segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

OS DOIS LAÇOS - A VIDA ETERNA E A COMUNHÃO PESSOAL..




C. H. Mackintosh
Agora bem, se este aspecto da nova criação fosse compreendido claramente, resolveria um sem número de dificuldades, acalmaria as perplexidades do coração e simplificaria as coisas de maneira notável. Se olharmos ao nosso redor, ao que se chama o mundo religioso, ou à igreja professante, o que vemos? Um sem número de esforços para melhorar o homem na sua condição adâmica, natural ou da velha criação. A filantropia, a ciência, a filosofia, a religião põem-se em jogo. Todo o tipo de alavanca moral se põe em ação com o objeto de elevar o homem na escala da existência. O que querem dizer os homens quando falam de «elevar as massas»? Quão longe podem chegar nas suas ações? Até que grau as poderiam elevar? Poderiam localizá-las na nova criação? Certamente que não, sabendo que nesta criação “tudo provém de Deus”.
         Mas então, o que são estas «massas» que os homens procuram elevar? São elas nascidas da carne ou do Espírito? Da carne certamente! Mas, então “o que é nascido da carne, carne é.” Você pode elevar a carne tão alto como lhe agrade. Pode aplicar a mais poderosa alavanca e fazê-la subir ao ponto mais elevado ao qual se possa chegar. Pode educá-la, cultivá-la e refiná-la, tanto quanto o queira. Que a ciência, a filosofia, a religião (assim chamada) e a filantropia ponham ao seu dispor todos os seus recursos; com tudo isso, o que se consegue obter? Não se pode fazer da carne, espírito. Não é possível introduzi-la na nova criação. Não se pode formar o primeiro grande vínculo da vida eterna. Você não terá feito absolutamente nada pelo homem, ainda que pelo melhor deles; não terá feito nada pelo seu interesse espiritual e eterno. Tê-lo-á deixado no seu antigo estado adâmico, nas circunstâncias da velha criação. Tê-lo-á deixado nos seus perigos, na sua responsabilidade, nos seus pecados, na sua culpabilidade; tê-lo-á deixado exposto à justa ira de um Deus que aborrece o pecado. Pode ser que seja mais cultivado no seu estado de pecado, mas é de todas as maneiras culpado. A cultura não pode tirar a culpa; a educação não pode apagar os pecados; a civilização não pode dissipar do horizonte do homem as sombras e as pesadas nuvens da morte e do juízo.
         Que não se nos vá interpretar mal. Não é nossa intenção menosprezar a educação nem a civilização, a filantropia nem a verdadeira filosofia. O que queremos — e afirmamo-lo com total claridade— é que se tenham estas coisas pelo que realmente merecem, que sejam estimadas no seu justo valor. Estamos dispostos a deixar a margem mais ampla que se requeira para incluir todas as vantagens possíveis da educação em todos os seus ramos. Concedido isto, retomemos com renovadas forças à nossa tese, ou seja: que na educação das «massas» se eleva precisamente o que não tem nenhuma existência diante de Deus, nenhum lugar na nova criação. Pois bem, repetimo-lo com ênfase e insistimos com energia neste ponto: que até que não se haja feito entrar a alma na nova criação, nada absolutamente se terá feito por ela no que respeita à eternidade, ao Céu e a Deus.
         É certo que se pode aplainar o caminho do homem neste mundo; que se podem polir do grande caminho da vida humana algumas asperezas; que se pode alimentar a carne no seio enganoso do luxo e das comodidades; que se pode fazer tudo isto e muito mais; que se pode coroar a cabeça do homem com os mais apreciados louros que o homem tenha podido ganhar, nas distintas arenas, competindo na sua luta pela fama. Você pode adornar o seu nome com todos os títulos que jamais haja recebido um mortal, e, depois de tudo isto, deixá-lo nos seus pecados, exposto à morte e à condenação eterna. Se o primeiro grande laço não se forma, a alma é como uma embarcação desprendida das suas amarras e impelida pelos ventos borrascosos no meio do mar agitado, sem timão nem bússola.
         Queremos chamar seriamente a atenção do leitor sobre este ponto, pois sentimos profundamente a sua imensa importância prática. Cremos que é difícil achar uma verdade à qual o inimigo faça uma oposição mais ardente e mais constante que a da nova criação. Ele conhece perfeitamente a sua poderosa influência moral, o poder que tem sobre a alma para desprendê-la das coisas presentes, para produzir a renuncia ao mundo, para elevá-la de maneira prática e habitual, acima das coisas presentes e sensíveis. Daí que o seu esforço se concentre em manter as pessoas sempre ocupadas na desventurada tarefa de tratar de elevar a natureza e de melhorar o mundo. Não tem nenhuma objeção contra a moralidade, ou a religião, como tais, em todas suas formas. Servir-se-á do próprio cristianismo como meio para melhorar a velha natureza. A sua obra mestra é, sem dúvida, é coser como uma «nova peça» a religião cristã, sobre o «velho vestido» da natureza caída.
         Você pode fazer o que quiser sempre e enquanto que deixe o homem na antiga criação; porque Satanás sabe muito bem que em todo o tempo que você o deixe ali, permanecerá nas suas garras. Tudo o que seja da antiga criação acha-se nas garras de Satanás e dentro do alcance das suas armas. Tudo o que pertence à nova criação escapa ao seu poder. “O que é engendrado de Deus guarda-se, e o maligno não lhe toca” (1 João 5:18). Não diz que o crente se guarda a si mesmo, e o maligno não lhe toca. O crente é um ser complexo que se compõe de duas naturezas: a velha e a nova, a carne e o espírito, e se ele não vigia, “o maligno” imediatamente o tocará e o transtornará. Mas, a natureza divina, a nova criação, não pode ser tocada, e enquanto isso marchemos na energia desta natureza divina, e respiremos a atmosfera desta nova criação, estaremos perfeitamente resguardados de todos os assaltos do inimigo.

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