quinta-feira, 29 de agosto de 2013

“UMA CHAMADA AO ARREPENDIMENTO” (continuação)




 por Charles Haddon Spurgeon
Ah!, não há muito tempo, um homem que se tinha rido e se tinha zombado de mim muitas vezes, foi um domingo a Brighton, para passar esse dia numa excursão. Regressou nessa mesma noite para morrer! Na segunda-feira pela manhã, quando estava morrendo, a quem crêem que procurou? Necessitava que viesse o senhor Spurgeon! Necessitava do homem do qual sempre se tinha rido; necessitava que viesse e lhe ensinasse o caminho para o Céu, e lhe assinalasse o Salvador. E se bem que eu me alegrasse de ir, foi uma tarefa triste ter de falar com um homem que acabava de quebrantar o dia de repouso, e que tinha gasto o seu tempo ao serviço de Satanás, e tinha regressado a casa para morrer. E, efetivamente morreu, sem uma Bíblia no seu lar, sem que se oferecessem orações por ele, exceto a oração que eu ofereci junto ao seu leito.

Ah!, é estranho como a visão do leito de um moribundo pode ser bendita para estimular o nosso zelo. Há um ano, mais ou menos, estive junto do leito de um pobre moço, de aproximadamente dezasseis anos de idade, que tinha estado bebendo até provocar a sua morte, num episódio alcoólico que teve lugar uma semana antes. Quando lhe falei sobre o pecado e da justiça, e do julgamento vindouro, sei que tremeu, e pensei que se tinha aferrado a Jesus. Quando baixei as escadas, depois de orar por ele muitas vezes, e de procurar que ele olhasse para Jesus, e não tendo eu senão uma débil esperança da sua salvação final, pensei dentro de mim: Oh Deus!, quereria poder pregar cada hora, e a cada momento do dia, as inescrutáveis riquezas de Cristo; pois que coisa tão terrível é morrer sem um Salvador. E logo recordei quantas vezes tinha estado no púlpito, e não tinha pregado com o denodo com que devia ter pregado; como tenho narrado com frieza a história do Salvador, quando devia ter chorado correntes de lágrimas, com emoção entristecedora. Em muitas ocasiões fui para a minha cama, e chorei até ficar dormindo, porque não preguei como desejei, e acontecerá o mesmo esta noite. Mas, oh, a ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura!

Meus queridos ouvintes, os temas dos quais falo agora não são sonhos, nem fraudes, nem maluquices, nem velhas histórias de comadres. São realidades e logo as verificareis. Oh pecador, tu que não tens permanecido em todas as coisas escritas no livro da Lei; tu que não tens a Cristo; aproxima-se o dia quando estas coisas estarão diante de ti, como coisas reais, solenes e terríveis. E então; ah!, então; ah!, então, o que farás? “Como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo.” Oh, imaginai:

“A pompa desse tremendo dia,
Quando Cristo vier com as nuvens.”

Creio que vejo esse terrível dia. O sino do tempo tangeu o último dia. Agora vem o funeral das almas condenadas. O teu corpo acaba de se levantar da sepultura, e desatas a mortalha encerrada, e olhas para cima. O que é que eu vejo? Oh!, o que é que eu ouço? Ouço uma explosão tremenda e terrível, que sacode os pilares do Céu, e faz com que o firmamento se cambaleie de espanto; a trombeta, a trombeta, a trombeta do arcanjo sacode os últimos limites da criação. Olhas e ficas pasmado. Subitamente, escuta-se uma voz, e uns dão alaridos, e outros cantam hinos, Ele vem, Ele vem, Ele vem; todo olho O verá. Ali está; o trono apoia-se sobre uma nuvem, branca como o alabastro. Ali está sentado. “É Ele, o Homem que morreu no Calvário (vejo as Suas mãos trespassadas), mas, ah, quão modificado Ele está! Não tem uma coroa de espinhos. Esteve perante o tribunal do Pilatos, contudo agora a Terra inteira deve estar perante o Seu tribunal. Mas escutai! A trombeta soa outra vez: o Juiz abre o livro, há um silêncio no Céu, um solene silêncio: o Universo está quieto. “Junta os Meus escolhidos e os Meus redimidos dos quatro ventos do Céu.” Rapidamente são ajuntados. E como o brilho de um relâmpago, assim a asa de anjo divide a multidão. Aqui estão os justos todos congregados; e, pecador, lá estás tu, à esquerda, deixado de fora, entregue a suportar a sentença ardente da ira eterna. Escuta! As harpas do Céu tocam doces melodias; mas não te trazem nenhum gozo, enquanto os anjos estão repetindo as boas-vindas do Salvador aos Seus santos. “Vinde, benditos de Meu Pai, herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo.” Vós tivestes esse momento de pausa, e agora o Seu rosto está acumulando nuvens de ira, e o trovão está na Sua frente; olha-te a ti que o tens desprezado, a ti que te ludibriaste da Sua graça, que desprezaste a Sua misericórdia, a ti que quebrantaste o Seu dia de descanso, a ti que te zombaste da Sua cruz, a ti que não aceitaste que reinasse sobre ti; e, com uma voz mais forte que dez mil trovões, Ele clama: “Apartai-vos de mim, malditos.” E logo... não, não continuarei. Não falarei das chamas inextinguíveis. Não vou falar dos padecimentos do corpo, nem das torturas do espírito. Mas o Inferno é terrível; a condenação é aflitiva. Oh, escapa! Escapa! Escapa, para que, aí onde estás, não tenhas de aprender talvez o que significam os horrores da eternidade, no golfo da eterna perdição! “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.”

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