“Como está
escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de
escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido.” (Rm 9:33)
Enquanto o judeu recolhia o seu manto de franjas
estendidas e chamava a Cristo “pedra de tropeço”, o grego marchava para o seu
templo clássico ou para a sua academia científica, e gritava: “Disparate! Os
homens que falam assim devem estar loucos!” Em todo o tempo, inclusive até na
nossa época, sempre que Cristo é pregado, o coração humano tem sido instigado
imediatamente à ira contra Ele. O embaixador de Deus tem encontrado homens
relutantes a receber a paz por ele proclamada. O amado Filho de Deus, que não
veio senão com palavras de misericórdia e ternura, foi aborrecido e rejeitado
pelos próprios homens a quem veio para abençoar. “Veio para o que era Seu, e os
Seus não o receberam.”
Não obstante, nós temos pouco a ver com essas
épocas passadas — temos a ver muito mais com o presente e conosco mesmo. E é
uma coisa triste saber que no meio desta assembleia, ainda que suponho que nos
autodenominamos Cristãos, há muitas pessoas para quem Cristo é ainda pedra de
tropeço e rocha de escândalo. É um fato lamentável que há centenas de milhares
de pessoas em Londres para quem o Evangelho de Cristo é tão pouco conhecido
como dos hindus ou dos tártaros, Cristo não é uma pedra de tropeço para estes —
pois não O conhecem e, portanto, não têm a culpa que alguns de vós tendes — por
terdes ouvido Dele e rejeitá-Lo.
No meio da presente assembleia há alguns que
tropeçam em Cristo por causa da Sua santidade. Ele é demasiado estrito para
eles. Eles queriam ser Cristãos mas, não querem renunciar aos seus prazeres
sensuais. Eles quereriam ser lavados no Seu sangue, mas desejam ainda
rebolar-se no atoleiro do pecado. Há muitas pessoas que estariam
suficientemente dispostas a receber a Cristo se, depois de O receber, pudessem
continuar com a sua bebedeira, com a sua devassidão e com o seu comodismo.
Porém, Cristo deita o machado à raiz das árvores—Ele diz-lhes que terão de
renunciar a tudo isto— “porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os
filhos de desobediência”, e, além disso, “sem santidade ninguém verá o Senhor.”
A natureza humana se levanta contra isto. “Como?
Não poderei gozar-me de alguma lascívia favorita? Não poderei desfrutar destas
coisas, ao menos, de vez em quando? Tenho de abandonar, por completo, os meus
velhos hábitos e os meus antigos caminhos? Tenho de ser feito uma nova criatura
em Cristo Jesus?” Estes são termos muito duros, são condições muito severas, e
assim, o coração humano regressa às panelas de carne do Egito e agarra-se ao
alho e às cebolas do antigo estado de servidão, e não quer ser libertado nem
através de um maior que Moisés que eleva a vara para dividir o mar, e promete
dar-lhe Canaã, donde flui leite e mel. Cristo ofende os homens porque o Seu
Evangelho é intolerante com o pecado.
Outros tropeçam com o nosso bendito Senhor porque
não gostam do plano de ser salvos inteira e unicamente por meio da fé. Há
algumas dessas pessoas aqui? Eu suponho que haverá algumas. Elas dizem: “O quê?
As nossas boas obras não valem nada? Não há nada que possamos fazer para ajudar
na nossa salvação? Dize-nos que o que justifica a alma é confiar unicamente em
Cristo, sem nada mais. Então não o entendemos, ou ainda que o entendêssemos,
nós não gostamos.” Isto é demasiado humilhante, demasiado simples, demasiado
fácil. “Por quê”, diz o homem que sempre tem assistido na igreja da sua
paróquia ou na sua casa de reunião, que não deve nada a ninguém e que é
generoso para com os pobres— “Por que então a minha posição não é nada melhor
que a da prostituta, que percorre as ruas, à meia-noite! Ou que a do ladrão que
cumpre o seu mês de castigo, em trabalhos forçados.”
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