sexta-feira, 11 de julho de 2014

SABEDORIA DE DEUS (6)




SPURGEON
         Mas pode-se encontrar outro espécime deste Judeu. Este é completamente ortodoxo nos seus sentimentos. Quanto a formas e cerimônias, não as tem num alto conceito. Assiste num lugar de adoração onde aprende sã doutrina. Não quer escutar nada que não seja a verdade. Gosta que façamos boas obras e tenhamos moralidade. É um bom homem, e ninguém lhe pode encontrar uma falta. Está aqui presente, assistindo como sempre ao serviço dominical. Na praça caminha ante os homens com toda a honestidade: isso supondes vós.
         Perguntai-lhe acerca de qualquer doutrina, e pode dar-vos uma exposição acerca disso. De fato, poderia escrever um tratado completo sobre qualquer assunto relativo à Bíblia, e também acerca de muitas outras coisas. Sabe quase tudo; e aqui, nestas escuras águas-furtadas da cabeça, a sua religião estabeleceu-se; tem uma excelente sala de visitas no seu coração, mas a sua religião nunca vai ali: está fechada para ela.          Lá ele tem o dinheiro: Mamon, mundanismo; ou tem outra coisa: amor de si mesmo, orgulho. Talvez ele goste escutar uma pregação prática; admira tudo; de fato ele ama tudo o que seja correto. Mas não há nada bom dentro dele: ou melhor, tudo é som sem substância. Gosta de escutar a sã doutrina; mas esta não penetra o seu homem interior. Nunca o vês chorar.
         Prega-lhe acerca de Cristo crucificado, um tema glorioso, e nunca verás uma lágrima rolar pelas suas faces; conta-lhe acerca da poderosa influência do Espírito Santo: pode admirar-te por isso, mas a mão do Espírito Santo nunca tocou a sua alma; fala-lhe acerca da comunhão com Deus, no que consiste submergir-se no mar mais profundo da Deidade, e perder-se na sua imensidão: o homem adora ouvir isso, mas nunca experimentou, nunca teve comunhão com Cristo; e, portanto, quando começas a calar-lhe fundo, quando o deitas sobre a mesa, e sacas o teu bisturi de dissecação e começas a fazer os teus cortes e lhe mostras o seu próprio coração, e o deixas ver o que ele é por natureza, e no que deve tornar-se pela graça, o homem sobressalta-se; não pode suportar isso; não deseja nada disto: receber e aceitar Cristo no coração.          Ainda que O ame suficiente com o seu cérebro, é para ele um tropeço, e rejeita-O. Reconheceis-vos aqui descritos, meus amigos? Vede-vos a vós mesmos, como vos veem as outras pessoas? Vede-vos a vós mesmos, como Deus vos vê? Pois assim é, possivelmente aqui há muitas pessoas para quem Cristo é um tropeço, como sempre o foi para outros.
         Ó, vós que sois formalistas! Dirijo-me agora a vós; Ó, vós que preferis a casca da noz, mas aborreceis o miolo da noz; Ó, vós, quem gostais das galas e da roupagem, mas a quem não importa a formosa virgem que está ataviada com eles: Ó, vós que admirais a pintura e o ouropel, mas que aborreceis o ouro fino, falo para vós; pergunto-vos: dá-vos a vossa religião um sólido conforto? Podeis olhar para a morte na cara com esse conforto, e afirmar: “Eu sei que o meu Redentor vive”? Podeis cerrar os vossos olhos na noite, e cantar como vosso hino de vésperas?
“Devo aguentar até ao fim,
Tão certo como o sinal que me é dado.”?
         Podes bendizer a Deus na aflição? Podes submergir-te com a pesada equipagem que carregas e nadar através das correntes das provas? Podes marchar triunfante no esconderijo do leão, rir-te da aflição e oferecer um desafio ao Inferno? Podes fazer isto? Não! O teu Evangelho é uma coisa efeminado; é uma coisa de palavras e de sons, e não de poder. Lança-o para longe de ti, isso te imploro: não vale a pena que o conserves; pois, quando te apresentares ante o trono de Deus, descobrirás que te falhará, e fá-lo-á de tal maneira que te impedirá de encontrares outro; pois perdido, arruinado, destruído, dar-te-ás conta de que Cristo que agora é “tropeço,” então será o teu Juiz.

Nenhum comentário: