Spurgeon
“O espírito é o
que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6:63)
Outro ouve que certa pessoa foi muito
abençoada com a leitura de um texto bíblico. “Oh!”, diz ele, “este texto foi
uma bênção para outro? Então vou ler o mesmo texto para mim”. Você acha que, se
fizer o mesmo que o outro fez, você receberá a mesma bênção? Você terá uma
surpresa decepcionante ao ler a passagem e descobrir que ele não lhe diz nada.
Ela fez o espírito do outro saltar de alegria, encheu sua alma com vinho do
reino, mas para você ela é como um poço seco ou uma garrafa vazia. Por que
isso? A simples letra com a qual a promessa foi expressa não lhe traz nenhum
proveito; só o espírito da promessa, a vida do Espírito que corre pelas veias
da promessa é que poder ser-lhe útil.
Você ouve de outro que medita na lei de
Deus dia e noite e se torna como uma árvore plantada junto aos ribeiros de
água. Então você diz: “Eu tomarei providência para ler a cada manhã um capítulo
e dois a cada noite”. Há pessoas que acham que, se lerem trechos grandes da
Bíblia, terão feito um bom negócio. Neste espírito não faz diferença se elas
lerem trechos filosóficos, pois passam pelo texto sem entendê-lo. Muitos dos
nossos pastores pensam que devem ler trechos longos das Escrituras no culto,
por exemplo três capítulos de Ezequiel, e ninguém sabe do que estão falando. Se
lessem um sermão em holandês para um público inglês, fariam o mesmo bem. O
texto de Ezequiel fala de efas e rodas dentro de rodas, mas ninguém entende
muito bem o que significam. Em vez de ler como fazia Esdras, explicando o texto
para o povo, eles só leem – passando por cima de cercas e fossos como numa
competição a cavalo! Em vez de parar para quebrar as cascas e dar grãos de
verdades para o povo, eles continuam lendo. Para pessoas assim podemos dizer: “Sua
leitura bíblica é só carne, que para nada lhe aproveita; o espírito é que
vivifica. A mera carne, a simples forma externa da leitura bíblica não trará
proveito para ninguém. Uma pequena porção da Bíblia sobre o qual o pregador
orou, avivada com o orvalho do Espírito, mesmo que seja uma frase curta com
seis palavras, será uma bênção maior do que cem capítulos sem o Espírito,
porque são carne – estão mortos. Este versículo curto, com o Espírito, traz
vida”.
Não se consegui me fazer entender
completamente; o que eu quero que todos compreendam é que não são as
manifestações exteriores da nossa religião que salvam a alma e nos trazem
proveito; é o espírito interior da coisa que o faz. Veja, eu não tenho
problemas com nenhuma destas formas, assim como não tenho com nossos corpos só
porque não são espíritos. Nossos corpos servem para habitação do espírito, e as
formas são boas para o espírito que há nelas; mas a forma sem espírito, por
mais enfeitada e aparentemente consagrada seja, não trará proveito eterno e
salvação para a alma. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita”.
Agora, prezado amigo, Sr. fulano, se
você tomar um lápis e relacionar tudo o que fez nestes anos todos, o resultado
será bem pequeno se o que estou dizendo é verdade. “Eu acho”, diz você, “que
sou uma pessoa razoavelmente boa; tenho alguns poucos defeitos, mas veja tudo o
que eu fiz. Tenho Dio à igreja quase sempre duas vezes a cada domingo desde que
sou menino – não me lembro de ter faltado, a não ser quando estava doente. Isso
foi muito bom da minha parte, nada de errado. Leio a Bíblia todas as manhãs;
oro com a família, o que também é muito bom da minha parte: outro ponto a meu
favor. Faço minhas orações à noite quando vou dormir e quando levanto de manhã.
Vou com muita frequência aos cultos de oração. Não que alguém possa me acusar
de alguma coisa; acho realmente que faço tudo para ser uma pessoa realmente
religiosa”.
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