C. H. Spurgeon
Sem
embargo, irmãos, alguma ou outra forma disto, é muito comum. Todos os caminhos
de um homem são limpos para ele uma vez que adotou a ideia de que a religião
cerimoniosa, ou a conversação religiosa, ou a profissão religiosa podem
compensar pelo pecado moral.
Ah,
irmãos, este mal poderia infiltrar-se até entre nós. Não sejamos tão velozes a
condenar o fariseu quando, talvez, o mesmo pecado pode poluir as nossas
próprias almas. Conheci um homem que era considerado como um firme calvinista
que acreditava em toda a alta doutrina, mas que vivia uma vida muito corrupta.
Desprezava os “arminianos”, conforme decidiu chamá-los, ainda que alguns desses
seres desprezados viviam muito perto de Deus e caminhavam em santidade e em
integridade. O arminiano, piedoso como era, perder-se-ia; porém, este homem
ortodoxo, justo com justiça própria, que podia ao mesmo tempo beber e enganar,
pensava que ia ser salvo porque tinha sido capaz de ver a verdade de certas
doutrinas, que também o diabo via assim como ele.
Conheci
outro que pensava que tinha uma profunda e memorável experiência, que falava
longamente da depravação do seu coração, ao ponto de que algumas pessoas
pensavam que deveria ser capaz de falar a respeito disso muito verazmente, pois
demonstrava-o na sua vida; e, sem embargo, porque podia repetir frases
insinceras, e tinha adotado certas ricas expressões de experiência livresca,
pensava, realmente no seu interior, que não somente era muito bom, mas também
um modelo a ser copiado por outros. À direita e à esquerda, homens como estes
lançarão maldições e anátemas sobre os melhores e os mais sinceros dos santos.
Eles são os homens; a sabedoria morrerá com eles. Havendo morrido a
santidade com eles, não há de surpreender-nos que a sabedoria morra, também.
Ah!,
tenhamos cuidado para que nem vós nem eu bebamos o mesmo espírito noutra forma.
Ah!, pregador, toda a tua pregação pode ser muito boa e bastante sólida e
correta, e até poderá ser edificante para o povo de Deus, e estimulante para os
não convertidos. Mas, recorda que Deus não te julgará pelos teus sermões, mas
sim pelo teu espírito, pois Ele não pesa as tuas palavras, mas antes o teu
motivo, o teu desejo, o teu propósito ao pregares o Evangelho.
Diácono
da igreja, tu poderás ter caminhado com toda a honra durante muitos anos, e
poderás ser universalmente respeitado, e o teu ofício poderá ter sido bem
cumprido em todos os seus deveres externos, porém, se o teu coração não for
reto, se algum pecado secreto for consentido, se houver uma chaga gangrenosa na
tua profissão que ninguém conhece senão tu mesmo, o Senhor, que pesa o
espírito, não tomará em conta o teu diaconato nem que tenhas levado os cálices
e o pão na comunhão, mas sim, serás achado em falta e serás lançado fora.
Tu,
também, irmão ancião, os teus lavores e as tuas orações não são nada se o teu
coração for maligno. Podes haver visitado os demais e havê-los instruído e
teres sido um juiz da sua condição; mesmo assim, se tu não tens servido a Deus
e à Sua igreja motivado pelo puro desejo da Sua glória, tu também, posto na
balança, serás rechaçado com aborrecimento. Eu oro frequentemente –sem embargo,
queria orar ainda mais– para que nenhum de nós neste lugar seja convencido da
ideia de que estamos bem se estivermos mal. Não é a tua assistência ao
Tabernáculo, não é o tu seres membro da igreja, o teu batismo, a tua
assistência às reuniões de oração, nem que faças algo, o que terá alguma
relevância neste assunto; é a entrega verdadeira do teu coração a Deus, e que
vivas de conformidade com a tua profissão; e a menos que a graça de Deus te
seja realmente dada para fazê-lo, os teus caminhos poderão ser limpos na tua
própria opinião devido à tua profissão externa; porém, o Senhor que pesa os espíritos
terminará rapidamente com essas borbulhas, Ele partirá toda essa confeitaria,
destroçará estas falsas aparências, e deixará o homem que pensou ter um palácio
sobre a sua cabeça ao longo da eternidade, que ele se sente e tirite entre as
ruínas da sua Babilônia, e que grite e chore e gema entre dragões e diabos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário