por Charles Haddon Spurgeon
Ah!, não há muito
tempo, um homem que se tinha rido e se tinha zombado de mim muitas vezes, foi
um domingo a Brighton, para passar esse dia numa excursão. Regressou nessa
mesma noite para morrer! Na segunda-feira pela manhã, quando estava morrendo, a
quem crêem que procurou? Necessitava que viesse o senhor Spurgeon! Necessitava
do homem do qual sempre se tinha rido; necessitava que viesse e lhe ensinasse o
caminho para o Céu, e lhe assinalasse o Salvador. E se bem que eu me alegrasse
de ir, foi uma tarefa triste ter de falar com um homem que acabava de
quebrantar o dia de repouso, e que tinha gasto o seu tempo ao serviço de
Satanás, e tinha regressado a casa para morrer. E, efetivamente morreu, sem uma
Bíblia no seu lar, sem que se oferecessem orações por ele, exceto a oração que
eu ofereci junto ao seu leito.
Ah!, é estranho como a
visão do leito de um moribundo pode ser bendita para estimular o nosso zelo. Há
um ano, mais ou menos, estive junto do leito de um pobre moço, de
aproximadamente dezasseis anos de idade, que tinha estado bebendo até provocar
a sua morte, num episódio alcoólico que teve lugar uma semana antes. Quando lhe
falei sobre o pecado e da justiça, e do julgamento vindouro, sei que tremeu, e
pensei que se tinha aferrado a Jesus. Quando baixei as escadas, depois de orar
por ele muitas vezes, e de procurar que ele olhasse para Jesus, e não tendo eu
senão uma débil esperança da sua salvação final, pensei dentro de mim: Oh
Deus!, quereria poder pregar cada hora, e a cada momento do dia, as
inescrutáveis riquezas de Cristo; pois que coisa tão terrível é morrer sem um
Salvador. E logo recordei quantas vezes tinha estado no púlpito, e não tinha
pregado com o denodo com que devia ter pregado; como tenho narrado com frieza a
história do Salvador, quando devia ter chorado correntes de lágrimas, com
emoção entristecedora. Em muitas ocasiões fui para a minha cama, e chorei até
ficar dormindo, porque não preguei como desejei, e acontecerá o mesmo esta
noite. Mas, oh, a ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura!
Meus queridos ouvintes,
os temas dos quais falo agora não são sonhos, nem fraudes, nem maluquices, nem
velhas histórias de comadres. São realidades e logo as verificareis. Oh
pecador, tu que não tens permanecido em todas as coisas escritas no livro da
Lei; tu que não tens a Cristo; aproxima-se o dia quando estas coisas estarão
diante de ti, como coisas reais, solenes e terríveis. E então; ah!, então; ah!,
então, o que farás? “Como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo,
depois disso, o juízo.” Oh, imaginai:
“A pompa desse tremendo
dia,
Quando Cristo vier com
as nuvens.”
Creio que vejo esse
terrível dia. O sino do tempo tangeu o último dia. Agora vem o funeral das
almas condenadas. O teu corpo acaba de se levantar da sepultura, e desatas a
mortalha encerrada, e olhas para cima. O que é que eu vejo? Oh!, o que é que eu
ouço? Ouço uma explosão tremenda e terrível, que sacode os pilares do Céu, e
faz com que o firmamento se cambaleie de espanto; a trombeta, a trombeta, a
trombeta do arcanjo sacode os últimos limites da criação. Olhas e ficas
pasmado. Subitamente, escuta-se uma voz, e uns dão alaridos, e outros cantam
hinos, Ele vem, Ele vem, Ele vem; todo olho O verá. Ali está; o trono apoia-se
sobre uma nuvem, branca como o alabastro. Ali está sentado. “É Ele, o Homem que
morreu no Calvário (vejo as Suas mãos trespassadas), mas, ah, quão modificado
Ele está! Não tem uma coroa de espinhos. Esteve perante o tribunal do Pilatos,
contudo agora a Terra inteira deve estar perante o Seu tribunal. Mas escutai! A
trombeta soa outra vez: o Juiz abre o livro, há um silêncio no Céu, um solene
silêncio: o Universo está quieto. “Junta os Meus escolhidos e os Meus redimidos
dos quatro ventos do Céu.” Rapidamente são ajuntados. E como o brilho de um
relâmpago, assim a asa de anjo divide a multidão. Aqui estão os justos todos
congregados; e, pecador, lá estás tu, à esquerda, deixado de fora, entregue a
suportar a sentença ardente da ira eterna. Escuta! As harpas do Céu tocam doces
melodias; mas não te trazem nenhum gozo, enquanto os anjos estão repetindo as
boas-vindas do Salvador aos Seus santos. “Vinde, benditos de Meu Pai, herdai o
reino preparado para vós desde a fundação do mundo.” Vós tivestes esse momento
de pausa, e agora o Seu rosto está acumulando nuvens de ira, e o trovão está na
Sua frente; olha-te a ti que o tens desprezado, a ti que te ludibriaste da Sua
graça, que desprezaste a Sua misericórdia, a ti que quebrantaste o Seu dia de
descanso, a ti que te zombaste da Sua cruz, a ti que não aceitaste que reinasse
sobre ti; e, com uma voz mais forte que dez mil trovões, Ele clama:
“Apartai-vos de mim, malditos.” E logo... não, não continuarei. Não falarei das
chamas inextinguíveis. Não vou falar dos padecimentos do corpo, nem das
torturas do espírito. Mas o Inferno é terrível; a condenação é aflitiva. Oh,
escapa! Escapa! Escapa, para que, aí onde estás, não tenhas de aprender talvez
o que significam os horrores da eternidade, no golfo da eterna perdição!
“Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da
Lei, para as fazer.”
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