quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Glória de Cristo como Mediador: III. A Sua Obediência



CAPÍTULO 6
JOHN 0WEN

Houve uma glória invisível em tudo o que Cristo fez e sofreu na Terra. Se as pessoas a tivessem visto, não teriam crucificado o Senhor de glória. Não obstante, essa glória foi revelada a alguns: os discípulos “viram a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1:14). Mas os outros “não viram nem formosura nem atrativo Nele” (Is 53:2) e assim é até ao dia de hoje. Agora consideraremos a glória da obediência de Cristo:
1. Cristo escolheu obedecer. Cristo disse: “Eis aqui venho para fazer a Tua vontade” (Hb 10:7), mas Cristo não estava sob nenhuma obrigação de fazer isto. Nós, como criaturas estamos sujeitos à Lei de Deus, queiramo-lo ou não. Mas Cristo não é como nós, posto que na Sua natureza divina Ele era o autor da Lei, estava por cima da Lei e em nenhum sentido sujeito às suas reclamações ou à sua maldição.
Na vontade disposta de Cristo a obedecer consiste a glória da Sua obediência. Por exemplo, João, o Batista, sabia que Jesus não tinha nenhuma necessidade de batizar-Se porque era impecável, mas Cristo disse: “Deixa agora, porque assim convém que cumpramos toda a justiça” (Mt 3:15). Ao ser batizado, Cristo identificou-Se voluntariamente com os pecadores.
2. A obediência de Cristo não foi para Ele mesmo, mas para nós, que estávamos obrigados a obedecer mas não podíamos. Cristo não estava obrigado a obedecer, mas por um ato livre da Sua própria vontade fê-lo. Deus deu-Lhe esta honra para que Ele obedecesse em lugar de toda a Igreja, a fim de que “pela obediência de um, muitos serão feitos justos.” (Rm 5:19). A obediência de Cristo seria aceite em lugar da nossa quanto à nossa justificação.
3. A obediência de Cristo a cada parte da Lei foi perfeita. A Lei foi gloriosa quando os Dez Mandamentos foram escritos pelo dedo de Deus. A Lei aparece ainda mais gloriosa quando é obedecida “de coração” pelos crentes. Mas é somente pela obediência absoluta e perfeita de Cristo que a santidade da Lei de Deus é vista em toda a sua glória. O Senhor de tudo, que tudo fez, viveu na obediência estrita a toda a Lei de Deus. Porque Ele era uma Pessoa Única, a Sua obediência possui uma glória única.
4. Cristo foi perfeitamente obediente apesar de muitas dificuldades e oposição. Ainda que não existisse Nele pecado que Lhe impedisse a Sua obediência (como acontece connosco), de qualquer forma, externamente teve de enfrentar-Se com muitas coisas que poderiam tê-Lo desviado do caminho da obediência. Toda a espécie de tentações, sofrimentos, acusações e contradições foram contra Ele, “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8).
5. A glória desta obediência consiste principalmente da pessoa por quem foi rendida a Deus. Ela foi nem mais nem menos do que o Filho de Deus feito homem. Ele, que fez o Céu, o Senhor de tudo, viveu no mundo não tendo nenhuma reputação nem glória terrestre, mas obrigou-Se a obedecer perfeitamente a toda a Lei de Deus. Ele, a Quem a oração é oferecida, orava Ele mesmo de dia e de noite. Ele, que é o objeto da adoração de todos os anjos do Céu e de todas as criaturas, cumpriu com todos os deveres que a adoração de Deus exige. Ele, que foi o Senhor e Dono de toda a casa, chegou a ser o servo mais humilde da Sua casa, cumpriu com todos os deveres mais humilhantes que isto implicou. Ele, que fez todos os homens e em Cujas mãos eles estão como a massa nas mãos do oleiro, observou entre eles as regras mais estritas da justiça dando a cada um o que lhe correspondia, e em amor deu boas dádivas a quem nada merecia. Isto é o que faz a obediência de Cristo tão misteriosa e gloriosa.
Agora, considerai a glória da obediência de Cristo manifestada nos Seus sofrimentos. Ninguém jamais pôde sondar as profundidades dos sofrimentos de Cristo. Devemos olhá-Lo como sob o peso da ira de Deus e também sob a maldição da Lei, tomando sobre si todo o castigo que Deus ameaçava contra o pecado e contra os pecadores. Vejamo-Lo na Sua agonia suando grandes gotas de sangue, no Seu clamor e lágrimas quando a tristeza da morte O encheu de horror ante a vista de todas as coisas que se aproximavam. Vejamo-Lo lutando com os poderes das trevas e com a ira e a loucura dos homens. Vejamo-Lo sofrendo na Sua alma, no Seu corpo, no Seu nome, na Sua reputação e na Sua vida. Alguns destes sofrimentos foram-Lhe diretamente impostos por Deus. Outros vieram dos demônios e dos homens malvados que atuaram segundo o determinado conselho e desígnio de Deus. Vejamo-Lo orando, chorando, clamando, sangrando, morrendo e fazendo da Sua alma uma oferenda pelo pecado (Veja Is 53:8).
“Oh profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus julgamentos, e inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33) Que por nós o eterno Filho de Deus Se submetesse a tudo o que os nossos pecados mereciam para que fôssemos redimidos! Quão glorioso deve ser então Cristo ante os olhos dos crentes redimidos!
Porque Adão pecou, ele e todos seus descendentes estão diante de Deus preparados para perecer sob a desaprovação divina. Perante esta circunstância, o Senhor Jesus vem aos pecadores com um convite: “Pobres criaturas, que triste é a vossa condição! O que aconteceu à formosura e beleza da imagem divina na qual fostes criados? Agora levais a imagem deformada de Satanás e ainda pior, a miséria eterna está esperando-vos. Porém, uma vez mais elevai os vossos olhos e olhai para Mim! Eu Me colocarei no vosso lugar. Levarei a carga de culpa e de castigo que vos afundaria no Inferno para sempre. Serei maldito temporariamente por vós, a fim de que vós possais ter a bem-aventurança eterna.”
Olhemos para glória de Cristo manifestada no Evangelho: Jesus Cristo é crucificado perante os nossos olhos (Veja-se Gl 3:1). Entenderemos as Escrituras só até ao ponto em que vejamos nelas o sofrimento e a glória de Cristo. A sabedoria do mundo não pode ver nisto mais do que loucura. Mas é nestes sofrimentos que podemos contemplar a glória de Cristo como nosso mediador. “Mas, se ainda o nosso Evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4:3-4).

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