quinta-feira, 10 de julho de 2014

SABEDORIA DE DEUS (5)




SPURGEON
         Adeus, velho Judeu! Tu dormes com os teus pais, e a tua geração é uma raça errante, que ainda caminha pela Terra. Adeus! Já terminei de falar contigo. Ai!, pobre infeliz, esse Cristo que era o teu tropeço, será o teu Juiz, e sobre a tua cabeça recairá essa sonora maldição: “O Seu sangue seja sobre nós, e sobre os nossos filhos.” Mas eu encontro o senhor Judeu aqui, em Exeter Hall: pessoas que encaixam nessa descrição, para quem Jesus Cristo é um tropeço. Permitam-me que vos faça uma descrição de vós mesmos, de alguns de vós. Também sois membros de uma família piedosa, não é assim? Sim. E tendes uma religião que amais: amai-la tanto quanto à crisálida, à parte externa, à coberta, à casca. Não quisestes que se alterasse nenhuma regra, nem que nenhum desses velhos arcos amados fosse eliminado, nem que os vitrais se mudassem por nada do mundo; e se alguém dissesse uma palavra contra tais coisas, catalogá-lo-íeis imediatamente como herege.
         Ou, talvez, não assistais num lugar de adoração assim, mas, amais um lugar de reunião muito antigo e simples, aonde os vossos ancestrais adoraram, ou seja, uma capela dissidente. Ah!, é um formoso lugar singelo; vós amai-lo, amais as suas ordenanças, amais o seu exterior; e se alguém falasse contra esse lugar, sentir-vos-íes muito vexados. Credes que o que fazeis ali, deveria fazer-se em toda a parte; de fato, a vossa igreja é uma igreja modelo; o lugar aonde ides, é exatamente o tipo de lugar que é bom para toda a gente; e se eu vos perguntasse por que tendes a esperança de ir para o Céu, talvez respondêsseis: “Porque sou Batista,” ou, “Porque pertenço à Igreja Episcopal,” ou a qualquer outra denominação a que pertençais. Já vos tenho descrito. Eu sei que Jesus Cristo será um tropeço para vós.
         Se eu viesse e te dissesse que todas as tuas idas à casa de Deus não te servem de nada; se eu te dissesse que todas essas vezes que estiveste cantando e orando, passaram despercebidas aos olhos de Deus, porque tu és um hipócrita e um formalista. Se eu te dissesse que o teu coração não tem a relação correta com Deus, e a menos que a tenhas, tudo o que é exterior não te serve de nada, eu sei o que responderias: “Não vou ouvir mais a esse jovem.” É um tropeço. Mas se entrasses num qualquer lugar onde escutasses que se exalta o formalismo; se te dissesse “deves fazer isto, e deves fazer aquilo, e então serás salvo,” isso sim aprová-lo-ias de bom grado.
         Mas quantas pessoas há que são religiosas no exterior, irrepreensíveis de caráter, ainda que nunca tenham tido a influência regeneradora do Espírito Santo; que nunca tenham sido conduzidas a prostrar-se com a sua face no chão ante a cruz do Calvário; que nunca voltaram um olho anelante para o Salvador crucificado; que nunca puseram a sua confiança Nele, que foi sacrificado a favor dos filhos dos homens. Eles amam uma religião superficial, mas quando um homem fala algo mais profundo do que isso, declaram que é um discurso arrevesado.
         Vós podeis amar tudo que é exterior acerca da religião, da mesma maneira como podeis admirar um homem pela sua roupa: sem que para nada vos importe o próprio homem. Se é assim, eu sei que pertenceis ao grupo dos que rejeitam o Evangelho. Ouvistes pregar-me; e enquanto eu fale de coisas externas, ouvir-me-eis com atenção; enquanto eu promova a moralidade, e argumente contra a bebedeira, ou mostre a atrocidade do descumprimento do repouso do dia de domingo, tudo irá muito bem; mas se disser uma vez mais: “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”; se vos digo alguma vez que deveis ser eleitos por Deus, que deveis ser comprados com o sangue do Salvador, que deveis ser convertidos pelo Espírito Santo, direis: “és um fanático! Fora daqui com ele! Fora daqui com ele! Não queremos ouvir mais nada disso.” Cristo crucificado é para o Judeu, o ritualista, um tropeço.

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