Spurgeon
“O espírito é o
que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6:63)
Quantos dos nossos sacrifícios não
passam de pobres coisas mortas. Quando os trazemos, eles morreram durante a
noite, e nós os oferecemos a Deus! Quantas vezes satisfazemos a nós mesmos
tendo a “carne”, a forma exterior do sacrifício, esquecendo o espírito!
Lembremo-nos que Deus só olha para a vida. Ele não procura o corpo; por isso,
em tudo o que fazemos para Ele, devemos cuidar primeiro do espírito. Depois
podemos descansar, certos de que a carne e sangue da devoção tomarão conta de
si mesmos.
II. Creio
que este é o sentido da passagem. Entretanto, a maneira comum de entendê-lo, se
a pessoa não presta atenção ao contexto, é: “Bem, é o Espírito que vivifica,
isto é, o Espírito Santo; a carne para nada aproveita”. Nossos amigos que me
desculpem se digo que o sentido não pode ser esse. Vocês percebem que o “e” no
texto é minúsculo. Se a referência fosse ao Espírito Santo, isto seria
destacado, para fazer separação do espírito do qual acabei de falar – o espírito
interior, a vida da coisa. A palavra “espírito” aqui não é o Espírito Santo,
porém mesmo assim a maioria dos leitores comuns cometeria o erro e diria: “É o
Espírito que vivifica; a carne para nada aproveita”. Este erro não lhe faz
nenhum mal porque não é assim que está escrito, nem em outro lugar. Mesmo que
fosse diferente neste texto, não o é em toda a Bíblia, nem na experiência do
cristão, de modo que as pessoas podem cometer erros bem piores do que este.
Façamos, então, este erro, para depois voltarmos à verdade: “O espírito é o que
vivifica; a carne para nada aproveita”.
Quantas vezes pensei: “Vejo uma jovem
ou um rapaz na galeria; como olham com interesse durante a pregação!” Fui
visitá-los, gostei do caráter deles. Eles se vestem e portam de modo agradável,
há muitos neles que qualquer pessoa faria bem em imitar e seguir. Pensei
comigo: “Que bom! Em breve irei acrescentá-los à igreja; há tanta coisa boa neles
que transição será fácil para eles. Eles são tão excelentes e de boa conduta
que não terão dificuldade para dar o passo para dentro do reino do céu”. Não
digo que tenha usado essas palavras, mas é assim que pensava em meu coração.
Bem houve um rapaz que veio ao culto certa noite, uma pessoa de aparência
realmente esquisita. Ele entrou correndo numa quinta-feira à noite perto do fim
do culto, sem banho tomado nem nada; ele só entrou pensando encontrar algo que
o fizesse rir. Eu não esperava vê-lo convertido. A próxima ocasião em que eu
estava atendendo pessoas com problemas, ele veio, mais ou menos limpo e bem
vestido. Apesar disso eu o reconheci e lhe disse:
- Não foi você que entrou na
quinta-feira à noite, depois de dar uma voltas por aí? Você tinha uma aparência
realmente estranha.
- Sim – ele respondeu, - e o Senhor se
encontrou comigo.
Bem, eu esperei muitas noites, e não vi
o rapaz ou a moça vir ao culto. Por quê? O Senhor estava ensinando ao Seu servo
que “a carne para nada aproveita”. “Não”, disse o Senhor, “aquele homem parecia
estar longe de Deus, e aquele rapaz e a moça pareciam estar perto de mim; só
quero lhe mostrar que toda a moralidade e bondade deles não os aproximou do
reino do céu ou ajudou-me em alguma coisa; eu poderia salvar um como o outro e,
se quisesse demonstrar minha soberania, poderia até fazer publicanos e
meretrizes entrar no reino do céu antes destes que, orgulhosos da sua
moralidade, não se curvam diante de mim. “Vocês já não encontraram pessoas com
um caráter tão peculiar que disseram: “É uma pena que ninguém pode falar com
este homem?”
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