundamento. Não é, afirmo-o, alguma flutuante obediência o que
salvará a alma. Tu não permaneceste “em todas as coisas escritas no livro da
Lei,” e, portanto, estás condenado.
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