John Wesley
“Guardai-vos dos
falsos profetas, que vêm a vós com vestes de ovelhas, mas por dentro são lobos
vorazes” (Mateus 7:15).
I
1. Vamos investigar primeiro, quem são esses falsos profetas – e,
é necessário que o façamos com a maior diligência, visto que esses mesmos
homens manobram no sentido de “torcer esta Escritura para sua perdição” e para
a perdição dos outros. Para obviar toda controvérsia, não levantarei cortina de
fumaça (como é costume de alguns), nem usarei de exclamações esvoaçantes e
retóricas, para iludir o coração dos simples; quero dizer verdades rudes e
nuas, de modo que ninguém possa negar que tenha entendido. Quero dizer verdades
que guardem a mais estreita relação com todo o teor do precedente sermão, visto
que muitos interpretaram aquelas palavras sem nenhuma atenção ao que vem antes
delas, como se não se prendessem, logicamente ao discurso em cujo final
aparecem.
2. Por profetas (aí e em muitas outras
passagens da Escritura, especialmente do Novo Testamento), entende-se, não os
que predizem acontecimentos futuros, mas os que falam em nome de Deus; homens
que pretendem ser enviados de Deus, para ensinar aos outros o caminho do céu.
São falsos os profetas que ensinam um caminho falso para o céu, um caminho que
não leve até lá ou os que não ensinam a verdade (o que, afinal, vem a chegar ao
mesmo resultado).
3. Toda estrada larga é infalivelmente falsa.
Logo, clara e certa é a seguinte regra: “Os que ensinam aos homens a estrada
larga, uma estrada muito frequentada, são falsos profetas”.
Mais: O
verdadeiro caminho dos céus é estreito. Daí resulta outra regra singela e
segura: “Os que não ensinam aos homens o caminho estreito, único, são falsos
profetas”.
4. Particularmente: o único caminho dos céus
é o apontado no sermão precedente. Em consequência, são falsos os profetas os
que não ensinam aos homens o modo de andarem por esse caminho.
Ora, o
caminho dos céus, apontado no precedente sermão, é o caminho da pobreza, da
compunção, da humildade, dos desejos santos, do amor de Deus e do próximo,
levando a fazer o bem e a sofrer o mal pelo nome de Cristo. São, portanto,
falsos profetas os que apresentam outra vereda como sendo o caminho dos céus.
5. Não importa o nome que apliquem a esse
outro caminho. Podem chamá-lo fé; ou boas obras; ou arrependimento, fé e nova
obediência. Todas estas palavras são excelentes; mas se, debaixo delas, ou de
quaisquer outros vocábulos, eles ensinam aos homens qualquer caminho diferente
do que foi proposto, são, indubitavelmente, os que assim ensinam, falso
profetas.
6. Mais do que esses, caem debaixo da
condenação os que falam mal do bom caminho; mas, acima de tudo, os que ensinam
justamente o caminho oposto, o caminho do orgulho, da leviandade, da paixão,
dos desejos mundanos, do amor ao prazer mais do que a Deus, da crueldade para
com o próximo, do desprezo às boas obras e da incapacidade de sofrer qualquer
mal ou perseguição por causa da justiça!
(continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário