C. H. Spurgeon
Além disso, os piores homens concebem ter algumas
excelências e virtudes, e se bem que eles não expiam o suficiente pelas suas
faltas, pelo menos diminuem grandemente a medida de culpa que lhes deveria ser atribuída.
O homem é um esbanjador, “mas, amigo, ele sempre foi franco e não foi inimigo
de ninguém, exceto de si mesmo.” O homem, é verdade, amaldiçoaria a Deus, mas
então, bem, trata-se de um simples hábito, ele sempre foi um jovem
impertinente, mas não tinha intenção de fazer mal; e além disso, nunca foi tão
mentiroso como Fulano de Tal; e, na verdade, desprezava dizer uma mentira sobre
qualquer assunto de negócios.
Outro
tem enganado os seus credores, mas era um homem tão simpático; e ainda que o
pobre indivíduo nunca pudesse ter contas ou administrar assuntos de dinheiro,
sempre tinha uma boa palavra para todo mundo. Se o homem imoral se sentasse para
descrever o seu próprio caráter, e convocasse toda a parcialidade da que é
capaz, diria: “sou um triste cão em alguns aspectos, semeando muitíssima aveia
silvestre, mas tenho um bom caráter subjacente que, sem dúvida, manifestar-se-á
algum dia, de tal maneira que o meu fim será brilhante e glorioso, apesar de
tudo.”
Este
último ponto que sugeri é muito frequentemente a justiça dos homens que não têm
outra, quer dizer, a sua intenção um destes dias é emendar-se e melhorar muito.
Para compensar a presente pobreza de justiça sacam um crédito para o futuro. As
suas promessas e resoluções são uma espécie de papel moeda, com o qual imaginam
que podem comercializar durante toda a eternidade. “Não se faz isto
frequentemente nos negócios”? Dizem eles: “Um homem que não tem um ingresso no
presente pode ter um interesse hereditário numa propriedade; recebe antecipações
sobre isso, por que não haveríamos de recebê-los nós?”
O
pecador patente tranquiliza assim a sua muito predisposta consciência com o
quadro imaginário da sua emenda e arrependimento futuros, e começa a sentir-se
meritório e desafia todas as ameaças da Palavra de Deus. Eu poderia estar
falando com alguns para quem estas observações são muito aplicáveis, e se for
assim, rogo-vos que sejais conduzidos a pensar seriamente.
Ouvinte,
precisas de saber, ou ao menos, uns quantos momentos sóbrios de reflexão te fariam
saber que não há nenhuma verdade nas súplicas, nas desculpas e nas promessas
com as quais aquietas agora a tua consciência; a tua paz está cimentada numa
mentira e é sustentada pelo pai das mentiras.
Enquanto
continues quebrantando temerariamente as leis de Deus na tua vida ordinária, e
comprazendo-te no pecado, tu estás sob a ira de Deus com toda certeza; e estás
entesourando ira para o dia da ira, e quando a medida da tua iniquidade estiver
colmatada, então receberás a terrível recompensa da transgressão. O Juiz de
toda a Terra fará o pagamento efetivo em relação às tuas vãs pretensões que
agora embrutecem a tua consciência. Ele não é um homem que possa ser adulado
como tu te adulas e te enganas a ti mesmo.
Não
terias a insolência de Lhe dizer a Ele as tuas desculpas. Terias a coragem de
te ajoelhar agora para falares com o grandioso Deus do Céu, e dizer-Lhe todas
estas coisas boas com as quais estás agora aplainando as dificuldades no teu
caminho ladeirento? Espero que não tenhas chegado a um declive tão descarado de
insolência como esse, mas, se o tens feito, permite-me recordar-te essa segunda
frase do meu versículo: “O SENHOR pesa os espíritos.” Uma balança justa e veraz
será empregue contigo brevemente.
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