SPURGEON
Adeus, velho Judeu! Tu
dormes com os teus pais, e a tua geração é uma raça errante, que ainda caminha
pela Terra. Adeus! Já terminei de falar contigo. Ai!, pobre infeliz, esse
Cristo que era o teu tropeço, será o teu Juiz, e sobre a tua cabeça recairá
essa sonora maldição: “O Seu sangue seja sobre nós, e sobre os nossos filhos.”
Mas eu encontro o senhor Judeu aqui, em Exeter Hall: pessoas que encaixam nessa
descrição, para quem Jesus Cristo é um tropeço. Permitam-me que vos faça uma
descrição de vós mesmos, de alguns de vós. Também sois membros de uma família
piedosa, não é assim? Sim. E tendes uma religião que amais: amai-la tanto
quanto à crisálida, à parte externa, à coberta, à casca. Não quisestes que se
alterasse nenhuma regra, nem que nenhum desses velhos arcos amados fosse
eliminado, nem que os vitrais se mudassem por nada do mundo; e se alguém
dissesse uma palavra contra tais coisas, catalogá-lo-íeis imediatamente como
herege.
Ou, talvez, não assistais num lugar de
adoração assim, mas, amais um lugar de reunião muito antigo e simples, aonde os
vossos ancestrais adoraram, ou seja, uma capela dissidente. Ah!, é um formoso
lugar singelo; vós amai-lo, amais as suas ordenanças, amais o seu exterior; e
se alguém falasse contra esse lugar, sentir-vos-íes muito vexados. Credes que o
que fazeis ali, deveria fazer-se em toda a parte; de fato, a vossa igreja é uma
igreja modelo; o lugar aonde ides, é exatamente o tipo de lugar que é bom para
toda a gente; e se eu vos perguntasse por que tendes a esperança de ir para o
Céu, talvez respondêsseis: “Porque sou Batista,” ou, “Porque pertenço à Igreja
Episcopal,” ou a qualquer outra denominação a que pertençais. Já vos tenho
descrito. Eu sei que Jesus Cristo será um tropeço para vós.
Se eu viesse
e te dissesse que todas as tuas idas à casa de Deus não te servem de nada; se
eu te dissesse que todas essas vezes que estiveste cantando e orando, passaram
despercebidas aos olhos de Deus, porque tu és um hipócrita e um formalista. Se
eu te dissesse que o teu coração não tem a relação correta com Deus, e a menos
que a tenhas, tudo o que é exterior não te serve de nada, eu sei o que
responderias: “Não vou ouvir mais a esse jovem.” É um tropeço. Mas se entrasses
num qualquer lugar onde escutasses que se exalta o formalismo; se te dissesse
“deves fazer isto, e deves fazer aquilo, e então serás salvo,” isso sim
aprová-lo-ias de bom grado.
Mas quantas
pessoas há que são religiosas no exterior, irrepreensíveis de caráter, ainda
que nunca tenham tido a influência regeneradora do Espírito Santo; que nunca
tenham sido conduzidas a prostrar-se com a sua face no chão ante a cruz do
Calvário; que nunca voltaram um olho anelante para o Salvador crucificado; que nunca
puseram a sua confiança Nele, que foi sacrificado a favor dos filhos dos
homens. Eles amam uma religião superficial, mas quando um homem fala algo mais
profundo do que isso, declaram que é um discurso arrevesado.
Vós podeis
amar tudo que é exterior acerca da religião, da mesma maneira como podeis
admirar um homem pela sua roupa: sem que para nada vos importe o próprio homem. Se é assim, eu sei que pertenceis ao grupo
dos que rejeitam o Evangelho. Ouvistes pregar-me; e enquanto eu fale de coisas
externas, ouvir-me-eis com atenção; enquanto eu promova a moralidade, e
argumente contra a bebedeira, ou mostre a atrocidade do descumprimento do
repouso do dia de domingo, tudo irá muito bem; mas se disser uma vez mais: “Se
não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis
no reino dos céus”; se vos digo alguma vez que deveis ser eleitos por Deus, que
deveis ser comprados com o sangue do Salvador, que deveis ser convertidos pelo
Espírito Santo, direis: “és um fanático! Fora daqui com ele! Fora daqui com
ele! Não queremos ouvir mais nada disso.” Cristo crucificado é para o Judeu, o
ritualista, um tropeço.
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