terça-feira, 17 de junho de 2014

COMÉRCIO ESPIRITUAL INSALUBRE (2)



       
C. H. Spurgeon
“Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos.” (Provérbios 16:2)
         Meus irmãos, estas estrondosas torres derrubadas à direita, estes sons de muralhas ameadas que se desabam à esquerda, estes gritos dos náufragos de todos os lados, ao longo das costas do comércio, não só despertaram dentro de mim muitos pensamentos relativos a eles mesmos e à podridão da sociedade moderna, mas também me têm conduzido a meditar em catástrofes similares que sempre estão ocorrendo no mundo espiritual.
         Sem nenhum registro nas publicações, e sem ser lamentados pelos homens não regenerados, há falhas, e fraudes e bancarrotas da alma que são horríveis de considerar. Há um comércio espiritual tão pretensioso e, aparentemente tão bem sucedido, como o seu alardeado malabarismo de responsabilidade limitada nos negócios, e é igualmente tão podre que vai terminar decerto num irremediável desmoronamento. A especulação é um vício espiritual assim como é um vício comercial: o comércio sem capital é comum no mundo religioso, e o anúncio de uma coisa com um elogio exagerado e com erro, são práticas quotidianas.
         O mundo exterior é sempre representativo do mundo interior; a vida que rodeia o comércio ilustra a vida que prolifera dentro da igreja; e se os nossos olhos fossem abertos e os nossos ouvidos fossem capazes de ouvir as visões e os sons do mundo do espírito interessar-nos-íamos muito mais e entristecer-nos-íamos muito mais, do que as ações que começam na sala do conselho dos diretores e que não sabemos onde terminam.
         Veremos, neste tempo, fortunas religiosas colossais dissolvidas numa abjeta pobreza espiritual. Veremos excelsos professantes, muito reverenciados e tidos em alta estima, sumidos na vergonha e no desprezo eterno. Veremos os ricos em assuntos divinos, em quem os homens confiaram incautamente como seus guias e conselheiros, a respeito dos melhores interesses das suas almas, desmascarados e identificados como enganadores do princípio ao fim.
         Parece-me que espiono no mundo das coisas espirituais e vejo muitas torres de Babel cambaleantes e quase a cair; muitas árvores formosas estão apodrecendo no coração; muitas faces rosadas estão sendo debilitadas insidiosamente pela enfermidade. Sim, um som chega ao meu ouvido proveniente de homens da igreja, aparentemente ricos e com abundância de bens, que estão nus, e são pobres e miseráveis, e são grandes homens cujas excelsas glórias não são senão flores mortiças. Sempre houve homens assim, e também há muitos agora, e havê-los-á até ao fim.
         É certo que a provisão dos enganadores se manterá, visto que o versículo nos diz que todos os caminhos do homem são puros na sua própria opinião; há uma propensão na natureza humana que conduz os homens, até quando estão mais equivocados, a julgarem-se mais retos. O versículo sugere, ao mesmo tempo, a terrível conclusão a que chegará todo o autoenganado, pois o juízo do homem concernente a si mesmo não é final, e vem o dia quando o Senhor que pesa os espíritos reverterá o veredicto de uma consciência perjurada, e fará com que o homem já não esteja mais sob a falsa luz que a sua altivez projetou em torno de si, mas sob a verdadeira luz em que toda a glória imaginada se desvanecerá como num sonho.

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