Spurgeon
“O espírito é o
que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6:63)
Antes que você esqueça, acrescente no
fim: “Obrigado, Senhor, porque não sou como as outras pessoas, injustas,
aproveitadoras” etc., nem como aquele coitado lá, que quebra o sábado, que você
viu indo na direção oposta à sua quando você vinha para cá. É pena que você não
terminou a frase; mas, mesmo que não o tenha feito com palavras, você a
terminou em seu coração. Eu peço a Deus que lhe mostre que todas estas suas
coisas bonitas não servem para nada. Veja você, com todas as suas idas à igreja
– tudo isso é carne. Você e sua leitura bíblica – carne; suas orações em
família – tudo carne; suas boas obras e hábitos – tudo é carne. Você nunca
recebeu o Espírito do Deus vivo; você não se atreve a dizer que recebeu. Bem,
todas estas coisas não adiantarão nada para você. Só o espírito vivifica. Você
sabe, caro senhor, e deixe-me ser bem claro – você sabe que nunca entra no
espírito da coisa. Apesar de ir regularmente aos cultos, você sabe que não
faria diferença se ficasse em casa, pois quando eles cantam, você não junto de
todo o coração; quando o pastor prega, raras vezes algo toca você, exceto uma
boa tirada intelectual que lhe agrada, em que você crê, que concorda com o que
você pensa, e assim por diante. Você sabe que nunca aprendeu a mergulhar no
interior da alma, na medula, nas profundezas da devoção. Você sabe que sua
devoção é como aquele boi que certa vez foi morto no cerco de Roma e que serviu
de mau agouro porque o adivinho que o abriu disse que não encontrou o coração
nele. Procurou em todas as entranhas e não achou o coração; por isso os romanos
disseram que sua cidade devia ser destruída. Para eles era um presságio solene
quando o sacrifício não tinha coração. O mesmo ocorre com você. Você fez todas
aquelas coisas, sim, e houve tanta realidade em tudo o que você fez como houve
consagração no moinho do pobre calmuque que amarrou suas orações nele, e cada
vez que o vento fazia as pás do moinho darem uma volta, ele contava uma oração
a mais. Houve tanto conteúdo em suas orações como no moinho dele, ou seja,
nenhum. É isso! Até onde você conseguir ir? Não continue com esta rosca sem fim
de rotinas inúteis. Não quero que você deixe de fazer estas coisas; mas pare e
peça que Deus lhe dê o espírito interior que aviva, porque é verdade que “a
carne para nada aproveita”.
A vocês que são filhos de Deus devo
dizer o seguinte: Quantas vezes vocês esqueceram disso? Eu sei que é rara a
manhã em que saio do meu quarto sem orar. Todavia, muitas vezes saído meu
quarto sem o espírito de oração. Eu não gosto de passar o dia sem ter lido na
Escritura, mas temo que muitas vezes é só a “carne” da leitura e não o espírito
soprando na palavra que recebo. Quantas vezes nossa consciência está satisfeita
com a mera forma sem o espírito! Se fóssemos mesmo o que deveríamos ser, jamais
nos contentaríamos com a forma se não víssemos espírito nela. Mãe, você ficaria
contente por ter em casa uma criança morta? Imagine que alguém lhe diga:
- Ora, esta criança é tão boa como
sempre foi! Olhe para ela! Não perdeu nenhuma perna, braço ou outra coisa!
- Sim, mas – você responde, - ela está
morta.
- Bem
- diz outra pessoa, - não há diferença. Ela está tão bonita como sempre
esteve.
- Sim – dia a mãe, - mas há uma
diferença grande entre quando ela estava viva e agora que está morta.
Agora transfira isto para suas pobres
orações mortas, sua pobre leitura bíblica morta, seus pobres sacramentos
mortos, suas pobres idas à igreja mortas e tudo isto!
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