segunda-feira, 3 de setembro de 2012

LIBERTAÇÃO DOS PECADORES POR MEIO DO SANGUE DE CRISTO (2de 2) Spurgeon


Isso nos traz à segunda parte de nosso tema. Deixe-me tentar descrever de modo imperfeito, por meio de uma comparação, como se colocar diante de Deus.
Você está em dívida, não dispõe de recursos e teme ser preso. Um amigo vem a você e lhe diz que uma pessoa muito generosa prometeu pagar todas as suas dívidas. Seu coração começa a ter esperança, mas, se essa pessoa generosa vier até você e mostrar o ouro e a prata que irão libertá-lo, você ficará satisfeito em dobro. O nome e o caráter desse amigo dão a você confiança, mas seu conforto é ainda maior quando você o vê. Deixe-me levá-lo à recâmara da salvação, onde você verá o sangue de Cristo, que foi derramado para sua libertação.
         Esta noite, o Salvador está sentado à mesa da Ceia, a refeição está posta. Ele sai e volta os pés para o jardim do Getsêmani (assim chamado por ter um lagar para olivas) – nome e lugar se encaixam perfeitamente à cena onde a vingança se engalfinha com o amor! Ele se ajoelha em oração, e que oração! Ele se refugia nos portões do Céu! Ah! Meus irmãos, Ele suou, mas Seu suor não foi como o meu e o seu – não foi suor da fronte, mas do coração. Gotas de sangue caíram de Sua testa ao chão, pois, enquanto Ele orava, Suas veias se dilataram, Suas vestes se manchavam com o sangue coagulado e grandes coágulos de sangue caíram no chão onde Ele havia se prostrado. Essas foram as primeiras gotas derramas nesse terrível esforço – a batalha ainda não havia começado. Oh! Espetáculo de terrível amargura! Não tendo mais nada para nos persuadir, nossa alma crerá na imensidão de Seu amor.
         Ele se levanta – Judas, o traidor, vem: “Venha, venha, diabólico!” Tivesse sido um inimigo, Ele o teria suportado, mas foi um dos que comeu do pão com Ele que agora levanta a voz contra o mestre. Eles O arrastaram como um ladrão; eles O levaram perante os juízes; Ele foi posto à prova, acusado de blasfêmia! Eles acrescentaram sedição a Sua acusação, à acusação de ser Rei dos reis! Ele é condenado, os soldados O insultam e zombam Dele. Eles trazem uma velha cadeira, eles O colocam nela e colocam um manto vermelho sobre Seus ombros e um cetro quebrado em Suas mãos; eles Lhe  entregam fel como bebida, eles O atacam com zombarias, e Ele…! Ele suporta tudo isso pacientemente, quando poderia tê-los lançado à terra com um simples olhar, quando uma palavra de Seus lábios poderia tê-los desgraçado para sempre!
         Eles lhe tiram as roupas e, com flagelos, açoitam Sua carne santa, até que Seu corpo se torne uma massa de sangue coagulado. Que espetáculo horrendo! Palavras não conseguem descrever aquela cena de pesar e de escárnio. Aquilo foi, de fato, um resgate.
Depois, eles O levam à galeria, diante dos olhos da multidão ali reunida. Escute! Escute como elas gritam “Crucifica-O! Crucifica-O! Crucifica-O!”  repetidamente. Oh! Deus, depois Ele seria entregue à multidão? Deve ser assim! Deve ser assim!
         Ele avança carregando Sua cruz. Não há coração que se apiede Dele, não há voz para consolá-Lo. É verdade: algumas mulheres O seguem, mostrando solidariedade, mas Ele diz: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos.” Ele segue, tropeçando, na Via Dolorosa, marcando cada passo com sangue. Por fim, Jesus cai. Eles O fazem levantar e O levam aos pés do Calvário.
         Dado o sinal, os executores O agarram, colocam-No na cruz e O pregam nela. E o que Ele diz? “Pai, perdoa-lhes!” Eles levantam a cruz e, com grande esforço, colocam-na no encaixe. Cada nervo é tirado do lugar, cada osso está fora de sua junta – Ele chora de dor! Cães, tenham compaixão Dele! Mas, veja, eles encaram, eles zombam de Sua forma macilenta, eles riem de Sua divindade. O Sol quente queima Sua pele, e, quando Ele clama: “Tenho sede!”, entregam-Lhe fel e vinagre para beber!
         Por fim, Ele morre! Ele morre, numa agonia tão extrema que devemos fechar os olhos e tremer diante de tal pensamento!  O Sol, este olho gigante da natureza, não pôde olhar para tal agonia; ele se velou e foi embora para o horizonte escuro. A Terra tremeu em suas entranhas, e a cena hedionda teve fim com um terrível brado: “Eli, Eli, lamá sabactâni!”, com cada palavra, cada sílaba, daquele terrível apelo, enfaticamente solitário!
         Ah! Venham, pecadores sobrecarregados! Venham, os de consciência ferida! Venham e curem suas feridas no sangue de Jesus Cristo! Venham e fiquem onde a triste mãe ficou, aos pés da cruz, que é a porta dos Céus! Nenhum homem jamais creu nisso em vão! Venham, creiam e sejam salvos!
         Agora deixem-me usar outra figura singela. Suponha que você estivesse com dívidas, e um amigo lhe prometeu e lhe mostrou a você o dinheiro para livrá-lo do problema. Mas se esse amigo, em lugar disso, viesse com um recibo na mão, você ainda ficaria receoso? Não, você diria: “Agora tenho certeza de que meu débito está pago. Eu posso ir, estou livre!” Deixe-me agora mostrar o recibo daquele pagamento.
         Quando Jesus morreu, Seu corpo foi levado e colocado em um sepulcro, para lá permanecer até que Deus aceitasse o sacrifício, para que lá dormisse como um prisioneiro na escura masmorra da sepultura. Entrementes, Seu sangue pleiteia. Deus olha para ele, os anjos clamam: “O Cordeiro, o Cordeiro sem defeito foi sacrificado!”, os santos estão imersos em júbilo, os demônios no inferno olham para cima aterrorizados e se sentem derrotados para sempre!
         Três dias se passam. Deus diz: “Que o prisioneiro seja libertado.” Obediente ao comando divino, um anjo desce como um relâmpago e senta-se sobre a sepultura no jardim de José. Jesus não retirou a pedra – o anjo abriu o sepulcro e gritou: “Os céus Te aceitam! Ergue-te e vá!” O Salvador ergue-se, retira o lenço que cobria Seu rosto, põe de lado o lençol que envolvia Seu corpo e deixa a sepultura sem pressa, deixando tudo em ordem. Então, Ele nasce para o ar livre, e, assustado com a aparição inesperada, o sentinela esquece sua tarefa e corre aterrorizado.
         No momento em que Jesus ressuscitou do sepulcro, Deus deu um recibo total. Cristo teria ficado na prisão até hoje se não houvesse pago a dívida inteiramente. Oh! Jesus, quando Te vejo surgindo no poder do Pai, meu espírito brada de alegria, pois levantou quem agora está sentado à destra de Deus e que voltará para nos levar à felicidade eterna.
         Deixem-me falar a vocês algumas palavras familiares. Certa vez, ouvi alguém dizer: “É possível para um homem saber que isso é assim mesmo?” Meu irmão, há milhares, e dezenas de milhares, que vivem no pleno gozo da inteira confiança. Todos os homens são filhos de Deus; eles não têm necessidade de dar nada, eles devem apenas confiar em Jesus[1] e, doravante, sua culpa será aniquilada, pois nenhuma culpa pode permanecer na alma de um crente. Satanás pode dizer ao homem milhares de vezes que seus pecados permanecem, mas Satanás é o pai da mentira. O homem foi lavado de uma vez por todas, e foi tão absolvido que pecados futuros não podem mais condená-lo. Ele não pode mais deslizar da rocha, ele está tão a salvo quanto no trono de Deus.
         Ouço mais alguém dizer: “Oh! O que eu darei para ter certeza disto!” Nada! Nada é requerido. Você só tem de dizer:
“Nada trago aos pés da cruz, mas Jesus morreu, e eu estou salvo.”
         Quando eu era mais jovem, assisti o culto a Deus por anos consecutivos, em um estado de angústia por meus pecados. Meu coração desejava seriamente a Palavra, mas nunca ouvi ou entendi o que eu queria ouvir, e eu poderia ter permanecido totalmente na escuridão, mas por intermédio de um homem pobre, velho e sem cultura, que foi para o púlpito um dia e disse, entre outras coisas: “Olhem para Jesus, jovens miseráveis, pois vocês continuarão desse modo enquanto não olharem para a cruz” – bendito seja Deus! –, eu olhei![2] E eu não trocaria com nenhum rei aquele momento em que eu vi a cruz e me senti nadando na corrente do amor redentor!
         E você, meu conterrâneo, que veio da Inglaterra buscar descanso nesta terra de paz, veja! Olhe para a cruz! Oh! Se você pudesse voltar com uma consciência leve, isso seria uma vista ainda mais bela do que a dos gigantescos Alpes com toda sua neve inexplorada! Meus conterrâneos, vocês ouviram João Calvino, que, deste mesmo púlpito, derramou torrentes de verdade a esta congregação; deste mesmo púlpito, eu agora solenemente conjuro vocês a olhar para Cristo, e, se o fizerem, nesta hora vocês serão vistos como santos aos olhos de Deus. Ah, anjos, esse dia dará alegria a vocês, quando vocês virem um pecador chorando aos pés da cruz e dizendo: “Ó Cordeiro de Deus, eu venho, eu venho a Ti!” Meus irmãos, vocês podem se afundar no inferno com as mãos ao redor da cruz, eu irei com vocês e, desafiando o Príncipe das trevas, eu lhes trarei de volta à luz! Mas isso não ocorrerá, não temam! Homem algum se tornou presa da perdição desde que abraçou a cruz, e nunca será!
Que Deus abençoe a todos vocês em Jesus Cristo.
Amém.

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