CAPÍTULO
7
Veremos agora a Glória de Cristo a qual
se seguiu aos seus sofrimentos. Esta é a mesma glória que Ele teve com o Pai
antes da fundação do mundo. Cristo orava para que os Seus discípulos estivessem
com Ele e vissem a Sua glória (Jo 17:5, 24). Enquanto que Ele esteve neste
mundo na forma de um servo, esta glória estava velada. Quando há um eclipse de
Sol, a sua beleza, luz e glória deixam de ver-se por um tempo, e assim, a plena
formosura, luz e glória de Cristo foram temporalmente eclipsadas enquanto Ele
esteve na Terra. Não obstante, a Sua glória será vista com gozo inefável e
maravilhoso por aqueles que estarão com Ele no Céu.
A “glória de Cristo” na Sua exaltação, não é a glória
essencial da Sua natureza divina, mas a revelação dessa glória depois de que
ela havia estado oculta neste mundo sob a “forma de um servo”. A glória divina
em si mesma não pertence à exaltação de Cristo, mas a revelação desta glória é
a que pertence a esta exaltação. Esta glória tão-pouco consiste simplesmente da
glorificação da Sua natureza humana, ainda que isto está incluído na Sua
exaltação.
A mesma natureza que Cristo tomou na Sua encarnação é agora
exaltada em glória. É obvio que não podemos compreender com plenitude, a
verdadeira natureza da glorificação da humanidade de Cristo, como tão-pouco
compreendemos plenamente o que seremos nós no Céu (1Jo 3:2). Mas o fato de que
é a mesma natureza humana que Ele teve na Terra e o mesmo corpo em que Ele
nasceu, viveu, morreu e ressuscitou, é uma crença fundamental da fé cristã.
Esta natureza do homem Cristo Jesus está cheia com todas as
graças divinas e perfeições das quais a limitada natureza humana é capaz de encher-se.
Mas não está misturada com a Sua natureza divina, nem tão-pouco foi deificada.
A Sua natureza humana não tem nenhuma propriedade essencial da deidade que lhe
tenha sido comunicada a ela. A Sua natureza humana não foi feita omnisciente,
omnipresente nem omnipotente, mas foi exaltada muito por cima da glória dos
anjos e dos homens. Está mais perto de Deus; goza de mais comunhão com Deus, de
mais gloriosa luz, amor e poder divinos que do qualquer anjo ou homem. Sem
embargo, Ele é humano.
Os crentes também terão
uma natureza humana glorificada no Céu: “Seremos semelhantes a Ele, porque O
veremos tal como Ele é” (1Jo 3:2). Mas, a nossa natureza humana glorificada não
será tão gloriosa como a Dele. “Uma é a glória do Sol, outra a glória da Lua, e
outra a glória das estrelas, pois uma estrela é diferente de outra em glória”
(1Co 15:41).
Existe uma diferença de
glória entre as estrelas, uma diferença ainda maior existe entre o Sol e as
estrelas. Tal será a diferença entre a natureza humana glorificada de Cristo e
a natureza humana glorificada dos crentes na eternidade.
Em que consiste a glória de Cristo na Sua exaltação?
Consiste do seguinte:
1. A exaltação da Sua
natureza humana em união com a natureza divina muito por cima de toda a criação
em poder, dignidade, autoridade e senhorio. Isto é o que faz a pessoa de Cristo
gloriosa.
2. Deus o Pai deu-Lhe a
maior glória e a maior dignidade que podem ser dadas a uma criatura quando O
fez sentar à Sua destra na majestade nas alturas. Deus fez isto por causa do
Seu infinito amor para com Cristo e o Seu deleite no que Cristo tem feito como
mediador entre Deus e os homens.
3. A isto se acrescenta
a plena manifestação da Sua própria sabedoria, o Seu amor e a Sua graça divinas
na obra de mediador e redentor da Igreja. Isto pode ser visto aqui na Terra
somente por meio da fé, mas no Céu brilha em todo o Seu fulgor para o gozo
eterno daqueles que O contemplam. Esta é aquela glória que Cristo pedia na Sua
oração que os crentes desfrutassem. A glória que Cristo possui no Céu
atualmente pode ser entendida somente pela fé. Pessoas néscias, usando as suas
próprias imaginações humanas têm procurado representar esta glória por meio de
imagens, de pinturas e de esculturas. Esta é a maneira pela qual a Igreja
Católica apresenta a glória de Cristo à mente e aos corações não espirituais,
de pessoas supersticiosas. Mas equivocam-se, não conhecendo as Escrituras, nem
a glória eterna do Filho de Deus. Não devemos tratar de imaginar a imagem de
uma pessoa gloriosa no Céu, mas, sim, devemos usar a fé para meditar na
descrição da glória de Cristo que temos nas Escrituras.
Não devemos pôr o
pretexto de que teremos tempo suficiente para considerar esta glória quando
chegarmos ao Céu. Se não temos algum conhecimento pela fé desta glória de
Cristo aqui e agora, então quer dizer que não temos nenhum desejo real para
vê-la no Céu. Todos nós somos muito egoístas e nos contentamos com o fato de
que os nossos pecados foram perdoados e de que fomos salvos por Cristo. Mas a
nossa fé e o nosso amor deveriam estimularmos a pôr a Cristo e os Seus
interesses por cima de todo o resto.
Quem é agora rodeado
com glória e poder à destra da majestade nas alturas? É Aquele que foi pobre,
menosprezado, perseguido e morto para a nossa salvação. É o mesmo Jesus que nos
amou e Se deu a Si mesmo por nós e nos redimiu com o Seu próprio sangue. Se
realmente valorizamos o Seu amor e participamos dos benefícios que surgem
daquilo que Ele fez e sofreu, então somente nos resta regozijarmo-nos no Seu
presente estado de glória.
Bendito Jesus! Nada Te
podemos acrescentar, nem à Tua glória. Mas é o gozo de nossos corações que Tu
sejas exaltado tão gloriosamente à destra do Pai. Anelamos ver essa glória mais
plena e claramente como Tu oraste e promete que a veríamos.
Tradução de
Carlos António da Rocha
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