C.
H. Spurgeon
“Todos os caminhos do homem são
limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos.” (Provérbios 16:2)
Durante
os dois últimos anos algumas das mais notáveis reputações comerciais foram
destruídas irremediavelmente. No grande mundo do comércio, alguns homens a quem
foram confiadas centenas de milhares de libras esterlinas, em torno de cujo
caráter não se abatia nenhuma nuvem de suspeita e nem sequer uma sombra de
dúvida, demonstraram carecer de princípios e ser de precária honestidade.
A
prova de fogo foi demasiado grande para a madeira, para o feno e para o
restolho de muitas firmas gigantescas. Casas de negócios que pareciam fundadas
sobre uma rocha e que simulavam ser tão firmes como o própria coisa pública,
foram sacudidas até aos seus alicerces e hão desabado com um tremendo estrondo.
Por todos lados vemos o afundamento de grandes reputações e de colossais
fortunas. Há lamentação nos palácios da farsa e desolação nos salões da
pretensão. As bolhas de ar estão-se rebentando, os foles sofrem colapsos, a
pintura está-se gretando e o brilho superficial está a sair.
Provavelmente
veremos mais disto; ter-se-ão de fazer mais revelações de uma riqueza aparente
que cobria a insolvência assim como um brilhante papel pode cobrir uma parede
de lodo; astuciosos esquemas enganavam o público com lucros nunca realizados e
tentavam-no a realizar as mais atrevidas especulações, assim como a miragem do
deserto engana o viajante. Temos visto nos impressos públicos, mês após mês,
frescos descobrimentos dos modos de financiamento adotados pela vilania deste
tempo presente, para realizar roubos honestamente e cometer maldades com
confiança.
Havemos
ficado assombrados e atônitos ante os truques vis e os artifícios desavergonhados
a que homens eminentes se têm dignado. E, sem embargo, havemo-nos visto
forçados a ouvir justificações de fraudes gigantescas e obrigados até a crer
que os seus perpetradores não consideraram que estavam atuando desonrosamente,
porque os seus próprios êxitos prévios unidos ao baixo estado de moralidade,
nos hão aquietado para cairmos num estado no qual a consciência, se não estava
morta, estava profundamente adormecida.
Digo
que provavelmente veremos algo mais desta escola de desonestidade; porém, é uma
lástima que tenhamos de vê-lo, e é completamente desnecessário, pois todo o
negócio do financiamento pode ser examinado agora pelo estudante diligente com
modelos e exemplos vivos, mais que suficientes para ilustrar cada porção
individual da arte.
Algumas épocas poderão ter sido grandes
na ciência, outras na arte e outras na guerra, porém, a nossa época sobressai
entre todas as demais pela perícia dos seus patifes; este é o período clássico
do artifício enganoso e a época de ouro da fraude. Se um homem tiver um coração
ruim, uma consciência cauterizada e um plausível modo de falar, e se resolve
enganar o público com milhões de libras esterlinas, não precisa viajar para
aprender o método mais sofisticado, pois pode encontrar exemplos muito perto,
em casa, entre os elevados professores e os grandes da terra.
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