sexta-feira, 25 de abril de 2014

CRISTO COMO CABEÇA E COMO SENHOR




         É sumamente interessante, assim como muito proveitoso, assinalar as diversas linhas da verdade estabelecidas na Palavra de Deus e observar como todas estas linhas se acham inseparavelmente vinculadas com a Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o Centro Divino de toda a verdade; e à medida que mantenhamos os olhos da fé fixos Nele, cada verdade achará o seu lugar correto nas nossas almas e exercerá a sua devida influência e o seu poder formativo no nosso viver e no nosso caráter.
         Lamentavelmente, em todos nós existe uma tendência a tomar uma parte da verdade —         um aspecto — como se fosse o todo; a tomar uma verdade particular e insistir nela até ao ponto em que interferimos com a saudável ação de outra verdade, e impedindo assim o crescimento das nossas almas. É pela verdade que crescemos, não por alguma verdade; pela verdade somos santificados. Mas, se somente tomamos uma parte da verdade; se o nosso caráter é moldado e o nosso caminho dirigido por alguma verdade particular, não poderá haver nenhum verdadeiro crescimento, nenhuma autêntica santificação. “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1Pedro 2:2)  . “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17).
         Por toda a verdade de Deus — como consta nas Escrituras— o Espírito Santo forma, modela e guia a Igreja coletivamente e a cada indivíduo crente. Podemos estar seguros de que, quando alguma verdade particular é indevidamente enfatizada, ou alguma outra verdade é praticamente ignorada, o resultado será um caráter defeituoso e um testemunho inadequado.
         Tomemos, por exemplo, os dois grandes temas mencionados no título deste artigo: «Cristo como Cabeça e como Senhor». Não é importante dar a cada uma destas verdades o seu devido lugar? Não é Cristo tanto Cabeça do Seu corpo —a Igreja— como Senhor dos membros individuais? E, se o é, a nossa conduta não deveria estar dirigida e o nosso caráter formado pela aplicação espiritual de ambas as verdades? Inquestionavelmente. Pois bem; se pensamos em Cristo como Cabeça, isso conduz-nos a um claro e prático âmbito de verdade. Não porá obstáculos à verdade do Seu senhorio, senão que tenderá a manter a alma bem equilibrada, o que é tão necessário num tempo como o presente. Se pensarmos em Cristo somente como Senhor dos Seus servos, individualmente, perderemos totalmente o sentido das nossas mútuas relações como membros desse corpo singular do qual Ele é a Cabeça, e assim cairemos na independência, atuando sem dar a mínima atenção aos nossos companheiros membros. Tornar-nos-íamos, aplicando uma figura, como as fibras de uma vassoura, mantendo cada um a sua própria individualidade de ação e desconhecendo praticamente todo o nexo vital com os nossos irmãos.
         Mas, por outro lado, quando a verdade de Cristo como Cabeça encontra o Seu lugar apropriado nas nossas almas; quando sabemos e cremos que há “um só corpo” (Efésios 4:4 ), e que somos membros uns dos outros, então, ao reconhecer plenamente que cada um de nós, na nossa senda individual e no nosso serviço, é responsável perante esse “um só Senhor” (Efésios 4:5), resultará, como uma grande consequência prática, que o nosso andar e os nossos caminhos afetam a cada membro do corpo de Cristo sobre a Terra. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele” (1Coríntios 12:26). E já não podemos mais considerarmo-nos como elementos independentes, isolados, já que nos achamos incorporados como membros de “um corpo” por “um Espírito”, e estamos vinculados assim com a «Cabeça única» nos Céus.
         Esta grande doutrina desenvolve-se de uma forma clara e plena em Romanos12:3-8 e em 1Coríntios 12, e chamamos o leitor para uma solene atenção a este respeito. Não devemos olvidar que esta verdade de Cristo como Cabeça, e de nós como membros do Corpo, não é algo que pertença meramente ao passado, mas que se trata de uma realidade presente, uma grande verdade formativa que tem de ser tenazmente sustentada e levada à prática dia a dia. Há “um corpo”. Subsiste tão perfeitamente hoje como quando o inspirado Apóstolo escreveu a epístola aos Efésios; daí que cada crente individual exerça uma boa ou má influencia sobre os demais crentes que habitam no extremo oposto da Terra.
         Isto parece incrível? Só pode sê-lo para o razoamento da carne e para a cega incredulidade. Seguramente não podemos confinar a Igreja de Deus — o Corpo de Cristo —  a uma questão de posição geográfica. Essa Igreja —esse corpo— está unida. Por que razão? Pela vida? Não. Pela fé? Não. Por quê, então? Por Deus, o Espírito Santo. Os santos do Antigo Testamento tinham vida e fé; mas o que poderiam eles ter sabido de uma Cabeça no Céu ou de um Corpo na Terra? Absolutamente nada. Se alguém tivesse falado a Abraão acerca dele ser membro de um corpo, ele não o teria entendido. Como poderia entendê-lo? Não havia nada semelhante em existência. Não havia cabeça alguma no Céu e, por consequência, não podia haver nenhum corpo na Terra. Por certo, o Filho eternal estava no Céu, como Pessoa divina da eterna Trindade; mas Ele não estava ali como Homem glorificado, nem como Cabeça de um Corpo.
         E mais, ainda nos dias da Sua carne, O ouvimos dizer: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24). Não houve nenhuma união, nenhuma cabeça, nenhum membro, nenhuma conexão vital até depois da Sua morte na Cruz. Só quando a redenção chegou a ser um fato consumado o Céu contemplou essa maravilha de maravilhas, a saber, a humanidade glorificada no trono de Deus; e, como complemento dele, Deus, o Espírito Santo habitou nos homens aqui em baixo. Os santos do Antigo Testamento poderiam ter entendido o Senhorio, mas não a Cabeça. Esta última não existia ainda, salvo nos eternos propósitos de Deus. De fato, não existiu até que Cristo tomou assento nos Céus, “havendo obtido eterna redenção”.
         Por isso, esta verdade de Cristo como Cabeça é muito gloriosa e preciosa. Ela reclama uma diligente atenção de parte do leitor cristão. Instamo-lo séria e solenemente a que não a tome como mera especulação, como um assunto sem importância. Tenha a certeza de que se trata de uma verdade fundamental, a qual tem por fonte a um Cristo ressuscitado em glória; por base a uma redenção consumada; cujo atual âmbito de extensão é esta Terra; o Seu poder, o Espírito Santo; e a Sua autoridade, o Novo Testamento.


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