Vers. 3. Refrigera a minha alma,
ou noutra versão, confortará a minha alma. Quando a alma está
afligida, Ele restaura-a; quando peca, santifica-a; quando é débil,
corrobora-a. Ele fá-lo. Os Seus ministros não poderiam fazê-lo se Ele não o
fizesse. A Sua Palavra não bastaria por si só. “Ele conforta a minha alma.”
Há alguns em que a graça tenha sofrido uma descida? Sentimos que a nossa
espiritualidade se acha no seu ponto mais baixo? Ele que pode transformar este
baixo nível numa inundação, pode também restaurar a nossa alma. Pede-Lhe, pois,
a Sua bênção: “Restaura-me, Pastor da minha alma!” C. H. S.
Ele restaura a alma à sua pureza original, que
tinha passado a ser negra e hedionda pelo pecado; por que bem haveria em verdes
pastos com uma alma pestilenta? Ele a restaura ao estado natural nos
afetos, que tinha sido deformada pela violência das paixões; porque, ai! Que
bem haveria em “águas tranquilas” para espíritos turbulentos?
Ele a restaura realmente à vida, que tinha passado
a ser morte; e quem pode “restaurar a minha alma” à vida a não ser
Aquele que é o Bom Pastor e que dá a Sua vida pelas suas ovelhas?
Veredas da justiça,
ou noutra versão, caminhos de justiça. Ai, Senhor!, estes “caminhos
de justiça” têm sido tão pouco frequentados que os rastos neles apenas
são visíveis; agora é difícil achar onde se encontram os caminhos de
justiça, e ainda que se possam achar são tão estreitos e cheios de
rodadas que é impossível evitar o cair ou o perder-se.
Vers. 4. Ainda que
eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum. Este
delicioso versículo foi cantado por muitos no seu leito de morte e ajudou-os a
transformar o escuro vale em claro dia, na sua mente. Cada palavra do mesmo tem
uma riqueza de significado.
“Ainda que eu andasse”, no que vemos
que o crente não aviva o seu passo quando chega a hora de morrer, mas que com
calma vai andando com Deus. Andar indica o avanço firme e seguro da alma que
conhece a rota, o seu fim, e decide seguir o caminho, sente-se segura, e
portanto está perfeitamente sossegada e calma. O santo que morre não se
apressa, não corre como se estivesse alarmado, não fica quieto como se
recusasse a seguir adiante; não está confuso nem envergonhado, e, portanto,
segue no seu antigo passo.
Observa que não é andando no vale, mas sim pelo
vale. Nós vamos ao longo do escuro túnel da morte e saímos para a luz
da imortalidade. Não morremos, mas antes dormimos para despertar na glória. A
morte não é a casa, mas o pórtico; não é o objetivo nem a meta, mas a passagem
para a mesma. O passo da morte é chamado um vale. E então não é
“o vale da morte”, mas “o vale da sombra de morte”, porque a
morte na sua substância foi eliminada e dela só fica a sua sombra. Alguém disse
que quando há uma sombra tem de haver luz em alguma parte, e a há. A morte
acha-se junto ao caminho pelo qual temos de transitar, e a luz do céu brilhando
sobre o caminhante projeta uma sombra no nosso andar; alegremo-nos porque há
luz mais à frente.
Ninguém tem medo de uma sombra, porque uma sombra
não pode deter um homem no seu caminho nem ainda um instante. A sombra de um
cão não morde; a sombra de uma espada não mata; a sombra da morte não nos pode
destruir, portanto, não há motivo para temer.
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