C. H. Spurgeon
“Todos
os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os
espíritos.” (Provérbios 16:2)
Meus
irmãos, estas estrondosas torres derrubadas à direita, estes sons de muralhas
ameadas que se desabam à esquerda, estes gritos dos náufragos de todos os
lados, ao longo das costas do comércio, não só despertaram dentro de mim muitos
pensamentos relativos a eles mesmos e à podridão da sociedade moderna, mas
também me têm conduzido a meditar em catástrofes similares que sempre estão
ocorrendo no mundo espiritual.
Sem
nenhum registro nas publicações, e sem ser lamentados pelos homens não
regenerados, há falhas, e fraudes e bancarrotas da alma que são horríveis de
considerar. Há um comércio espiritual tão pretensioso e, aparentemente tão bem
sucedido, como o seu alardeado malabarismo de responsabilidade limitada nos
negócios, e é igualmente tão podre que vai terminar decerto num irremediável
desmoronamento. A especulação é um vício espiritual assim como é um vício
comercial: o comércio sem capital é comum no mundo religioso, e o anúncio de
uma coisa com um elogio exagerado e com erro, são práticas quotidianas.
O
mundo exterior é sempre representativo do mundo interior; a vida que rodeia o
comércio ilustra a vida que prolifera dentro da igreja; e se os nossos olhos
fossem abertos e os nossos ouvidos fossem capazes de ouvir as visões e os sons
do mundo do espírito interessar-nos-íamos muito mais e entristecer-nos-íamos
muito mais, do que as ações que começam na sala do conselho dos diretores e que
não sabemos onde terminam.
Veremos,
neste tempo, fortunas religiosas colossais dissolvidas numa abjeta pobreza
espiritual. Veremos excelsos professantes, muito reverenciados e tidos em alta
estima, sumidos na vergonha e no desprezo eterno. Veremos os ricos em assuntos
divinos, em quem os homens confiaram incautamente como seus guias e
conselheiros, a respeito dos melhores interesses das suas almas, desmascarados
e identificados como enganadores do princípio ao fim.
Parece-me
que espiono no mundo das coisas espirituais e vejo muitas torres de Babel
cambaleantes e quase a cair; muitas árvores formosas estão apodrecendo no
coração; muitas faces rosadas estão sendo debilitadas insidiosamente pela
enfermidade. Sim, um som chega ao meu ouvido proveniente de homens da igreja,
aparentemente ricos e com abundância de bens, que estão nus, e são pobres e
miseráveis, e são grandes homens cujas excelsas glórias não são senão flores
mortiças. Sempre houve homens assim, e também há muitos agora, e havê-los-á até
ao fim.
É
certo que a provisão dos enganadores se manterá, visto que o versículo nos diz
que todos os caminhos do homem são puros na sua própria opinião; há uma
propensão na natureza humana que conduz os homens, até quando estão mais
equivocados, a julgarem-se mais retos. O versículo sugere, ao mesmo tempo, a
terrível conclusão a que chegará todo o autoenganado, pois o juízo do homem
concernente a si mesmo não é final, e vem o dia quando o Senhor que pesa os
espíritos reverterá o veredicto de uma consciência perjurada, e fará com que o
homem já não esteja mais sob a falsa luz que a sua altivez projetou em torno de
si, mas sob a verdadeira luz em que toda a glória imaginada se desvanecerá como
num sonho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário