“Unicamente a Sua graça imerecida, de principio a fim,
Ganhou o meu afeto, e tem sustentado firme a minha alma.”
Para o
Cristão, o Evangelho é um assunto de poder. O que é que faz com que o jovem se
torne num missionário para a causa de Deus, que deixe o seu pai e a sua mãe, e
que vá para terras longínquas? É uma coisa de poder a que o consegue: é o
Evangelho. O que é que constrange aquele ministro, no meio da peste da cólera,
a subir essas escadas que chiam, para estar junto do leito de alguma moribunda
criatura atacada por essa espantosa enfermidade? Deve ser um elemento de poder
o que o guia a arriscar a sua vida; é o amor pela cruz de Cristo que lhe ordena
que o faça.
O que é que
habilita a um homem para que pare em frente duma multidão dos seus semelhantes,
talvez sem que eles o esperem, com a determinação de não falar de outra coisa
senão de Cristo crucificado? O que é que lhe permite clamar: Eia! Como o cavalo
de Jó na batalha, movendo-se glorioso em poder? É um elemento de poder o que o
faz: é Cristo crucificado.
E o que é que dá valor a
essa tímida mulher para que caminhe por esse escuro atalho no entardecer
chuvoso, para se sentar junto à vítima de uma febre contagiosa? O que é que a
fortalece para atravessar essa guarida de ladrões, e a passar junto ao
libertino e ao profano? O que é que a motiva para entrar nessa ossaria de
morte, e sentar-se ali e segredar palavras de consolo? Vai ali pelo ouro? São
muito pobres para que lhe possam dar ouro. Vai ali procurando a fama? Ela nunca
será conhecida, nem participará das crônicas das mulheres poderosas desta
Terra. O que é que a motiva a fazê-lo? Acaso é seu amor ao mérito? Não; ela
sabe que não tem nenhum merecimento ante o alto Céu. O que é que a impulsa a
fazê-lo? É o poder do Evangelho no seu coração; é a cruz de Cristo; ela ama-a,
e, portanto, diz:
“Se todo o reino da natureza fosse meu
Isso seria um presente muito pequeno;
Amor tão surpreendente, tão divino,
É o que requer a minha alma, a minha vida, o meu tudo.”
Mas eu contemplo outra cena. Um mártir
é levado rapidamente à fogueira; os verdugos estão ao seu redor; a turba troça,
mas ele marcha para diante com firmeza. Vede, atam-no ao poste, pondo uma
cadeia à sua cintura; empilham molhos de paus ao seu redor; a chama é acesa;
escutai as suas palavras; “Bendiz, minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser
bendiga o Teu santo Nome.” As chamas estão ardendo ao redor das suas pernas; o
fogo está queimando-o até aos ossos; olhai-o como levanta as suas mãos enquanto
diz: “Eu sei que meu Redentor vive, e ainda que o fogo devore o meu corpo, na
minha carne hei-de ver o Senhor.” Vede-o como se agarra à estaca, e a beija
como se a amasse, e escutai-o dizer: “Por cada elo de ferro com que o homem me
prenda, Deus dar-me-á uma cadeia de ouro; por todos estes molhos de paus e esta
ignomínia e vergonha, Ele aumentará o peso de minha eterna glória.” Olhai,
todas as partes inferiores do seu corpo foram consumidas; ainda ele vive a
tortura; por fim dobra-se e a parte superior do seu corpo desaba; e, enquanto
cai ouve-lo dizer: “Em Tuas mãos entrego o meu Espírito.” Senhores, que magia
surpreendente havia nele? O que foi que fortaleceu esse homem? O que o ajudou a
suportar essa crueldade? O que o fez permanecer imóvel no meio das chamas? Foi
o elemento de poder; foi a cruz de Jesus crucificado. Pois “para os que se
salvam, isto é, para nós, é o poder de Deus.”
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