Spurgeon
“Mas,” dirá outro, “Há muitas coisas que eu não tenho feito, mas
apesar de tudo, tenho sido muito virtuoso.” Essa, também, é uma pobre desculpa.
Supõe que tens sido virtuoso; supõe que tens evitado muitos vícios: lê o meu
versículo. Não é minha a palavra, mas a palavra de Deus, lê-o: “Todas as
coisas.” Não diz: “Algumas coisas.” “Maldito todo aquele que não permanecer em
todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.” Agora, tens posto em
prática todas as virtudes? Tens-te apartado de todos os vícios? Podes pôr-te de
pé e declarar: “Nunca fui um bêbado”? Entretanto, serás condenado, se tiveres
sido um fornicador. Respondes acaso: “Nunca fui imundo”? Entretanto,
quebrantaste o dia de repouso. Declaras-te culpado desse cargo? Acaso declaras
que nunca quebrantaste o dia de repouso? Tu tomaste o nome de Deus em vão, não
é verdade? Em alguma parte ou em outra, a Lei de Deus pode ferir-te. É certo
(deixa agora que fale à tua consciência e afirme o que eu assevero), é certo
que não permaneceste “Em todas as coisas escritas no livro da Lei.” E mais,
estou convencido de que não permaneceste plenamente em nenhum mandamento de
Deus, pois o mandamento é extremamente amplo. Não é o ato patente,
simplesmente, o que condenará um homem; é o pensamento, a imaginação, a
concepção do pecado, os que bastam para arruinar a alma. Recordai, meus
queridos ouvintes, que estou pregando agora a própria palavra de Deus, não uma
rigorosa doutrina da minha propriedade. Se nunca tivésseis cometido um só ato
de pecado, o mero pensamento de pecado, a simples imaginação do pecado
bastariam para arrastar a alma para o Inferno para sempre.
Se tivesses nascido
numa cela, e não tivesses podido sair nunca para o mundo, para cometer atos de
lascívia, de assassinato ou de roubo, bastaria o pensamento do mal nessa cela
solitária, para apartar a tua alma para sempre do rosto de Deus. Oh!, não há
ninguém aqui que possa ter a esperança de escapar. Cada um de nós deve inclinar
a sua cabeça diante de Deus, e clamar: «Culpado, Senhor, culpado, cada um de
nós é culpado: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas
escritas no livro da Lei, para as fazer.’» Quando olho o teu rosto, oh Lei, o
meu espírito treme de horror. Quando escuto os teus trovões, o meu coração
derrete-se como a cera no meio das minhas entranhas. Como poderia suportar-te?
Se estiver para ser julgado no fim, pela minha vida, de certeza não
necessitarei de um juiz, pois eu serei o meu próprio acusador voluntário, e a
minha consciência será uma testemunha para me condenar.
Penso que não preciso
de me alargar mais neste ponto. Oh, tu, que estás sem Cristo e sem Deus, não
permaneces condenado diante Dele? Tira de ti todas as máscaras, e despreza
todas as desculpas; que cada um de nós arremesse ao vento todas as suas vãs
pretensões. A menos que contemos com o sangue e a justiça de Cristo, para que
nos cubram, cada um de nós deve reconhecer que esta sentença fecha as portas do
Céu na nossa cara, e unicamente nos prepara para as chamas da perdição.
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