terça-feira, 11 de setembro de 2012

A GLÓRIA DE CRISTO (2) John Owen


A glória de Cristo como a única manifestação de Deus para os crentes

         A glória de Deus surge desde a Sua natureza santa e das coisas excelentes que Ele faz.
Mas só podemos ver esta glória por meio de olhar para Cristo Jesus (2Co 4:6) Cristo é “O resplendor da Sua glória” e “Ele é a imagem do Deus invisível” (Hb 1:3; Cl 1:15). Ele mostra-nos a natureza gloriosa de Deus e revela-nos a Sua vontade para nós. Sem Cristo nunca poderíamos ver Deus nem agora, nem no futuro (Veja-se Jo 1:18). Cristo e o Pai são um. Quando Cristo Se fez homem, manifestou a glória de Seu Pai. Somente Cristo dá a conhecer aos homens e aos anjos a glória do Deus invisível. Esta revelação é o fundamento sobre o qual a Igreja se edifica e a base de todas as nossas esperanças de salvação e de vida eterna. Aqueles que pela fé não podem ver esta glória de Cristo, não conhecem Deus. São como aqueles judeus e gentios incrédulos do tempo antigo. “Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1Co 1:22-24).
         Desde que a pregação do Evangelho começou, o grande propósito do Diabo foi cegar os olhos dos homens para que não vejam a glória de Cristo. “Mas, se ainda o nosso Evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (2Co 4:3-4) Esta cegueira e trevas são tiradas naqueles que crêem no poder omnipotente de Deus. “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.” (2Co 4:6)
         Uma grande parte da miséria e do castigo contra a humanidade, por causa da queda de Adão, foram as densas trevas e a ignorância com as quais a mente humana foi coberta desde esse tempo. Os homens e as mulheres têm-se jactado de ser sábios, mas a sua sabedoria não os conduziu para Deus (Veja 1Co 1:21 e Rm 1:21). Os raciocínios dos “filósofos” e dos “entendidos” acerca das coisas invisíveis que estão para lá do entendimento humano não têm salvado a humanidade da idolatria e da prática de toda a espécie de pecados. Satanás é o príncipe das trevas e tem imposto o seu reino de trevas na mente dos homens, mantendo-os na ignorância de Deus. Toda a iniquidade e confusão entre os seres humanos procedem destas trevas e da ignorância de Deus. Deus poderia ter-nos deixado perecer na cegueira e na ignorância dos nossos antepassados, mas trouxe-nos das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pe 2:9).
         A glória especial e os privilégios de Israel consistiram em possuir a revelação de Deus (A Palavra de Deus). “Mostra a Sua palavra a Jacob, os Seus estatutos e os Seus juízos, a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação.” (Sl 147:19-20) Não obstante, Deus falou-lhes desde as densas nuvens, porque não podiam compreender a glória que posteriormente tinha de ser conhecida por meio Cristo. (Ex 20:21; Dt 5:22) Quando Cristo veio, foi manifesto que “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1Jo 1:5). Quando o Filho de Deus apareceu em carne humana, Deus manifestou que a natureza divina era uma natureza gloriosa de três Pessoas numa (uma Trindade). A luz deste conhecimento resplandeceu no meio das trevas do mundo de tal maneira que ninguém poderia continuar sendo ignorante acerca de Deus exceto aqueles que não queriam ver. (Veja-se Jo 1:5, 14, e 17-18; 2Co 4:3-4). A glória de Cristo é que Ele revela a verdade acerca da natureza invisível de Deus.
         Quando cremos pela primeira vez, vemos Deus, o Pai, em Cristo. Não temos que fazer a petição que Filipe fez. “Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta” porque havendo visto Cristo pela fé, já temos visto o Pai também (Jo 14:8-9). David anelava esta visão: “Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei; a minha alma tem sede de Ti; a minha carne Te deseja muito ... para ver a Tua fortaleza e a Tua glória, como Te vi no santuário.” (Sl 63:1-2). No tabernáculo havia só uma representação obscura da glória de Deus. Quanto mais deveríamos nós valorizar a visão que temos dela, ainda que seja “como um espelho”! (2Co 3:18). Moisés havia visto muitas obras maravilhosas de Deus, mas ele sabia que a satisfação verdadeira consistia em ver a glória de Deus. Por isso orava: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Ex 33:18). É somente em Cristo que podemos ter uma visão clara e distinta da glória de Deus e das suas excelências.
         A sabedoria infinita é uma parte da natureza divina e a fonte de todas as obras gloriosas de Deus. “Mas onde se achará esta sabedoria?” (Jó 28:12) Podemos ver esta sabedoria através dos seus resultados e do seu maior efeito; quer dizer, a salvação da Igreja. O Apóstolo Paulo foi chamado a “demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou; para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus” (Ef. 3:9-10). A sabedoria divina manifestada no mundo físico, ainda que seja muito grande, é pequena comparada com a sabedoria de Deus dada a conhecer em Cristo Jesus. Mas somente os crentes veem esta sabedoria de Deus em Cristo; os incrédulos não a podem ver (Veja 1Co 1:22-24). Se formos suficientemente sábios para ver esta sabedoria claramente, teremos “gozo inefável e glorioso” (1Pe 1:8).
         Devemos considerar também o amor de Deus como parte desta natureza divina, “porque Deus é amor” (1Jo 4:8). As melhores ideias humanas acerca de Deus são imperfeitas e afetadas pelo pecado. Eles pensam que Deus é “todo bondade” e que é parecido aos homens (Veja-se Sl 50:21). Aqueles que não conhecem Cristo não se precatam de que, ainda que Deus é amor, a Sua ira “do Céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens” (Rm 1:18). Então, como poderemos conhecer o amor de Deus e ver a Sua glória no dito amor? O Apóstolo diz-nos: “Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco: que Deus enviou o Seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos.” (1Jo 4:9). Esta é a única evidência a nós revelada que Deus é amor. Estaríamos ainda em completa escuridão se o Filho de Deus não tivesse vindo para nos manifestar a verdadeira natureza e atividade do amor divino. Agora podemos ver quão formoso, glorioso e desejável é Cristo, como Aquele que nos ensina que Deus é amor.
         Vendo esta glória que é a única maneira como podemos obter santidade, consolo e preparação para a glória eterna. Portanto, considere o que Deus deu a conhecer acerca de Si mesmo em Seu Filho, especialmente a Sua sabedoria, amor, bondade, graça e misericórdia. A vida das nossas almas depende destas coisas. Posto que o Senhor Jesus Cristo é o único caminho revelado para receber estas bênçãos, quão extremamente glorioso deveria ser Ele perante os olhos dos crentes!
         Há alguns que veem Cristo só como um grande professor, mas não como a única manifestação do Deus invisível. Mas se tu tens um desejo para com as coisas celestiais, pergunto-te: Por que amas Cristo e confias Nele? Por que O honras e desejas estar com Ele no Céu? Podes tu dar uma razão de por que fazes estas coisas? Uma das razões é o fato de que tu vejas a glória de Deus no plano da salvação, (glória que de outro modo te haveria estado oculta eternamente)? Há uma profecia de que nos tempos do Novo Testamento os nossos “olhos verão o Rei na Sua formosura” (Is 33:17). Qual é a formosura de Cristo? Consiste que Ele é Deus e que Ele é a grande representação da glória de Deus para nós. Quem pode descrever a glória deste privilégio? Que nós que nascemos na escuridão e na ignorância e que merecíamos ser lançados às trevas exteriores, tenhamos sido atraídos à maravilhosa “luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo “! (2Co 4:6)

         A incredulidade cega os olhos do entendimento de muitas pessoas. Ainda que entre os que dizem ter conhecimento de Cristo, há muito poucos que entendem a Sua glória e que são transformados à Sua semelhança. Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos fariseus que, não obstante a sua jactância de possuir o conhecimento de Deus, “vós nunca ouvistes a Sua voz, nem vistes o Seu parecer.” (Jo 5:37) Quer dizer, que não O conheciam realmente e que não tinham uma visão espiritual da Sua glória. Ninguém jamais chegará a ser semelhante a Cristo simplesmente imitando as Suas obras e ações ou possuindo um conhecimento intelectual Dele.    Somente uma experiência da glória de Cristo tem poder para fazer um crente semelhante a Ele. A verdade é que os melhores de entre os crentes são muito negligentes para dedicar muito tempo à meditação deste assunto. Os pensamentos acerca da glória de Cristo são muito altos e muito difíceis para nós. Não podemos deleitar-nos neles por muito tempo sem nos sentirmos cansados e obstaculizados neste trabalho; e não obstante, ver a glória de Cristo é o que faremos no Céu por toda a eternidade sem qualquer cansaço. O que agora nos obstaculiza é a nossa falta de espiritualidade e o fato de que os nossos desejos e pensamentos se ocupam de outras coisas. Se nos animássemos mais para contemplarmos “as coisas que os anjos desejam bem atentar” (1Pe 11:12), o nosso entendimento e força espiritual se incrementariam em cada dia. Então, manifestaríamos mais da glória de Cristo pela nossa maneira de viver, e ainda a própria morte seria bem-vinda!
         Há pessoas que dizem que não entendem estas coisas. Além disso, dizem que tal entendimento da glória de Cristo não é necessário para viver a vida cristã prática. A minha resposta a esta objeção é a seguinte:
         1. Não há nada mais plena e claramente revelado no Evangelho do que o fato de que Jesus Cristo é a manifestação do Deus invisível, e que ao vê-lO a Ele, também vemos o Pai. Esta é a verdade e o mistério fundamental do Evangelho. Se esta verdade essencial não é recebida e crida, todas as demais verdades bíblicas são inúteis para as nossas almas. Se aceitarmos a Cristo só como um grande professor, mas não aceitamos a verdade do seu caráter único e divino, então todo o Evangelho se converte numa fábula.
         2. A razão principal pela qual a fé nos foi dada é a fim de que vejamos a glória de Deus em Cristo e meditando nela sejamos afetados. Se não possuímos este entendimento (o qual é dado pelo poder de Deus a todos aqueles que creem), não conheceremos coisa alguma do mistério do Evangelho. (Veja Ef 1:17-19; 2Co 4:3-6)
         3. Cristo é imensamente glorioso e muito acima de toda a criação. É somente através Dele que a glória do Deus invisível é mais plenamente conhecida por nós, e é só por Ele que a imagem de Deus é renovada em nós.
         4. A fé em Cristo como Aquele que nos revela a glória de Deus é a raiz da qual cresce toda a prática cristã. Qualquer que não tem esta espécie de fé, não pode ser um cristão verdadeiro. Aqueles a quem este ensino pareça algo novo mas que não são inimigos da verdade da glória de Cristo, dar-lhes-ei os seguintes conselhos:
         1. O maior privilégio nesta vida é o de ver a glória do Pai em toda a Sua santidade manifestada em Cristo. Porque esta é a vida eterna: “Que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). A menos que você valore isto como um grande privilégio, nunca poderá desfrutá-lo.
         2. O conhecimento de Cristo é um grande mistério, o qual requer muita sabedoria espiritual para entender e obter o seu valor prático. A sabedoria humana não nos ajudará totalmente; é necessário que sejamos ensinados por Deus mesmo (Veja-se Jo 1:12-13; Mt 16:16-17). Como o artesão tem de capacitar-se nas técnicas do seu ofício, também nós devemos usar os meios ensinados por Deus com o propósito de nos tornamos crentes hábeis para esta tarefa. A oração fervente é o principal destes meios. Ore como Moisés, para que Deus lhe mostre a Sua glória. Ore como Paulo: “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1:17). As almas frouxas nunca podem obter uma experiência desta glória, mas, para os diligentes, buscá-la é o seu prazer.
         3. Aprenda dos ímpios. Quão zelosos são em perseguir os seus desejos pecaminosos e em deleitar-se nas suas concupiscências! Seremos preguiçosos para meditar naquela glória, a qual esperamos ver algum dia mais plenamente?
         4. Os Céus  declaram a glória de Deus, mas deles aprendemos pouco da glória divina em comparação com o conhecimento que nos é dado em Cristo Jesus. A gente mais ardilosa e os maiores filósofos estão cegos em comparação com aqueles que são os mais pequenos no reino de Deus mas que conhecem a glória de Cristo.
         Então, o que realmente deveríamos desejar é conhecer o poder desta verdade nos nossos corações. Realmente desejamos ter o mesmo gozo, descanso, deleite e a indescritível satisfação dos santos que já estão no Céu? O nosso presente conhecimento da glória de Cristo é o princípio destas bênçãos e quanto mais conheçamos esta glória, mais experimentaremos o seu poder transformador em nossas almas. As coisas espirituais são cada vez mais preciosas para aqueles que meditam nelas e para aqueles que se deleitam de andar nas veredas do amor e da fé.
Três pontos finais surgem do que consideramos:
1. Sabemos que a sabedoria, a bondade, o amor, a graça, a misericórdia e o poder de Deus, são atributos imensamente gloriosos tal como existem Nele. Mas só podem ser realmente entendidos por nós quando tivermos uma visão satisfatória e estimulante destes atributos obrando em favor da redenção da Igreja. Então, os raios da sua glória resplandecem para nós refrescando-nos com um gozo indescritível. Como o Apóstolo Paulo exclamou: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! ... Porque Dele, e por Ele, e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém!” (Rm 11:33-36)
         2. É por meio de Cristo que cremos em Deus (1Pe 1:21). Então o próprio Deus nas perfeições infinitas da Sua natureza divina é o objeto final da nossa fé. Mas vemos esta glória através de Cristo o qual é próprio Deus e o único caminho designado para revelar a glória de Deus.
         3. Cristo é o único caminho para podermos obter o conhecimento salvador de Deus. Os grandes pensadores religiosos do mundo andam às apalpadelas na escuridão do limitado entendimento humano. Como um raio de luz na escuridão da noite cega os olhos em lugar de nos iluminar o caminho, assim a luz do conhecimento de Deus em Cristo resplandece sobre os incrédulos na sua escuridão, e apesar disso não podem ver o caminho por causa da sua incredulidade. “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1Co 1:20-24).

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