sexta-feira, 24 de maio de 2013

SEPARAÇÃO




MACKINTOSH
         Uma das maiores dificuldades que o crente enfrenta hoje, como em todos os tempos, é saber caminhar por uma vereda estreita com um coração largo. Muitas coisas, de todos lados, empurram-no para que  tome uma posição de separação. Os laços da amizade humana são tão frágeis, surgem tantas coisas que debilitam a confiança, tantas coisas que não se podem aprovar, que o caminho do crente fiel se torna cada vez mais solitário. Tudo isto é irrefutável. Porém devemos pôr o máximo cuidado na maneira como enfrentamos este estado de coisas. É extremamente importante ter em conta o espírito como nos comportamos no meio de cenas e circunstâncias que, todos admitiríamos, põem à prova a nossa fé de uma maneira muito particular.
         Por exemplo, posso, fechar-me sobre mim mesmo, e tornar-me amargo, triste, duro, repulsivo, seco e sem coração para com o povo do Senhor, para com o seu serviço, e para com os felizes e santos exercícios da Assembleia. Posso tornar-me estéril em boas obras, sem simpatia pelos pobres, pelos doentes, pelos afligidos, viver encerrado dentro do meu estreito círculo, pensando só em mim mesmo e nos meus interesses pessoais e familiares.
         Pode haver um estado mais miserável que este? Pois não, já que este não é outro senão o muito deplorável egoísmo, mas não nós não damos conta dele porque estamos cegos com nossa excessiva ocupação com as faltas dos outros.
         Pois bem, é muito fácil descobrir defeitos, debilidades e faltas nos nossos irmãos e amigos. Mas a questão é esta: Como devemos enfrentar estas coisas? Fechando-nos sobre nós mesmos? Jamais! Atuar assim seria tornar-nos tão miseráveis como inúteis, e ainda pior que inúteis para os demais. Nada pode ser mais desditoso que um homem decepcionado. Põe-se sempre a criticar os demais. Jamais descobriu a raiz oculta deste hábito, nem a verdadeira maneira de tratá-lo. Retirou-se, mas em si mesmo; isolou-se, mas o seu isolamento é uma posição absolutamente falsa. Encontra-se num estado miserável, e torna, também, tão miseráveis, débeis e insensatos como ele, a todos aqueles que o seguem, e o escutam. O seu viver diário é uma completa bancarrota; sucumbiu às dificuldades do seu tempo, e demonstrou ser totalmente incapaz de fazer frente às duras realidades da vida atual. E então, em vez de tomar consciência disso e de confessá-lo, encerra-se no seu estreito círculo de ideias e pensamentos, sem parar de criticar a todos, exceto a si mesmo.
         Que delícia e que consolo achamos ao voltarmo-nos deste quadro tão triste para contemplar o único Homem perfeito que pisou as sendas  desta Terra! O Seu caminho foi certamente solitário, mais que nenhum outro. Nunca achou qualquer simpatia, qualquer compreensão, ao Seu redor. “O mundo não o conheceu.” “Veio para os seus (Israel), e os seus não o receberam.” “Esperei quem se compadecesse de mim, e não o houve; e consoladores, e nenhum achei. (João 1:10-11; Salmo 69:20). Até os seus amados discípulos se mostraram incapazes de simpatizar com Ele e de compreendê-Lo. Adormeceram no Monte da Transfiguração, na presença da Sua glória, da mesma maneira no horto do Getsêmane, em presença da Sua agonia. Despertaram-No do Seu sono na barca, por causa da sua incrédula angústia; e continuamente O importunavam com as suas perguntas ignorantes e pensamentos insensatos.
         Como respondeu o Senhor a tudo isto? Com uma graça, paciência e ternura perfeitas. Respondeu a todas as suas perguntas, corrigiu os seus pensamentos, apaziguou os seus temores, aplainou as suas dificuldades, proveu as suas necessidades, suportou as suas debilidades, reconheceu-lhes devoção no preciso momento em que todos iriam abandoná-Lo. Ele olhava-os através dos Seus olhos de amor, e amava-os apesar de tudo. “Como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13.1).
         Leitor cristão, empapemo-nos do espírito do nosso adorável Mestre, e andemos sobre as Suas pegadas. Então a nossa será separação certa, genuína e verdadeira; e ainda que o nosso caminho seja estreito, o nosso coração será largo.

Tradução de Carlos António da Rocha

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