domingo, 15 de junho de 2014

COMÉRCIO ESPIRITUAL INSALUBRE (1)




C. H. Spurgeon
“Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos.” (Provérbios 16:2)
         Durante os dois últimos anos algumas das mais notáveis reputações comerciais foram destruídas irremediavelmente. No grande mundo do comércio, alguns homens a quem foram confiadas centenas de milhares de libras esterlinas, em torno de cujo caráter não se abatia nenhuma nuvem de suspeita e nem sequer uma sombra de dúvida, demonstraram carecer de princípios e ser de precária honestidade.
         A prova de fogo foi demasiado grande para a madeira, para o feno e para o restolho de muitas firmas gigantescas. Casas de negócios que pareciam fundadas sobre uma rocha e que simulavam ser tão firmes como o própria coisa pública, foram sacudidas até aos seus alicerces e hão desabado com um tremendo estrondo. Por todos lados vemos o afundamento de grandes reputações e de colossais fortunas. Há lamentação nos palácios da farsa e desolação nos salões da pretensão. As bolhas de ar estão-se rebentando, os foles sofrem colapsos, a pintura está-se gretando e o brilho superficial está a sair.
         Provavelmente veremos mais disto; ter-se-ão de fazer mais revelações de uma riqueza aparente que cobria a insolvência assim como um brilhante papel pode cobrir uma parede de lodo; astuciosos esquemas enganavam o público com lucros nunca realizados e tentavam-no a realizar as mais atrevidas especulações, assim como a miragem do deserto engana o viajante. Temos visto nos impressos públicos, mês após mês, frescos descobrimentos dos modos de financiamento adotados pela vilania deste tempo presente, para realizar roubos honestamente e cometer maldades com confiança.
         Havemos ficado assombrados e atônitos ante os truques vis e os artifícios desavergonhados a que homens eminentes se têm dignado. E, sem embargo, havemo-nos visto forçados a ouvir justificações de fraudes gigantescas e obrigados até a crer que os seus perpetradores não consideraram que estavam atuando desonrosamente, porque os seus próprios êxitos prévios unidos ao baixo estado de moralidade, nos hão aquietado para cairmos num estado no qual a consciência, se não estava morta, estava profundamente adormecida.
         Digo que provavelmente veremos algo mais desta escola de desonestidade; porém, é uma lástima que tenhamos de vê-lo, e é completamente desnecessário, pois todo o negócio do financiamento pode ser examinado agora pelo estudante diligente com modelos e exemplos vivos, mais que suficientes para ilustrar cada porção individual da arte.
         Algumas épocas poderão ter sido grandes na ciência, outras na arte e outras na guerra, porém, a nossa época sobressai entre todas as demais pela perícia dos seus patifes; este é o período clássico do artifício enganoso e a época de ouro da fraude. Se um homem tiver um coração ruim, uma consciência cauterizada e um plausível modo de falar, e se resolve enganar o público com milhões de libras esterlinas, não precisa viajar para aprender o método mais sofisticado, pois pode encontrar exemplos muito perto, em casa, entre os elevados professores e os grandes da terra.

Nenhum comentário: