C. H. Mackintosh
Agora bem, se este aspecto da
nova criação fosse compreendido claramente, resolveria um sem número de
dificuldades, acalmaria as perplexidades do coração e simplificaria as coisas
de maneira notável. Se olharmos ao nosso redor, ao que se chama o mundo
religioso, ou à igreja professante, o que vemos? Um sem número de esforços para
melhorar o homem na sua condição adâmica, natural ou da velha criação. A
filantropia, a ciência, a filosofia, a religião põem-se em jogo. Todo o tipo de
alavanca moral se põe em ação com o objeto de elevar o homem na escala da
existência. O que querem dizer os homens quando falam de «elevar as massas»?
Quão longe podem chegar nas suas ações? Até que grau as poderiam elevar?
Poderiam localizá-las na nova criação? Certamente que não, sabendo que nesta criação
“tudo provém de Deus”.
Mas
então, o que são estas «massas» que os homens procuram elevar? São elas
nascidas da carne ou do Espírito? Da carne certamente! Mas, então “o que é
nascido da carne, carne é.” Você pode elevar a carne tão alto como lhe agrade.
Pode aplicar a mais poderosa alavanca e fazê-la subir ao ponto mais elevado ao
qual se possa chegar. Pode educá-la, cultivá-la e refiná-la, tanto quanto o
queira. Que a ciência, a filosofia, a religião (assim chamada) e a filantropia
ponham ao seu dispor todos os seus recursos; com tudo isso, o que se consegue
obter? Não se pode fazer da carne, espírito. Não é possível introduzi-la na
nova criação. Não se pode formar o primeiro grande vínculo da vida eterna. Você
não terá feito absolutamente nada pelo homem, ainda que pelo melhor deles; não
terá feito nada pelo seu interesse espiritual e eterno. Tê-lo-á deixado no seu
antigo estado adâmico, nas circunstâncias da velha criação. Tê-lo-á deixado nos
seus perigos, na sua responsabilidade, nos seus pecados, na sua culpabilidade;
tê-lo-á deixado exposto à justa ira de um Deus que aborrece o pecado. Pode ser
que seja mais cultivado no seu estado de pecado, mas é de todas as maneiras
culpado. A cultura não pode tirar a culpa; a educação não pode apagar os
pecados; a civilização não pode dissipar do horizonte do homem as sombras e as
pesadas nuvens da morte e do juízo.
Que
não se nos vá interpretar mal. Não é nossa intenção menosprezar a educação nem
a civilização, a filantropia nem a verdadeira filosofia. O que queremos — e
afirmamo-lo com total claridade— é que se tenham estas coisas pelo que
realmente merecem, que sejam estimadas no seu justo valor. Estamos dispostos a
deixar a margem mais ampla que se requeira para incluir todas as vantagens
possíveis da educação em todos os seus ramos. Concedido isto, retomemos com
renovadas forças à nossa tese, ou seja: que na educação das «massas» se eleva
precisamente o que não tem nenhuma existência diante de Deus, nenhum lugar na
nova criação. Pois bem, repetimo-lo com ênfase e insistimos com energia neste
ponto: que até que não se haja feito entrar a alma na nova criação, nada
absolutamente se terá feito por ela no que respeita à eternidade, ao Céu e a
Deus.
É
certo que se pode aplainar o caminho do homem neste mundo; que se podem polir
do grande caminho da vida humana algumas asperezas; que se pode alimentar a
carne no seio enganoso do luxo e das comodidades; que se pode fazer tudo isto e
muito mais; que se pode coroar a cabeça do homem com os mais apreciados louros
que o homem tenha podido ganhar, nas distintas arenas, competindo na sua luta
pela fama. Você pode adornar o seu nome com todos os títulos que jamais haja
recebido um mortal, e, depois de tudo isto, deixá-lo nos seus pecados, exposto
à morte e à condenação eterna. Se o primeiro grande laço não se forma, a alma é
como uma embarcação desprendida das suas amarras e impelida pelos ventos
borrascosos no meio do mar agitado, sem timão nem bússola.
Queremos
chamar seriamente a atenção do leitor sobre este ponto, pois sentimos
profundamente a sua imensa importância prática. Cremos que é difícil achar uma
verdade à qual o inimigo faça uma oposição mais ardente e mais constante que a
da nova criação. Ele conhece perfeitamente a sua poderosa influência moral, o
poder que tem sobre a alma para desprendê-la das coisas presentes, para
produzir a renuncia ao mundo, para elevá-la de maneira prática e habitual,
acima das coisas presentes e sensíveis. Daí que o seu esforço se concentre em
manter as pessoas sempre ocupadas na desventurada tarefa de tratar de elevar a
natureza e de melhorar o mundo. Não tem nenhuma objeção contra a moralidade, ou
a religião, como tais, em todas suas formas. Servir-se-á do próprio
cristianismo como meio para melhorar a velha natureza. A sua obra mestra é, sem
dúvida, é coser como uma «nova peça» a religião cristã, sobre o «velho vestido»
da natureza caída.
Você
pode fazer o que quiser sempre e enquanto que deixe o homem na antiga criação;
porque Satanás sabe muito bem que em todo o tempo que você o deixe ali,
permanecerá nas suas garras. Tudo o que seja da antiga criação acha-se nas
garras de Satanás e dentro do alcance das suas armas. Tudo o que pertence à
nova criação escapa ao seu poder. “O que é engendrado de Deus guarda-se, e o
maligno não lhe toca” (1 João 5:18). Não diz que o crente se guarda a si mesmo,
e o maligno não lhe toca. O crente é um ser complexo que se compõe de duas
naturezas: a velha e a nova, a carne e o espírito, e se ele não vigia, “o
maligno” imediatamente o tocará e o transtornará. Mas, a natureza divina, a
nova criação, não pode ser tocada, e enquanto isso marchemos na energia desta
natureza divina, e respiremos a atmosfera desta nova criação, estaremos
perfeitamente resguardados de todos os assaltos do inimigo.
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