SPURGEON
Tenho
apanhado o Judeu em falta, e agora vou descobrir o Grego. Ele é uma pessoa de
um exterior muito diferente do Judeu. Para o Grego os filactérios são um lixo;
e despreza as franjas estendidas dos seus mantos. As formas de religião não lhe
importam; de fato, ele sente uma intensa aversão para com os chapéus de abas
largas, e para tudo o que represente uma exposição exterior. Aprecia a
eloquência; admira qualquer formulação inteligente; ama os ditos singulares;
adora a leitura do último livro; é um Grego, e para ele, o Evangelho é uma
loucura.
O Grego é um cavalheiro
que pode ser encontrado hoje na maioria dos lugares: produzido algumas vezes
nas universidades, formado constantemente nas escolas, fabricado em toda a
parte. Está na casa de câmbio; no mercado; possui um armazém; anda em
carruagens; é um nobre, um cavalheiro; está em toda a parte, até na corte. É
sábio em tudo. Pergunta-lhe qualquer coisa e ele sabe-a. Pede-lhe uma citação
de qualquer dos poetas antigos, ou de qualquer outra pessoa, e ele pode
proporcionar-te. Se tu és muçulmano e argumentas as crenças da tua religião,
ele escutar-te-á muito pacientemente.
Mas se tu és Cristão, e
lhe falas de Jesus Cristo, ele responder-te-á: “Para a tua conversa hipócrita,
não quero ouvir nada acerca disso.” Este cavalheiro Grego crê em qualquer
filosofia, exceto na verdadeira; estuda toda a sabedoria, exceto a sabedoria de
Deus; busca todo o conhecimento exceto o conhecimento espiritual; gosta de tudo
o que o homem faz, mas, não gosta de nada que venha de Deus; é uma loucura para
ele, loucura maldita. Discorre com ele apenas acerca de uma doutrina da Bíblia,
e ele tapa os ouvidos; já não deseja mais a tua companhia; é loucura.
Eu tenho-me
encontrado com este cavalheiro muitas vezes. Quando o vi, numa ocasião, ele
comentou-me que não cria em nenhuma religião; e quando lhe disse que eu sim
acreditava, e que tinha a esperança de ir para o Céu ao morrer, ele respondeu
que se atrevia a dizer que isso era muito confortador, mas que ele não
acreditava na religião, e que estava seguro de que era melhor viver conforme
lhe ditasse a natureza.
Noutra ocasião ele falou
bem de todas as religiões, e cria que eram muito boas e todas elas verdadeiras,
cada uma no seu lugar; e estava convencido de que se um homem era sincero em
qualquer tipo de religião, não teria problemas quando chegasse ao fim. Eu
respondi-lhe que não estava de acordo, e que eu cria que havia senão uma só
religião revelada por Deus: a religião dos escolhidos de Deus, a religião que é
o dom de Jesus. Depois ele disse-me que eu era um fanático intolerante e
despediu-se. Para ele era loucura. Ele não queria saber nada do que lhe dizia.
Ele ou aceitava todas as religiões ou não aceitava alguma.
Noutra oportunidade segurei-o pelo botão
do seu saco, e discuti com ele um pouco acerca da fé. Ele disse: “Todo isso
está muito bem, creio que essa é sã doutrina protestante.” Mas, imediatamente,
eu mencionei algo acerca da eleição, e ele comentou: “eu não gosto disso;
muitas pessoas têm pregado isso com muito maus resultados.” Então, sugeri algo
acerca da graça imerecida; mas, ele não podia suportar isso tampouco, era uma
loucura para ele.
Tratava-se de um Grego muito polido, e
pensava que se não era um eleito, devia sê-lo. Nunca gostou da passagem
bíblica: “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias;
e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.” Ele
considerava que isso era algo desonroso para a Bíblia; e que quando o livro
fosse revisado, ele não duvidava que isso seria eliminado.
Para tal
pessoa (pois está presente aqui no dia de hoje, e veio muito provavelmente para
ouvir este caniço sacudido pelo vento), tenho de dizer isto: “Ah!, homem sábio,
cheio de sabedoria do mundo; a tua sabedoria sustentar-te-á aqui, mas o que
farás tu nas enchentes do Jordão? A filosofia pode ajudar-te para que te apoies
nela enquanto caminhas neste mundo; mas o rio é profundo, e tu vais necessitar
de algo mais do que isso.
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