Jonathan Edwards
Quanto
há na consideração de tal exemplo e de tão abençoado fim para encorajar os que
ainda estamos vivos com a maior diligência e seriedade, a fim de que tiremos
lições proveitosas do tempo de vida e também possamos ir estar com Cristo
quando deixarmos este corpo! O tempo está chegando e logo virá, não sabemos
quão próximo está, quando teremos de nos despedir eternamente de todas as
coisas deste mundo para entrarmos num estado permanente e inalterável no mundo
eterno. Quanto vale a pena laborarmos, sofrermos e negarmos a nós mesmos para
guardarmos um bom fundamento de sustentação e provisão contra esse tempo! Quão
preciosa é essa paz, quando ouvimos falar que vale a pena tais momentos! Quão
escuro seria estarmos em tais circunstâncias, sob as aflições externas de uma
estrutura consumada e dissolvente, e encarando a morte a cada dia, com corações
imundos e pecados não perdoados, sob uma carga terrível de culpa e ira divina,
tendo muita tristeza e raiva em nossa enfermidade, e nada para consolar e
apoiar nossa mente, nada diante de nós senão um iminente comparecimento perante
o tribunal de um Deus Todo-poderoso e infinitamente santo e irado, e uma
eternidade para sofrermos sua ira sem piedade ou misericórdia! A pessoa de quem
estamos falando tinha um grande senso desta realidade. Ele afirmou, não muito
tempo antes de morrer: “Me e doce pensar na eternidade. Sua infinidade a torna
doce. Mas, o que direi quanto à eternidade dos ímpios? Não posso mencionar, nem
pensar! O pensamento é muito terrível!” Em outro momento, falando de um coração
dedicado a Deus e sua glória, ele disse: “Quanto é importante ter tal estrutura
de mente, tal coração como esse, quando vamos morrer! É isso que me dá paz
agora.”
Quanto
há, em particular, nas coisas que foram observadas deste eminente ministro de
Cristo para nos impelir — os que somos chamados para a mesma e grande obra do
ministério do Evangelho — ao cuidado e esforços diligentes, a fim de que da
mesma maneira sejamos fiéis em nosso trabalho, como também cheios do mesmo
espírito, animados com a mesma chama pura e ardente do amor a Deus e tenhamos o
mesmo interesse sério pela promoção do Reino e glória de nosso Senhor e Mestre
e da prosperidade de Sião! Estes princípios o tornaram muitíssimo amado na vida
e muito bem-aventurado no seu fim!
Que
as coisas que foram vistas e ouvidas sobre esta pessoa extraordinária — a
santidade, consagração, trabalho duro e abnegação de vida; sua tão excepcional
devoção de si e do seu tudo, no coração e na prática, para a glória de Deus; e
a maravilhosa estrutura de pensamento manifestada de maneira tão firme sob a
expectativa da morte e com dores e agonias que a acompanharam. Que isso nos
encoraje a todos nós, ministros e povo, a um senso adequado da grandeza da obra
que temos de fazer no mundo, da excelência e afabilidade da religião total na
experiência e na prática, da bem-aventurança do fim daqueles cuja morte encerra
tal vida e do valor infinito da recompensa eterna, quando “ausente do corpo e
presente com o Senhor'; e efetivamente nos leve a empenhos constantes e
eficazes que, à semelhança de tal vida santa, entremos afinal para tão
bem-aventurado fim! Amém.
Este
sermão foi pregado por Jonathan Edwards no funeral do afamado missionário dos
índios, David Brainerd (20 de abril de 1718– 9 de outubro de 1747), que morreu
na casa de Edwards, em Nonhampton, em 1747, e cujo diário, é hoje um clássico
missionário e que foi publicado por Edwards. Este sermão fúnebre é a declaração
pujante da esperança do cristão concernente aos que já dormiram.
In “Grandes Sermões do Mundo”,
de Clarence E. Macartney, Editor
Biografia
sucinta de Jonathan Edwards
Jonathan Edwards, o mais famoso
dos teólogos e filósofos americanos, nasceu em South Windsor. Connecticut, em 5
de outubro de 1703, e morreu em Princeton, Nova Jersey, em 22 de março de 1758.
O seu pai era ministro e formado pela Universidade de Harvard, e sua mãe, uma
mulher de mentalidade e devoção extraordinárias. Quando criança, Edwards deu
indicações certas das suas realizações futuras. Com a idade de dez anos, ele
escreveu um ensaio sobre a imaterialidade da alma e aos doze escreveu o que
ficou conhecido por excelente tratado sobre aranhas-voadoras. Pela época da sua
formatura na Universidade de Yale, em 1720, ele já tinha imergido profundamente
no poço da filosofia. Depois de breve serviço numa igreja presbiteriana em Nova
Iorque e alguns anos como professor particular da Universidade de Yale, ele
tornou-se ministro da Igreja Congregacional em Northampton. Massachusetts. Ali
casou-se com Sarah Pierrepont (1710-1758), uma tetraneta do célebre Thomas
Hooker.
Desde o início de seu ministério,
Edwards enfatizou a alta visão calvinista da soberania de Deus na salvação do
homem. Com a sua pregação, iniciou-se o excepcional avivamento em Northampton,
espalhando-se pelas colónias da Nova Inglaterra que ficou conhecido como o
Grande Avivamento. Edwards foi o líder e defensor desse famoso avivamento. Em
1749, depois de uma disputa que se levantara sobre a questão da disciplina
sobre a participação dos crentes na Santa Ceia, Edwards foi deposto do púlpito
e da congregação. De Northampton, ele foi para Stockbridg e ai foi pastor da
igreja e missionário entre os índios. Foi ali que, em quatro meses, ele
escreveu um dos “maiores” livros do mundo e a principal contribuição dos
Estados Unidos para a filosofia, The Freedom of the Will (A liberdade da
vontade), no qual procura refutar a doutrina do livre arbítrio. Esteve ali uns
sete anos antes de ser nomeado presidente da Universidade de Princeton, mas mal
tinha começado os seus trabalhos ali quando lhe sobreveio a morte por uma
reação à vacina contra a varíola. Morreu em 22 de março de 1758.
O seu sermão mais conhecido é
“Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, sobre o versículo: “Ao tempo em que
resvalar o seu pé” (Dt 32:35). O sermão foi pregado em Enfield, Connecticut,
como advertência e repreensão por causa do crescimento da imoralidade. Edwards
pregou muitas vezes sobre a bondade e o amor de Deus; mas sempre que o seu nome
é mencionado, este é o sermão que as pessoas associam a ele. Há muito no sermão
que ofende a sensibilidade religiosa dos nossos dias, sobretudo a descrição de
Deus segurando o pecador acima do inferno, como alguém que segura uma aranha ou
inseto sobre o fogo. Ninguém poderia pregar nesses termos hoje. Mas o pêndulo
oscilou muito longe para a outra direção, e a pregação de hoje, residindo
exclusivamente no amor de Deus, dificilmente é de natureza a produzir
arrependimento ou inteirar os homens de que Deus é de olhos muito puros para ver
a iniquidade. Relatos contemporâneos da pregação daquele sermão falam da
profunda impressão causada e como o pregador teve de parar diversas vezes para
pedir silêncio por parte dos arrependidos, que na sua angústia choravam em voz
alta.
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