sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"Em Meu Lugar" (2)




Horatius Bonar

         Desde então, tenho relatado muitas vezes esta anedota, para ilustrar o evangelho; e tem tido o seu efeito. O assombro do homem perante o fato de que as obras de outro, em lugar das suas, eram suficientes, comunica a ideia dos efeitos produzidos pelo evangelho de Cristo. “Cristo por nós”, é a mensagem que anunciamos; Cristo “carregando os nossos pecados no Seu próprio corpo no madeiro”. Cristo fazendo o que devíamos ter feito nós, carregando o que nós devíamos ter carregado; Cristo cravado na nossa cruz, morrendo a nossa morte, pagando a nossa dívida: tudo isto para acercar-nos de Deus e para nos dar a vida eterna. Esta é a mensagem pura do evangelho: que todo aquele que crê é salvo, e nunca virá a condenação.
         São poucos os que não sabem o que significa a palavra “substituto” em relação com as coisas comuns; não obstante, convém-nos considerar como compreender corretamente o significado desta palavra, pois é a chave para a compreensão correta do evangelho. “Cristo por nós”, ou Cristo nosso Substituto, é o evangelho, ou as boas novas de grande gozo, que os apóstolos pregaram, e que nós podemos anunciar ainda nestes tempos últimos aos filhos dos homens como a sua verdadeira esperança. As boas novas que anunciamos não constituem o que Deus nos ordena fazer a fim de Ele Se reconciliar conosco, mas o que o Filho de Deus tem feito em nosso lugar. Tomou o nosso lugar aqui na Terra, a fim de que pudéssemos obter um lugar no Céu. Como o Único Perfeito, na vida e na morte, como o Autor e o Sofredor, Deus apresenta-nos a fim de que obtenhamos o benefício completo dessa perfeição assim que recebemos o Seu evangelho. Toda a nossa imperfeição, por maior que seja, desaparece perante a Sua completa perfeição, de modo que Deus vê-nos não como nós somos, mas como Ele é. Tudo o que somos, fizemos e fomos, desaparece no que Ele é, fez, e foi. “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, Nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21).
         Esta totalidade com que carregou com os pecados o Filho de Deus, como o Substituto, é a base da fé do pecador. É sobre isto que apoiamos os nossos entendimentos com Deus. Necessitamos de alguém que carregue com os nossos pecados, e Deus deu-nos Aquele que é totalmente perfeito e divino. “O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados.” (Isaías 53:5). “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pedro 2:24).
         Em certa ocasião favorável conversamos sobre isto com um jovem. Este, sentado com a sua Bíblia nas suas mãos, refletia sobre o caminho da vida, interrogando-se: “O que devo fazer para ser salvo?” Encontrava-se em trevas e não captava nada de luz. Era um pecador... Como podia ser salvo? Era culpado... Como podia ser perdoado?
         – “Não por obras da justiça que nós tivéssemos feito”, – Dissemos-lhe.
         – Certamente que não, mas então, como? – Perguntou.
         – Por meio de Cristo que fez tudo.
         – Mas, é possível isto? –Continuou perguntando–. Posso ser salvo por meio de alguém que receba o castigo em meu lugar?
         – Não só é possível, mas também assim é. Esta é a maneira, a única maneira. É a maneira como Deus salva o pecador.
         – E eu não tenho de fazer nada? – Inquiriu.
         – Nada para ser salvo – Respondemos.

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