5. Tiramos proveito da Palavra,
quando exercemos corretamente o amor cristão.
Isso é feito não
quando buscamos agradar aos nossos irmãos, ou nos tornarmos simpáticos segundo
a estima deles, mas, quando buscamos verdadeiramente o bem deles. "Nisto
conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus, e praticamos os
seus Mandamentos". (I João 5:2). E qual será o teste que verifica o grau
de meu amor pessoal, ao próprio Deus? Esse teste é a minha observância dos Seus
mandamentos, (João 14:15, 21, 24; 15:10, 14). O caráter genuíno, e a
intensidade de meu amor a Deus, não podem ser aquilatados pelas minhas
palavras, nem pela beleza com que entôo os Seus louvores, e, sim, pela minha
obediência à Sua Palavra. E o mesmo princípio opera no caso de minhas relações
com os meus irmãos na fé.
Sim, "nisto
conhecemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e praticamos os
Seus mandamentos". Se porventura exploro demoradamente, as falhas de meus
irmãos e irmãs, se estou andando em companhia deles, mas, procurando sempre a
minha vontade própria, e o que me agrada, então é que não os "amo". "Não
aborrecerás a teu irmão no teu íntimo; mas, repreenderás o teu próximo, e por
causa dele, não levarás sobre ti pecado". (Levítico l0:17).
O amor deve ser
exercido, segundo os moldes Divinos, e nunca às custas de deixar eu de amar a
Deus; de fato, é somente quando Deus recebe o lugar que Lhe convém, em meu
coração, é que o amor espiritual pode ser exercido por mim, para com meus
irmãos. O verdadeiro amor espiritual, não consiste em procurar satisfazê-los,
e, sim, de agradar a Deus, e de ajudá-los. Mas só poderei ajudá-los na vereda ordenada por Deus. Mimar e afagar uns aos
outros, não é demonstração de amor fraternal; exortarmo-nos uns aos outros,
para que prossigamos avante, na carreira que nos está proposta, proferindo
palavras, (reforçadas pelo exemplo do nossa vida diária), que encorajem a
outros a "olhar fixamente para Jesus", é atitude muito mais útil do
que aquela outra.
O amor fraternal é
algo santo, e não algum sentimento carnal, ou alguma indiferença frouxa, acerca
da senda que nos convém palmilhar. Os "Mandamentos" de Deus são
expressões do seu amor, bem como de sua Autoridade; por isso mesmo, se os
ignoramos, apesar de buscarmos ser gentilmente afeiçoados uns aos outros, isso
não será "amar", sob hipótese alguma. O exercício do amor deve estar em perfeita conformidade, com a
Verdade revelada de Deus. Cumpre-nos amar "na verdade" (III João 1).
6.
Beneficiamo-nos realmente da Palavra, quando aprendemos sobre as variadas
manifestações do amor cristão.
Amar aos irmãos, e manifestar o amor, de todas
as maneiras possíveis, é nosso dever inequívoco. Porém, em ponto algum podemos
fazer isso mais verdadeira e eficazmente, e com menos afetação e ostentação, do
que em termos comunhão com os irmãos na fé, diante do trono da graça.
Existem irmãos e irmãs
em Cristo, nos quatro cantos da terra, acerca de quem nada sei, no tocante aos
detalhes de suas provações e conflitos, de suas tentações e tristezas; a
despeito disso, posso mostrar-lhes o meu amor, derramando o meu coração diante
de Deus, em favor deles, mediante a súplica e a intercessão intensas. Não há
outra maneira do crente manifestar melhor sua afetuosa consideração para com
seus companheiros de peregrinação, senão utilizar-se de toda a sua participação
no Senhor Jesus em favor deles, implorando-lhe a misericórdia e a graça, em
prol dos mesmos. "Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a
seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer
nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de
fato e de verdade". (I João 1:17,18).
Muitos dentre o povo
de Deus são extremamente pobres, quanto a bens deste mundo. E chegam a indagar
por que as coisas lhes correm assim; é tudo uma grande provação por que passam.
Uma das razões, pelas quais o Senhor permite isso é dar oportunidade, a outros
de Seus santos, para que se compadeçam daqueles, e ministrem às suas
necessidades temporais, dentre a abundância que Deus lhes propiciou.
O verdadeiro amor é
intensamente prático: não considera por demais vis, a quaisquer
empreendimentos, nem por demais humilhante, a qualquer tarefa, sempre que os
sofrimentos de algum irmão em Cristo possam ser aliviados. Quando o Senhor do
amor Se encontrava na face da terra, os Seus pensamentos se voltaram para a
fome física das multidões, e para o conforto dos pés de Seus discípulos!
Mas existem alguns,
dentre o povo do Senhor, que são tão pobres, que pouquíssimos bens possuem para
distribuí-los a outros. Nesse caso, que poderão fazer? Ora, que tornem suas, as
preocupações espirituais de todos os santos; que se interessem em favor deles,
diante do trono da graça! Com base em nossas próprias circunstâncias e em
nossas vidas, sabemos quais devem ser os sentimentos, as tristezas e as queixas
de outros santos. Com base em nossa triste experiência, sabemos quão fácil é
nos deixarmos invadir pelo espírito de descontentamento, e de murmuração.
Mas também sabemos
que, sempre que clamamos ao Senhor, para que a Sua mão aquietadora seja imposta
em nós, ou quando Ele nos traz à memória alguma promessa preciosa, grande paz e
consolo nos enche o coração.
Assim, pois, roguemos a Deus, para que seja igualmente gracioso para
com todas as aflições dos santos. Procuremos sentir e tornar nossas as cargas
alheias, chorando com aqueles que choram, regozijando-nos com aqueles que se
regozijam. Desse modo, haveremos de expressar verdadeiro amor em Cristo, pelas
suas pessoas, interessando o Senhor deles e nosso, para que use de sua bondade
eterna para com eles.
É dessa maneira que o Senhor Jesus atualmente manifesta o Seu amor pelos Seus santos: "Por
isso também pode salvar totalmente, os que por Ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles". (Hebreus 7:25).
Cristo torna Suas, a
causas e as preocupações deles. Vive rogando em favor deles diante de Deus Pai.
Ninguém é esquecido por Ele, – cada ovelha solitária, o Bom Pastor a leva no
coração. Por conseguinte, quando expressamos nosso amor aos irmãos, em orações
diárias, para que sejam supridas Suas variadas necessidades, somos levados a
desfrutar de comunhão com o nosso grande Sumo Sacerdote.
E, não somente isso,
mas os santos, nesse processo, se nos tornarão mais caros – nossas próprias
orações em favor daqueles que são amados por Deus, aumentará o nosso amor, e a
nossa estima por eles, como tais. Não poderíamos mesmo trazê-los no coração,
até ao trono da graça, se em nossos corações, não tivéssemos um verdadeiro
afeto por eles. A melhor maneira de dominarmos qualquer sentimento de amargura,
contra algum irmão em Cristo, que nos tenha ofendido, é dedicarmo-nos à oração
em favor dele.
7. Derivamos
proveito autêntico da Palavra, quando ali somos ensinados como se deve Cultivar
apropriadamente o amor cristão.
Sugerimos aqui duas ou
três regras, a respeito da questão. Em primeiro lugar, reconhecendo desde o
começo, que há muito no prezado leitor (como em mim também) que serve para
testar severamente o amor dos irmãos, também muito haverá neles que sirva de
teste ao nosso amor, "Suportando-nos uns aos outros, em amor...".
(Efésios 4:3).
Essa é uma grande admoestação, acerca desse problema, e que todos
nós precisarmos entesourar no coração. Sem dúvida é impressionante, o fato de
que a primeira qualidade do amor espiritual é que, "O amor é paciente". (I Cor. 13:4).
Em segundo lugar, a
melhor maneira de cultivar qualquer virtude ou graça cristã, consiste em exercê-la. Falar, e traçar teorias a respeito
de alguma virtude, de nada vale, a não ser que a ponhamos em ação. Muitas, são
as queixas, que se ouvem, em nossos dias, acerca das parcas manifestações do
amor em tantos lugares, – e isso é um motivo a mais, pelo qual devo procurar
dar melhor exemplo!
Não permitamos que a
frieza, e a falta de gentileza dos outros, venham a abafar o nosso amor, mas
antes, façamos o que se lê em Romanos 12:12: "Vence o mal com o bem".
Que você pondere, sob oração, pelo menos uma vez por semana, acerca do que se
diz em I Coríntios 13.
Em terceiro lugar, que
você verifique se o seu coração está se aquecendo na luz, e no calor do amor de
Deus. Cada ser gera o que lhe é semelhante. Quando mais nos ocuparmos, em
verdade, com o amor invariável, infalível e insondável de Cristo para conosco,
tanto mais o nosso coração se voltará amorosamente, para com aqueles que lhe
pertencem. Uma belíssima ilustração a esse respeito se acha no fato de que, o
apóstolo que mais escreveu sobre o amor fraternal, foi exatamente aquele que se
recostou ao peito do Senhor Jesus.
Que o Senhor outorgue
toda a graça necessária, tanto a você como a mim, (que acima de todos precisa
dar ouvidos à Palavra), para que possam observar essas regras, visando ao
Louvor da Glória da Graça Divina, e o bem de Seu povo amado.
A. W. Pink.
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