sábado, 3 de novembro de 2012

“UMA CHAMADA AO ARREPENDIMENTO” (2)



        
por Charles Haddon Spurgeon.
 “Todos aqueles, pois, que são das obras da Lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei, para fazê-las.” (Gl 3:10)

I. Então, em primeiro lugar, estamos para JULGAR O PRISIONEIRO.
         O versículo diz: “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para fazê-las.” Homem não convertido, és culpado ou não és culpado? Tens permanecido “em todas as coisas escritas no livro da Lei, para fazê-las”? Parece-me que não te atreverias a declarar-te: “inocente.” Mas, vou supor, por um momento, que és suficientemente audaz para fazê-lo. Assim, então, meu amigo, queres sustentar que permaneceste “em todas as coisas escritas no livro da Lei.” Decerto a simples leitura da Lei deveria ser suficiente para te convencer que estás completamente equivocado. Acaso sabes o que é a Lei? Vamos, vou dar-te o que poderia chamar-se uma pincelada exterior da Lei, mas recorda que dentro dela há um espírito mais profundo, não expressado por simples palavras.
         Escuta estas palavras da Lei: “Não terás deuses alheios diante de mim.” O quê! Não amaste jamais alguma outra coisa mais do que Deus? Nunca fizeste um Deus do teu ventre, ou do teu negócio, ou do tua família, ou da tua própria pessoa? Oh!, certamente não te atreverias a dizer que és inocente nisto. “Não farás imagem, nem nenhuma semelhança do que esteja em cima no céu, nem abaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” O quê! Nunca na tua vida puseste algo em lugar de Deus? Se tu não o tens feito, eu sim, e muitas vezes. E eu sei que se a tua consciência falasse com sinceridade, dir-te-ia: “Homem, tu tens sido um adorador das riquezas, tu tens sido um adorador do ventre, tens-te inclinado diante do ouro e da prata; tens-te prostrado diante da honra, tens-te inclinado perante o prazer, tens feito deus da tua bebedeira, um deus da tua concupiscência, um deus da tua imundície, um deus dos teus prazeres!” Atrever-te-ias a dizer que jamais tomaste o nome de Jeová, teu Deus, em vão? Se nunca juraste profanamente, provavelmente na conversação comum, tens feito uso algumas vezes do nome de Deus, quando não deverias havê-lo feito. Responde: Santificaste sempre esse santíssimo nome? Nunca nomeaste Deus sem necessidade? Acaso nunca leste o Seu livro com um espírito frívolo? Nunca ouviste o Seu Evangelho sem a devida reverência? Provavelmente és culpado disto. E quanto ao quarto mandamento, relativo a guardar o dia de repouso: “Lembra-te do dia de repouso para santificá-lo.” Alguma vez o quebrantaste? Oh, cala a boca e confessa-te culpado, pois estes quatro mandamentos seriam suficientes para te condenar!
         “Honra a teu pai e a tua mãe.” Dir-me-ás que guardaste esse mandamento? Acaso nunca foste desobediente na tua juventude? Nunca espezinhaste o amor da tua mãe, e nunca pugnaste com as chamadas de atenção, do teu pai? Passa as páginas da tua história até chegares à tua infância: vê se não podes comprovar que já está escrito ali; ai, e a tua maturidade poderia confessar que nem sempre falaste a teus pais como devias, e nem sempre os trataste com essa honra que mereciam, e que Deus te mandou que lha desses. “Não matarás”; talvez não tenhas matado a ninguém alguma vez, porém, por acaso, nunca te irritaste? Qualquer que se irrita contra o seu irmão é um assassino; tu és culpado nisto. “Não cometerás adultério.”
         Talvez tenhas realizado atos imundos e neste preciso dia estás manchado de lascívia; mas, se tiveres sido muito casto, estou seguro que não estás isento de culpa, quando o Senhor diz: “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” Acaso nenhum pensamento lascivo tem atravessado pela tua mente? Acaso nenhuma impureza tem sacudido a tua imaginação? De certeza que se te atrevesses a afirmá-lo, serias um desavergonhado impudico. E, por acaso, nunca roubaste? “Não furtarás”: talvez estejas hoje aqui, no meio da multidão, com o produto do teu roubo; cometeste esse ato; perpetraste um roubo; mas, se tens sido muito honesto, houve momentos nos quais hás sentido uma inclinação a defraudar o teu vizinho, até poderão ter existido algumas pequenas fraudes, ou talvez algumas mais graves que cometeste secreta e silenciosamente, nas quais a Lei civil não te pôde lançar a mão, mas, que, não obstante, foram um quebrantamento desta Lei. E, quem se atreveria a afirmar que nunca prestou falso testemunho contra o seu próximo?      Acaso, nunca repetimos alguma vez, alguma história que tenha sido em detrimento do nosso vizinho e que era falsa? Acaso, alguma vez interpretamos mal os seus motivos? Acaso nunca entendemos sinistramente os seus planos? E, quem de nós se atreveria a dizer que é inocente do último mandamento: “Não cobiçarás”? Pois todos desejamos ter mais do que Deus nos deu; e, às vezes, o nosso coração extraviado cobiçou coisas que o Senhor não nos concedeu. Vamos, se nos declararmos inocentes, estaríamos anunciando a nossa própria insensatez; pois, na verdade, meus irmãos, a simples leitura da Lei é suficiente, se somos abençoados pelo Espírito, para conduzir-nos a declarar-nos: “Culpados, oh Senhor, culpados.”

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