quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

COMO A CONDUTA DE UMA PESSOA RECAI SOBRE ELA MESMA (4)




Spurgeon
         “O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o homem de bem” (Provérbios 14:14).
        A trilha desce um pouquinho para a direita, você quase nem percebe a inclinação; depois ela vai para a esquerda e sobe um pouquinho. Assim, curvando para lá e para o viajante acaba lá em baixo no vale. Da mesma maneira o astuto inimigo das almas tira os santos lá dos seus lugares altos: geralmente quando ele consegue fazer um homem bom descer, foi de pouco em pouco. De vez em quando, com uma oportunidade repentina e uma tentação forte, o cristão pode ser derrubado de repente direto do pináculo do templo para o calabouço do desespero, mas isto não é muito frequente; a obra de engenharia favorita do diabo é a inclinação suave, e ele é muito hábil em construí-la. A alma quase não percebe que está descendo, parece-lhe que está mantendo o nível da sua caminhada, mas antes que se dê conta está bem abaixo da linha de paz e consagração.
        Pense mais uma vez no nome desta pessoa. Ela tornou-se “infiel”, mas desviou-se do que? Ela conhece a doçura das coisas de Deus e, mesmo assim, para de alimentar-se delas. É alguém que teve o privilégio de sentar-se à mesa do Senhor e, mesmo assim, desertou de seu lugar honroso, desviou-se das coisas que conheceu, sentiu, saboreou, tocou, se alegrou – as coisas que são os presentes sem preço de Deus. Ele decaiu da condição em que vivia o céu aqui em baixo; foi infiel ao amor daquele que o comprou com Seu sangue; afastou-se das feridas de Cristo, da obra do Espírito Eterno, da coroa da vida que paira sobre sua cabeça e de um relacionamento familiar com Deus que os anjos invejavam. Se não fosse tão altamente favorecido, não poderia tornar-se tão perverso. Que tolo e lerdo de coração para desviar-se da riqueza para a pobreza, da saúde para a doença, da liberdade para a escravidão, da luz para as trevas, do amor de Deus, de estar em Cristo e da comunhão com o Espírito Santo para a mornidão, mundanismo e pecado.
        O texto, contudo, dá ao nome da pessoa uma amplitude maior: “o infiel de coração”. O coração é a fonte de todo mal. Ninguém precisa desviar-se ativamente para ver o texto cumprir-se nele; só precisa ser infiel no coração. Toda infidelidade começa lá dentro, começa quando o coração fica morno, quando ao amor de Cristo tem menos poder na alma. Talvez você pense que, enquanto a infidelidade fica confinada ao coração, ela não é tão importante. No entanto, pense por um instante, e você confessará seu erro. Se você fosse ao médico e dissesse: “Senhor sinto uma dor forte no corpo”, será que você ficaria  confortado se ele respondesse: “Não há uma causa local para o seu sofrimento; ele deriva completamente da doença do coração”? Você não ficaria ainda mais alarmado? Qualquer caso é grave quando envolve o coração. O coração é difícil de alcançar e difícil de compreender e, além disso, ele tem tanto poder sobre o resto do sistema e tanto potencial de fazer mal a todos os membros do corpo, que uma doença no coração é um defeito num órgão vital, uma poluição da fonte de vida. Um ferimento ali se iguala a mil feridas, um ataque paralisa todos os membros. Portanto, olhem bem para seus corações e orem: “Ó Senhor, limpa os cantos secretos do nosso espírito e preserva-nos para teu eterno reino e glória!”.










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