C. H. Spurgeon
I. OS CAMINHOS DOS HOMENS ABERTAMENTE MALVADOS são
limpos na sua própria opinião, porém, o SENHOR pesa os seus espíritos.
À
primeira vista, esta declaração pareceria ser precipitada. Não serão o bêbado,
o blasfemo, o quebrantador do dia de guarda, limpos em sua própria opinião?
Salomão era um profundo estudioso da natureza humana, e podeis estar seguros de
que quando ele escreveu esta frase sabia o que escrevia. Os maiores
conhecedores da humanidade dir-vos-ão que a justiça própria não é um pecado
peculiar do virtuoso, mas que, muito surpreendentemente, floresce onde
pareceria que haveria um chão pouco propício para ele. Esses homens, que
evidente e claramente, não têm qualquer justiça com a qual se pudessem
glorificar, segundo o juízo dos seus semelhantes, são precisamente as pessoas,
que quando te pões a esquadrinhar na profundidade da sua natureza, confiam numa
bondade imaginária com a qual sonham e na qual se apoiam.
Tomai
por um momento as pessoas visivelmente imorais e começai a falar-lhes dos seus
pecados e descobrireis que estão acostumadas a falar das suas faltas sob nomes
muito diferentes dos que a Escritura e a reta razão usariam. Essas pessoas não
chamam à bebedeira, “bebedeira”, por exemplo, mas sim é, “tomar um copo.” Não
advogariam, nem por momento, por uma clara blasfêmia, mas redefinem-na como:
“uma linguagem forte, que um indivíduo tem de usar, se tiver de seguir
adiante”, ou é simplesmente, “deixar escapar uma palavra mais ou menos feia
porque foi muito mortificado.”
Eles
disfarçam para si mesmos o vício como prazer; etiquetam a imundície como
alvoroço, a sua obscenidade como atordoamento. Falam dos seus pecados como se
não houvesse neles uma gravidade, como sendo só bagatelas ligeiras como o ar, e
se estiverem moralmente condenáveis em tudo, isso são temas para o látego feito
de plumas do ridículo mais do que para o açoite da condenação.
Além
disso, a maioria deles argumentará que não são tão maus como os demais. Há um
ponto especial no seu caráter no qual não vão mais longe do que alguns dos seus
semelhantes, e este é um ponto grandioso e um enorme consolo para eles.
Confessam que são pecadores, sem querer dizê-lo nem por um instante; e se
chegasses a pontos específicos e aos pormenores, se eles tiverem uma disposição
mental honesta, em que retrocederão passo a passo, admitindo falta após falta,
até chegarem a um ponto particular onde se plantam com virtuosa indignação.
“Aqui estou exatamente além de toda censura, e inclusive aqui mereço um louvor.
Até aqui chegou o meu pecado, porém, quão
completamente puro de coração tenho de ser, para que jamais permita o seu
avanço para diante!” Esta frase jactanciosa é frequentemente tão singular e
misteriosa no seu sentido, que ninguém, a não ser o próprio homem pode ver
alguma razão ou consistência nela; e o satírico que dispara contra a necedade
quando esta voa, encontra abundantes alvos para suas flechas.
Sem
embargo, para esse homem, deter-se ali é a cláusula salvadora da sua vida; olha
para isso como a tábua de salvação do seu caráter. A mulher cujo caráter
desapareceu há muito tempo, mas que se gaba de que há um limite para a sua
libertinagem, o que é um mérito no seu apreço, tem mérito suficiente para fazer
com que todos os seus caminhos sejam limpos, na sua própria opinião.
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