CAPÍTULO
6
JOHN 0WEN
Houve
uma glória invisível em tudo o que Cristo fez e sofreu na Terra. Se as pessoas
a tivessem visto, não teriam crucificado o Senhor de glória. Não obstante, essa
glória foi revelada a alguns: os discípulos “viram a Sua glória, como a glória
do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1:14). Mas os outros “não
viram nem formosura nem atrativo Nele” (Is 53:2) e assim é até ao dia de hoje.
Agora consideraremos a glória da obediência de Cristo:
1. Cristo escolheu
obedecer. Cristo disse: “Eis aqui venho para fazer a Tua vontade” (Hb 10:7),
mas Cristo não estava sob nenhuma obrigação de fazer isto. Nós, como criaturas
estamos sujeitos à Lei de Deus, queiramo-lo ou não. Mas Cristo não é como nós,
posto que na Sua natureza divina Ele era o autor da Lei, estava por cima da Lei
e em nenhum sentido sujeito às suas reclamações ou à sua maldição.
Na vontade disposta de
Cristo a obedecer consiste a glória da Sua obediência. Por exemplo, João, o
Batista, sabia que Jesus não tinha nenhuma necessidade de batizar-Se porque era
impecável, mas Cristo disse: “Deixa agora, porque assim convém que cumpramos
toda a justiça” (Mt 3:15). Ao ser batizado, Cristo identificou-Se voluntariamente
com os pecadores.
2. A obediência de
Cristo não foi para Ele mesmo, mas para nós, que estávamos obrigados a obedecer
mas não podíamos. Cristo não estava obrigado a obedecer, mas por um ato livre
da Sua própria vontade fê-lo. Deus deu-Lhe esta honra para que Ele obedecesse
em lugar de toda a Igreja, a fim de que “pela obediência de um, muitos serão
feitos justos.” (Rm 5:19). A obediência de Cristo seria aceite em lugar da
nossa quanto à nossa justificação.
3. A obediência de
Cristo a cada parte da Lei foi perfeita. A Lei foi gloriosa quando os Dez
Mandamentos foram escritos pelo dedo de Deus. A Lei aparece ainda mais gloriosa
quando é obedecida “de coração” pelos crentes. Mas é somente pela obediência
absoluta e perfeita de Cristo que a santidade da Lei de Deus é vista em toda a
sua glória. O Senhor de tudo, que tudo fez, viveu na obediência estrita a toda
a Lei de Deus. Porque Ele era uma Pessoa Única, a Sua obediência possui uma
glória única.
4. Cristo foi
perfeitamente obediente apesar de muitas dificuldades e oposição. Ainda que não
existisse Nele pecado que Lhe impedisse a Sua obediência (como acontece
connosco), de qualquer forma, externamente teve de enfrentar-Se com muitas
coisas que poderiam tê-Lo desviado do caminho da obediência. Toda a espécie de
tentações, sofrimentos, acusações e contradições foram contra Ele, “Ainda que
era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8).
5. A glória desta
obediência consiste principalmente da pessoa por quem foi rendida a Deus. Ela
foi nem mais nem menos do que o Filho de Deus feito homem. Ele, que fez o Céu,
o Senhor de tudo, viveu no mundo não tendo nenhuma reputação nem glória
terrestre, mas obrigou-Se a obedecer perfeitamente a toda a Lei de Deus. Ele, a
Quem a oração é oferecida, orava Ele mesmo de dia e de noite. Ele, que é o
objeto da adoração de todos os anjos do Céu e de todas as criaturas, cumpriu
com todos os deveres que a adoração de Deus exige. Ele, que foi o Senhor e Dono
de toda a casa, chegou a ser o servo mais humilde da Sua casa, cumpriu com
todos os deveres mais humilhantes que isto implicou. Ele, que fez todos os
homens e em Cujas mãos eles estão como a massa nas mãos do oleiro, observou
entre eles as regras mais estritas da justiça dando a cada um o que lhe correspondia,
e em amor deu boas dádivas a quem nada merecia. Isto é o que faz a obediência
de Cristo tão misteriosa e gloriosa.
Agora, considerai a
glória da obediência de Cristo manifestada nos Seus sofrimentos. Ninguém jamais
pôde sondar as profundidades dos sofrimentos de Cristo. Devemos olhá-Lo como
sob o peso da ira de Deus e também sob a maldição da Lei, tomando sobre si todo
o castigo que Deus ameaçava contra o pecado e contra os pecadores. Vejamo-Lo na
Sua agonia suando grandes gotas de sangue, no Seu clamor e lágrimas quando a
tristeza da morte O encheu de horror ante a vista de todas as coisas que se
aproximavam. Vejamo-Lo lutando com os poderes das trevas e com a ira e a
loucura dos homens. Vejamo-Lo sofrendo na Sua alma, no Seu corpo, no Seu nome,
na Sua reputação e na Sua vida. Alguns destes sofrimentos foram-Lhe diretamente
impostos por Deus. Outros vieram dos demônios e dos homens malvados que atuaram
segundo o determinado conselho e desígnio de Deus. Vejamo-Lo orando, chorando,
clamando, sangrando, morrendo e fazendo da Sua alma uma oferenda pelo pecado
(Veja Is 53:8).
“Oh profundidade das
riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus
julgamentos, e inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33) Que por nós o eterno
Filho de Deus Se submetesse a tudo o que os nossos pecados mereciam para que
fôssemos redimidos! Quão glorioso deve ser então Cristo ante os olhos dos
crentes redimidos!
Porque Adão pecou, ele
e todos seus descendentes estão diante de Deus preparados para perecer sob a
desaprovação divina. Perante esta circunstância, o Senhor Jesus vem aos
pecadores com um convite: “Pobres criaturas, que triste é a vossa condição! O
que aconteceu à formosura e beleza da imagem divina na qual fostes criados?
Agora levais a imagem deformada de Satanás e ainda pior, a miséria eterna está
esperando-vos. Porém, uma vez mais elevai os vossos olhos e olhai para Mim! Eu
Me colocarei no vosso lugar. Levarei a carga de culpa e de castigo que vos
afundaria no Inferno para sempre. Serei maldito temporariamente por vós, a fim
de que vós possais ter a bem-aventurança eterna.”
Olhemos para glória de
Cristo manifestada no Evangelho: Jesus Cristo é crucificado perante os nossos
olhos (Veja-se Gl 3:1). Entenderemos as Escrituras só até ao ponto em que
vejamos nelas o sofrimento e a glória de Cristo. A sabedoria do mundo não pode
ver nisto mais do que loucura. Mas é nestes sofrimentos que podemos contemplar
a glória de Cristo como nosso mediador. “Mas, se ainda o nosso Evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século
cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do
Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4:3-4).
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