domingo, 4 de novembro de 2012

OS MORTOS BEM AVENTURADOS



             Jonathan Edwards
         Quanto há na consideração de tal exemplo e de tão abençoado fim para encorajar os que ainda estamos vivos com a maior diligência e seriedade, a fim de que tiremos lições proveitosas do tempo de vida e também possamos ir estar com Cristo quando deixarmos este corpo! O tempo está chegando e logo virá, não sabemos quão próximo está, quando teremos de nos despedir eternamente de todas as coisas deste mundo para entrarmos num estado permanente e inalterável no mundo eterno. Quanto vale a pena laborarmos, sofrermos e negarmos a nós mesmos para guardarmos um bom fundamento de sustentação e provisão contra esse tempo! Quão preciosa é essa paz, quando ouvimos falar que vale a pena tais momentos! Quão escuro seria estarmos em tais circunstâncias, sob as aflições externas de uma estrutura consumada e dissolvente, e encarando a morte a cada dia, com corações imundos e pecados não perdoados, sob uma carga terrível de culpa e ira divina, tendo muita tristeza e raiva em nossa enfermidade, e nada para consolar e apoiar nossa mente, nada diante de nós senão um iminente comparecimento perante o tribunal de um Deus Todo-poderoso e infinitamente santo e irado, e uma eternidade para sofrermos sua ira sem piedade ou misericórdia! A pessoa de quem estamos falando tinha um grande senso desta realidade. Ele afirmou, não muito tempo antes de morrer: “Me e doce pensar na eternidade. Sua infinidade a torna doce. Mas, o que direi quanto à eternidade dos ímpios? Não posso mencionar, nem pensar! O pensamento é muito terrível!” Em outro momento, falando de um coração dedicado a Deus e sua glória, ele disse: “Quanto é importante ter tal estrutura de mente, tal coração como esse, quando vamos morrer! É isso que me dá paz agora.”
         Quanto há, em particular, nas coisas que foram observadas deste eminente ministro de Cristo para nos impelir — os que somos chamados para a mesma e grande obra do ministério do Evangelho — ao cuidado e esforços diligentes, a fim de que da mesma maneira sejamos fiéis em nosso trabalho, como também cheios do mesmo espírito, animados com a mesma chama pura e ardente do amor a Deus e tenhamos o mesmo interesse sério pela promoção do Reino e glória de nosso Senhor e Mestre e da prosperidade de Sião! Estes princípios o tornaram muitíssimo amado na vida e muito bem-aventurado no seu fim!
         Que as coisas que foram vistas e ouvidas sobre esta pessoa extraordinária — a santidade, consagração, trabalho duro e abnegação de vida; sua tão excepcional devoção de si e do seu tudo, no coração e na prática, para a glória de Deus; e a maravilhosa estrutura de pensamento manifestada de maneira tão firme sob a expectativa da morte e com dores e agonias que a acompanharam. Que isso nos encoraje a todos nós, ministros e povo, a um senso adequado da grandeza da obra que temos de fazer no mundo, da excelência e afabilidade da religião total na experiência e na prática, da bem-aventurança do fim daqueles cuja morte encerra tal vida e do valor infinito da recompensa eterna, quando “ausente do corpo e presente com o Senhor'; e efetivamente nos leve a empenhos constantes e eficazes que, à semelhança de tal vida santa, entremos afinal para tão bem-aventurado fim! Amém.
         Este sermão foi pregado por Jonathan Edwards no funeral do afamado missionário dos índios, David Brainerd (20 de abril de 1718– 9 de outubro de 1747), que morreu na casa de Edwards, em Nonhampton, em 1747, e cujo diário, é hoje um clássico missionário e que foi publicado por Edwards. Este sermão fúnebre é a declaração pujante da esperança do cristão concernente aos que já dormiram.

InGrandes Sermões do Mundo”, de Clarence E. Macartney, Editor
Biografia sucinta de Jonathan Edwards

Jonathan Edwards, o mais famoso dos teólogos e filósofos americanos, nasceu em South Windsor. Connecticut, em 5 de outubro de 1703, e morreu em Princeton, Nova Jersey, em 22 de março de 1758. O seu pai era ministro e formado pela Universidade de Harvard, e sua mãe, uma mulher de mentalidade e devoção extraordinárias. Quando criança, Edwards deu indicações certas das suas realizações futuras. Com a idade de dez anos, ele escreveu um ensaio sobre a imaterialidade da alma e aos doze escreveu o que ficou conhecido por excelente tratado sobre aranhas-voadoras. Pela época da sua formatura na Universidade de Yale, em 1720, ele já tinha imergido profundamente no poço da filosofia. Depois de breve serviço numa igreja presbiteriana em Nova Iorque e alguns anos como professor particular da Universidade de Yale, ele tornou-se ministro da Igreja Congregacional em Northampton. Massachusetts. Ali casou-se com Sarah Pierrepont (1710-1758), uma tetraneta do célebre Thomas Hooker.

Desde o início de seu ministério, Edwards enfatizou a alta visão calvinista da soberania de Deus na salvação do homem. Com a sua pregação, iniciou-se o excepcional avivamento em Northampton, espalhando-se pelas colónias da Nova Inglaterra que ficou conhecido como o Grande Avivamento. Edwards foi o líder e defensor desse famoso avivamento. Em 1749, depois de uma disputa que se levantara sobre a questão da disciplina sobre a participação dos crentes na Santa Ceia, Edwards foi deposto do púlpito e da congregação. De Northampton, ele foi para Stockbridg e ai foi pastor da igreja e missionário entre os índios. Foi ali que, em quatro meses, ele escreveu um dos “maiores” livros do mundo e a principal contribuição dos Estados Unidos para a filosofia, The Freedom of the Will (A liberdade da vontade), no qual procura refutar a doutrina do livre arbítrio. Esteve ali uns sete anos antes de ser nomeado presidente da Universidade de Princeton, mas mal tinha começado os seus trabalhos ali quando lhe sobreveio a morte por uma reação à vacina contra a varíola. Morreu em 22 de março de 1758.

O seu sermão mais conhecido é “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, sobre o versículo: “Ao tempo em que resvalar o seu pé” (Dt 32:35). O sermão foi pregado em Enfield, Connecticut, como advertência e repreensão por causa do crescimento da imoralidade. Edwards pregou muitas vezes sobre a bondade e o amor de Deus; mas sempre que o seu nome é mencionado, este é o sermão que as pessoas associam a ele. Há muito no sermão que ofende a sensibilidade religiosa dos nossos dias, sobretudo a descrição de Deus segurando o pecador acima do inferno, como alguém que segura uma aranha ou inseto sobre o fogo. Ninguém poderia pregar nesses termos hoje. Mas o pêndulo oscilou muito longe para a outra direção, e a pregação de hoje, residindo exclusivamente no amor de Deus, dificilmente é de natureza a produzir arrependimento ou inteirar os homens de que Deus é de olhos muito puros para ver a iniquidade. Relatos contemporâneos da pregação daquele sermão falam da profunda impressão causada e como o pregador teve de parar diversas vezes para pedir silêncio por parte dos arrependidos, que na sua angústia choravam em voz alta.

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