quinta-feira, 17 de julho de 2014

SABEDORIA DE DEUS (12)




SPURGEON
         Mas contemplai outra cena completamente diferente. Ali não encontramos uma multidão; é uma habitação silenciosa. Encontramos um pobre enxergão, uma cama solitária: um médico acompanha-a. Ali está uma jovenzita; o seu rosto está pálido pela tísica; há já algum tempo que o verme lhe tem carcomido a bochecha, e ainda que algumas vezes lhe regresse o seu rubor, é, contudo, o rubor da morte do enganoso destruidor. Ali jaz, pálida e débil, descolorida, desgastada, moribunda: sem embargo, vede um sorriso no seu rosto, como se tivesse visto um anjo. Fala, e há música na sua voz. A Joana d’Arco da história não foi nem metade tão poderosa como essa moça. Ela luta com dragões no seu leito de morte; mas, olhai a sua serenidade, e ouvi o seu soneto agonizante:
“Jesus!, amante da minh’alma,
Deixa-me precipitar-me em Teu peito,
Enquanto arrebentam junto a mim as ondas,
Enquanto a tempestade cresce!
Esconde-me, Ó meu Salvador! Esconde-me
Até que passe a tormenta da vida!
Guia-me com segurança para o porto seguro;
Ó, recebe, no fim, a minha alma!
         E com um sorriso fecha os seus olhos na Terra, para abri-los no Céu. O que é que lhe permite morrer dessa maneira? É o poder de Deus para a salvação; é a cruz; é Jesus crucificado.
         Tenho muito pouco tempo para refletir sobre o último ponto, e longe de mim está o querer cansá-los com um sermão comprido e prosaico, mas, devemos dar uma olhadela à outra afirmação: Cristo é, para os chamados, sabedoria de Deus, assim como poder de Deus. Para um crente, o Evangelho é a perfeição da sabedoria, e se não o considera assim o ímpio, é devido à perversão do juízo resultado da sua depravação.
         Uma ideia tem possuído durante muito tempo a mente pública, e é que um homem religioso dificilmente pode ser um homem sábio. O costume tem sido falar dos infiéis, dos ateus e dos deístas como homens de pensamento profundo e de vasto intelecto; e tremer por ele o polemista Cristão, como se fosse cair com certeza às mãos do seu inimigo. Mas isto é puramente um engano; pois o Evangelho é a soma da sabedoria; o epítome do conhecimento; uma tesouraria da verdade; e uma revelação de secretos mistérios.
         Nele vemos como a justiça e a misericórdia podem casar-se; aqui vemos a lei inexorável inteiramente satisfeita, e ao amor soberano carregando o pecador em triunfo. A nossa meditação sobre ele engrandece a mente; e na medida em que se abre a nossa alma em lampejos sucessivos de glória, ficamos atônitos ante a profunda sabedoria manifesta nele.
         Ah, queridos amigos! Se procurais sabedoria, vê-la-eis exibida em toda a sua grandeza, não no balanço das nuvens, nem na firmeza dos alicerces da Terra; não na marcha cadenciada dos exércitos do firmamento, nem no movimento perpétuo das ondas do mar; nem na vegetação com todas as suas formosas formas de beleza; nem tampouco no animal com o seu maravilhoso tecido de nervo, e de veia, e de músculo: nem no homem, essa última e mais elevada obra do Criador.
          Mas voltai a vossa vista e vede este grandioso espetáculo! Um Deus encarnado sobre a cruz; um substituto expiando a culpa mortal; um sacrifício satisfazendo a vingança do Céu; e salvando o pecador rebelde.

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