SPURGEON
Mas pode-se encontrar
outro espécime deste Judeu. Este é completamente ortodoxo nos seus sentimentos.
Quanto a formas e cerimônias, não as tem num alto conceito. Assiste num lugar
de adoração onde aprende sã doutrina. Não quer escutar nada que não seja a
verdade. Gosta que façamos boas obras e tenhamos moralidade. É um bom homem, e
ninguém lhe pode encontrar uma falta. Está aqui presente, assistindo como
sempre ao serviço dominical. Na praça caminha ante os homens com toda a honestidade:
isso supondes vós.
Perguntai-lhe acerca de
qualquer doutrina, e pode dar-vos uma exposição acerca disso. De fato, poderia
escrever um tratado completo sobre qualquer assunto relativo à Bíblia, e também
acerca de muitas outras coisas. Sabe quase tudo; e aqui, nestas escuras
águas-furtadas da cabeça, a sua religião estabeleceu-se; tem uma excelente sala
de visitas no seu coração, mas a sua religião nunca vai ali: está fechada para
ela. Lá ele tem o dinheiro:
Mamon, mundanismo; ou tem outra coisa: amor de si mesmo, orgulho. Talvez ele
goste escutar uma pregação prática; admira tudo; de fato ele ama tudo o que
seja correto. Mas não há nada bom dentro dele: ou melhor, tudo é som sem
substância. Gosta de escutar a sã doutrina; mas esta não penetra o seu homem
interior. Nunca o vês chorar.
Prega-lhe acerca de Cristo
crucificado, um tema glorioso, e nunca verás uma lágrima rolar pelas suas
faces; conta-lhe acerca da poderosa influência do Espírito Santo: pode
admirar-te por isso, mas a mão do Espírito Santo nunca tocou a sua alma;
fala-lhe acerca da comunhão com Deus, no que consiste submergir-se no mar mais
profundo da Deidade, e perder-se na sua imensidão: o homem adora ouvir isso,
mas nunca experimentou, nunca teve comunhão com Cristo; e, portanto, quando
começas a calar-lhe fundo, quando o deitas sobre a mesa, e sacas o teu bisturi
de dissecação e começas a fazer os teus cortes e lhe mostras o seu próprio
coração, e o deixas ver o que ele é por natureza, e no que deve tornar-se pela
graça, o homem sobressalta-se; não pode suportar isso; não deseja nada disto:
receber e aceitar Cristo no coração. Ainda
que O ame suficiente com o seu cérebro, é para ele um tropeço, e rejeita-O.
Reconheceis-vos aqui descritos, meus amigos? Vede-vos a vós mesmos, como vos veem
as outras pessoas? Vede-vos a vós mesmos, como Deus vos vê? Pois assim é,
possivelmente aqui há muitas pessoas para quem Cristo é um tropeço, como sempre
o foi para outros.
Ó, vós que
sois formalistas! Dirijo-me agora a vós; Ó, vós que preferis a casca da noz,
mas aborreceis o miolo da noz; Ó, vós, quem gostais das galas e da roupagem,
mas a quem não importa a formosa virgem que está ataviada com eles: Ó, vós que
admirais a pintura e o ouropel, mas que aborreceis o ouro fino, falo para vós;
pergunto-vos: dá-vos a vossa religião um sólido conforto? Podeis olhar para a
morte na cara com esse conforto, e afirmar: “Eu sei que o meu Redentor vive”?
Podeis cerrar os vossos olhos na noite, e cantar como vosso hino de vésperas?
“Devo aguentar até ao fim,
Tão certo como o sinal que me é dado.”?
Podes
bendizer a Deus na aflição? Podes submergir-te com a pesada equipagem que
carregas e nadar através das correntes das provas? Podes marchar triunfante no
esconderijo do leão, rir-te da aflição e oferecer um desafio ao Inferno? Podes
fazer isto? Não! O teu Evangelho é uma coisa efeminado; é uma coisa de palavras
e de sons, e não de poder. Lança-o para longe de ti, isso te imploro: não vale
a pena que o conserves; pois, quando te apresentares ante o trono de Deus, descobrirás
que te falhará, e fá-lo-á de tal maneira que te impedirá de encontrares outro;
pois perdido, arruinado, destruído, dar-te-ás conta de que Cristo que agora é
“tropeço,” então será o teu Juiz.
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