Estas,
certamente, são expressões muito notáveis. Em vão procuraremos aqui os suspiros
de um espírito contrito e quebrantado. Não há sinais de nenhum aborrecimento
próprio, nem muito menos de uma desconfiança em si mesmo. Expressões que
manifestem consciência de debilidade ou de insignificância, brilham pela sua
ausência. Só no decurso deste capítulo, Job menciona-se a si mesmo mais de
quarenta vezes, enquanto que os seus pensamentos não se dirigem a Deus mais do
que cinco vezes. Este constante predomínio do eu faz-nos recordar o capítulo
sete de Romanos “Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei),
que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher
que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas,
morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido,
será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está
da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos,
também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de
outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para
Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela
lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora temos
sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos;
para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra. Que
diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão
pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a
concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. E eu, nalgum tempo,
vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri. E o
mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. Porque o pecado,
tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou. E assim a lei
é santa, e o mandamento santo, justo e bom. Logo tornou-se-me o bom em morte?
De modo nenhum; mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a
morte pelo bem; a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente
maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido
sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço,
mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei,
que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que
habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu
faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho
então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos
meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me
prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que
eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus
Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus,
mas com a carne à lei do pecado.” (Rm 7:1-25 ACF); mas há que assinalar uma
importantíssima diferença, a saber, que no capítulo sete de Romanos, o eu é uma
pobre, débil, imprestável e miserável criatura que se acha em presença da santa
lei de Deus; enquanto que em Job 29, o eu é um personagem de destacada
importância e influência, um personagem admirado e quase adorado pelos seus
semelhantes.
(extraído de NO CAMINHO DE JESUS)
Tradução de Carlos António da Rocha
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