sábado, 21 de junho de 2014

COMÉRCIO ESPIRITUAL INSALUBRE (5)




C. H. Spurgeon
Além disso, os piores homens concebem ter algumas excelências e virtudes, e se bem que eles não expiam o suficiente pelas suas faltas, pelo menos diminuem grandemente a medida de culpa que lhes deveria ser atribuída. O homem é um esbanjador, “mas, amigo, ele sempre foi franco e não foi inimigo de ninguém, exceto de si mesmo.” O homem, é verdade, amaldiçoaria a Deus, mas então, bem, trata-se de um simples hábito, ele sempre foi um jovem impertinente, mas não tinha intenção de fazer mal; e além disso, nunca foi tão mentiroso como Fulano de Tal; e, na verdade, desprezava dizer uma mentira sobre qualquer assunto de negócios.
         Outro tem enganado os seus credores, mas era um homem tão simpático; e ainda que o pobre indivíduo nunca pudesse ter contas ou administrar assuntos de dinheiro, sempre tinha uma boa palavra para todo mundo. Se o homem imoral se sentasse para descrever o seu próprio caráter, e convocasse toda a parcialidade da que é capaz, diria: “sou um triste cão em alguns aspectos, semeando muitíssima aveia silvestre, mas tenho um bom caráter subjacente que, sem dúvida, manifestar-se-á algum dia, de tal maneira que o meu fim será brilhante e glorioso, apesar de tudo.”
         Este último ponto que sugeri é muito frequentemente a justiça dos homens que não têm outra, quer dizer, a sua intenção um destes dias é emendar-se e melhorar muito. Para compensar a presente pobreza de justiça sacam um crédito para o futuro. As suas promessas e resoluções são uma espécie de papel moeda, com o qual imaginam que podem comercializar durante toda a eternidade. “Não se faz isto frequentemente nos negócios”? Dizem eles: “Um homem que não tem um ingresso no presente pode ter um interesse hereditário numa propriedade; recebe antecipações sobre isso, por que não haveríamos de recebê-los nós?”
         O pecador patente tranquiliza assim a sua muito predisposta consciência com o quadro imaginário da sua emenda e arrependimento futuros, e começa a sentir-se meritório e desafia todas as ameaças da Palavra de Deus. Eu poderia estar falando com alguns para quem estas observações são muito aplicáveis, e se for assim, rogo-vos que sejais conduzidos a pensar seriamente.
         Ouvinte, precisas de saber, ou ao menos, uns quantos momentos sóbrios de reflexão te fariam saber que não há nenhuma verdade nas súplicas, nas desculpas e nas promessas com as quais aquietas agora a tua consciência; a tua paz está cimentada numa mentira e é sustentada pelo pai das mentiras.
         Enquanto continues quebrantando temerariamente as leis de Deus na tua vida ordinária, e comprazendo-te no pecado, tu estás sob a ira de Deus com toda certeza; e estás entesourando ira para o dia da ira, e quando a medida da tua iniquidade estiver colmatada, então receberás a terrível recompensa da transgressão. O Juiz de toda a Terra fará o pagamento efetivo em relação às tuas vãs pretensões que agora embrutecem a tua consciência. Ele não é um homem que possa ser adulado como tu te adulas e te enganas a ti mesmo.
         Não terias a insolência de Lhe dizer a Ele as tuas desculpas. Terias a coragem de te ajoelhar agora para falares com o grandioso Deus do Céu, e dizer-Lhe todas estas coisas boas com as quais estás agora aplainando as dificuldades no teu caminho ladeirento? Espero que não tenhas chegado a um declive tão descarado de insolência como esse, mas, se o tens feito, permite-me recordar-te essa segunda frase do meu versículo: “O SENHOR pesa os espíritos.” Uma balança justa e veraz será empregue contigo brevemente.

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