Spurgeon
“O infiel de
coração dos seus próprios caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o
homem de bem” (Provérbios 14:14).
A trilha desce um pouquinho para a
direita, você quase nem percebe a inclinação; depois ela vai para a esquerda e
sobe um pouquinho. Assim, curvando para lá e para o viajante acaba lá em baixo
no vale. Da mesma maneira o astuto inimigo das almas tira os santos lá dos seus
lugares altos: geralmente quando ele consegue fazer um homem bom descer, foi de
pouco em pouco. De vez em quando, com uma oportunidade repentina e uma tentação
forte, o cristão pode ser derrubado de repente direto do pináculo do templo
para o calabouço do desespero, mas isto não é muito frequente; a obra de
engenharia favorita do diabo é a inclinação suave, e ele é muito hábil em
construí-la. A alma quase não percebe que está descendo, parece-lhe que está
mantendo o nível da sua caminhada, mas antes que se dê conta está bem abaixo da
linha de paz e consagração.
Pense mais uma vez no nome desta pessoa.
Ela tornou-se “infiel”, mas desviou-se do que? Ela conhece a doçura das coisas
de Deus e, mesmo assim, para de alimentar-se delas. É alguém que teve o
privilégio de sentar-se à mesa do Senhor e, mesmo assim, desertou de seu lugar
honroso, desviou-se das coisas que conheceu, sentiu, saboreou, tocou, se
alegrou – as coisas que são os presentes sem preço de Deus. Ele decaiu da
condição em que vivia o céu aqui em baixo; foi infiel ao amor daquele que o
comprou com Seu sangue; afastou-se das feridas de Cristo, da obra do Espírito
Eterno, da coroa da vida que paira sobre sua cabeça e de um relacionamento
familiar com Deus que os anjos invejavam. Se não fosse tão altamente
favorecido, não poderia tornar-se tão perverso. Que tolo e lerdo de coração
para desviar-se da riqueza para a pobreza, da saúde para a doença, da liberdade
para a escravidão, da luz para as trevas, do amor de Deus, de estar em Cristo e
da comunhão com o Espírito Santo para a mornidão, mundanismo e pecado.
O texto, contudo, dá ao nome da pessoa
uma amplitude maior: “o infiel de coração”. O coração é a fonte de todo mal.
Ninguém precisa desviar-se ativamente para ver o texto cumprir-se nele; só
precisa ser infiel no coração. Toda infidelidade começa lá dentro, começa
quando o coração fica morno, quando ao amor de Cristo tem menos poder na alma.
Talvez você pense que, enquanto a infidelidade fica confinada ao coração, ela
não é tão importante. No entanto, pense por um instante, e você confessará seu
erro. Se você fosse ao médico e dissesse: “Senhor sinto uma dor forte no corpo”,
será que você ficaria confortado se ele
respondesse: “Não há uma causa local para o seu sofrimento; ele deriva
completamente da doença do coração”? Você não ficaria ainda mais alarmado?
Qualquer caso é grave quando envolve o coração. O coração é difícil de alcançar
e difícil de compreender e, além disso, ele tem tanto poder sobre o resto do
sistema e tanto potencial de fazer mal a todos os membros do corpo, que uma
doença no coração é um defeito num órgão vital, uma poluição da fonte de vida.
Um ferimento ali se iguala a mil feridas, um ataque paralisa todos os membros.
Portanto, olhem bem para seus corações e orem: “Ó Senhor, limpa os cantos
secretos do nosso espírito e preserva-nos para teu eterno reino e glória!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário