SPURGEON
“Porque Cristo,
estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” (Romanos
5:6 )
Pedro, posto de pé na
proa do bote, e tendo dito ao vento e às ondas: “Paz, não vos moveis”, mas
estes elementos deveriam ter rugido sem deter-se com inquebrantável fúria. O
Papa de Roma, que pretende ser o sucessor de Pedro, pode alçar-se com as
suas cerimónias e dizer à consciência atormentada: “Paz, tem tranquilidade”,
mas não cessará a sua terrível agitação. O espírito imundo que traz para a
consciência tanta agitação grita ao Papa: “A Jesus conheço, conheço a Sua cruz,
mas quem és tu?” Sim, e não poderá ser lançado fora. Não há absolutamente
nenhuma oportunidade de encontrar-se um travesseiro para a cabeça dorida pela
ação do Espírito Santo, salvo a expiação e a obra terminada de Cristo.
Quando o senhor
Robert Hall foi pregar pela primeira vez a Cambridge, quase todos seus
habitantes eram Unitários[4].
Assim que ele pregou a respeito da doutrina da obra terminada de Cristo, alguns
dos seus ouvintes aproximaram-se dele e disseram-lhe: “Senhor Hall, isto não
deveria ter sido dito.” “Por que não?”, perguntou ele, “Pois porque o seu sermão
é adequado somente para anciãs.” “E porque é adequado somente para anciãs?”,
inquiriu o senhor Hall. “Porque elas estão cambaleantes nas fronteiras da
sepultura e procuram consolo, e, portanto, é muito adequado para elas, mas
não para nós.” “Muito bem”, disse o senhor Hall, “inconscientemente vós
tendes-me pago todo o cumprimento que eu posso pedir; se isto é bom para anciãs
à beira da sepultura, deve ser bom para vós que estais na plenitude da vossa
consciência, pois todos nos encontramos à beira da sepultura.” Aqui
encontramos, certamente, uma das principais características da expiação, que
nos consola perante o pensamento da morte. Quando a consciência é despertada
pelo sentido da culpa, a morte projectará certamente a sua pálida sombra sobre
todas as nossas perspectivas e porá um círculo ao redor de todos os nossos
passos com escuros presságios da sepultura. Os alarmes da consciência
geralmente são acompanhadas dos pensamentos do juízo que se aproxima, mas a paz
dada pelo sangue é à prova de consciência, à prova de enfermidade, à prova de
morte, à prova do diabo, à prova de juízo e será à prova de eternidade.
Poder-nos-emos alarmar com todas as revoltas de ocupação e de toda a
lembrança da corrupção passada, mas permite apenas que os nossos olhos
descansem na Tua amada cruz, ó Jesus, e que a nossa consciência tenha paz com
Deus e possamos descansar e estar tranquilos. Agora, perguntamo-nos se algum
destes sistemas modernos de teologia pode aquietar uma consciência atormentada?
Nós gostaríamos de compartilhar com eles, alguns casos com os quais nos
encontramos algumas vezes —alguns casos desesperados— e dizer-lhes:
“Agora, aqui, lança fora a este demónio, se podes fazê-lo”, e penso que eles se
darão conta de que este tipo de demónios não pode ser lançado para fora, senão
só por meio das lágrimas, dos gemidos e da morte de Jesus Cristo, do sacrifício
de expiação. Um Evangelho sem expiação pode funcionar muito bem para mocinhas e
cavalheiros que não estão conscientes de que alguma vez fizeram algo mau. Será adequada
simplesmente para a gente apática que não tem um coração visível para os
demais; pessoas que sempre têm sido muito morais, direitas e respeitáveis; que
se sentiriam insultadas se lhes dissesses que merecem ser enviadas para o
Inferno; que nem por um momento admitiriam poder ser criaturas depravadas ou
caídas. O evangelho destes modernos, atrevo-me a repeti-lo, será muito adequado
para este tipo de pessoas; mas nada mais deixa que um homem seja realmente
culpado e o saiba; deixa que verdadeiramente esteja consciente da sua condição
perdida, e eu vos asseguro de que nada senão Jesus— nada senão Jesus, nada
senão o Seu precioso sangue, poderá dar-lhe paz e descanso. Estas duas coisas,
então, são excelentes recomendações da doutrina da expiação, já que se adequa
ao entendimento dos menos dotados e aquieta a consciência do mais aflito.
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