Por Victor Hugo
“O homem,
essa enfermidade, essa sombra, esse átomo, esse grão de areia, essa gota de
água, essa lágrima caída dos olhos do destino; o homem que vive na perturbação
e na dúvida, sabendo pouco do dia de ontem e nada do dia de amanhã, vendo no
caminho o necessário para pousar os pés e o resto em trevas; trémulo, se olha
para diante, triste, se olha para trás; o homem, envolto nessas obscuridades —
o tempo, o espaço, o ser, — e nelas perdido, tendo em si um abismo — a sua alma
— e fora de si o céu.
O
homem, que em certas horas se curva com uma espécie de horror sagrado a todos
os esforços da natureza, ao ruído do mar, ao irradiar das estrelas; o homem,
que não pode levantar a cabeça de dia sem que a luz o cegue, de noite sem que o
perturbe o infinito; o homem, que nada conhece, nada vê, nada entende; que pode
ser levado amanhã, hoje, agora mesmo pela onda que passa, pelo vento que soa.
O
homem, esse ser, tímido inseto, miserável servo do acaso, o ludíbrio do minuto
que passa; o homem, humilde verme da terra, quer destruir as obras de Deus e
impugnar a religião que regou com o seu sangue, que ele selou com a sua morte e
à qual prometeu a sua assistência! Miséria das misérias!”
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