SPURGEON
Mas contemplai outra cena
completamente diferente. Ali não encontramos uma multidão; é uma habitação
silenciosa. Encontramos um pobre enxergão, uma cama solitária: um médico
acompanha-a. Ali está uma jovenzita; o seu rosto está pálido pela tísica; há já
algum tempo que o verme lhe tem carcomido a bochecha, e ainda que algumas vezes
lhe regresse o seu rubor, é, contudo, o rubor da morte do enganoso destruidor.
Ali jaz, pálida e débil, descolorida, desgastada, moribunda: sem embargo, vede
um sorriso no seu rosto, como se tivesse visto um anjo. Fala, e há música na
sua voz. A Joana d’Arco da história não foi nem metade tão poderosa como essa
moça. Ela luta com dragões no seu leito de morte; mas, olhai a sua serenidade, e
ouvi o seu soneto agonizante:
“Jesus!, amante da minh’alma,
Deixa-me precipitar-me em Teu peito,
Enquanto arrebentam junto a mim as ondas,
Enquanto a tempestade cresce!
Esconde-me, Ó meu Salvador! Esconde-me
Até que passe a tormenta da vida!
Guia-me com segurança para o porto seguro;
Ó, recebe, no fim, a minha alma!
E com um
sorriso fecha os seus olhos na Terra, para abri-los no Céu. O que é que lhe
permite morrer dessa maneira? É o poder de Deus para a salvação; é a cruz; é
Jesus crucificado.
Tenho muito
pouco tempo para refletir sobre o último ponto, e longe de mim está o querer
cansá-los com um sermão comprido e prosaico, mas, devemos dar uma olhadela à
outra afirmação: Cristo é, para os chamados, sabedoria de Deus, assim como
poder de Deus. Para um crente, o Evangelho é a perfeição da sabedoria, e se não
o considera assim o ímpio, é devido à perversão do juízo resultado da sua
depravação.
Uma ideia tem
possuído durante muito tempo a mente pública, e é que um homem religioso
dificilmente pode ser um homem sábio. O costume tem sido falar dos infiéis, dos
ateus e dos deístas como homens de pensamento profundo e de vasto intelecto; e
tremer por ele o polemista Cristão, como se fosse cair com certeza às mãos do
seu inimigo. Mas isto é puramente um engano; pois o Evangelho é a soma da
sabedoria; o epítome do conhecimento; uma tesouraria da verdade; e uma
revelação de secretos mistérios.
Nele vemos como a justiça
e a misericórdia podem casar-se; aqui vemos a lei inexorável inteiramente
satisfeita, e ao amor soberano carregando o pecador em triunfo. A nossa
meditação sobre ele engrandece a mente; e na medida em que se abre a nossa alma
em lampejos sucessivos de glória, ficamos atônitos ante a profunda sabedoria
manifesta nele.
Ah, queridos
amigos! Se procurais sabedoria, vê-la-eis exibida em toda a sua grandeza, não
no balanço das nuvens, nem na firmeza dos alicerces da Terra; não na marcha
cadenciada dos exércitos do firmamento, nem no movimento perpétuo das ondas do
mar; nem na vegetação com todas as suas formosas formas de beleza; nem tampouco
no animal com o seu maravilhoso tecido de nervo, e de veia, e de músculo: nem
no homem, essa última e mais elevada obra do Criador.
Mas voltai a vossa vista e vede este grandioso
espetáculo! Um Deus encarnado sobre a cruz; um substituto expiando a culpa
mortal; um sacrifício satisfazendo a vingança do Céu; e salvando o pecador
rebelde.
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