MACKINTOSH
Uma das maiores dificuldades que o
crente enfrenta hoje, como em todos os tempos, é saber caminhar por uma vereda
estreita com um coração largo. Muitas coisas, de todos lados, empurram-no para
que tome uma posição de separação. Os laços da amizade humana são tão
frágeis, surgem tantas coisas que debilitam a confiança, tantas coisas que não
se podem aprovar, que o caminho do crente fiel se torna cada vez mais
solitário. Tudo isto é irrefutável. Porém devemos pôr o máximo cuidado na
maneira como enfrentamos este estado de coisas. É extremamente importante ter
em conta o espírito como nos comportamos no meio de cenas e circunstâncias que,
todos admitiríamos, põem à prova a nossa fé de uma maneira muito particular.
Por
exemplo, posso, fechar-me sobre mim mesmo, e tornar-me amargo, triste, duro,
repulsivo, seco e sem coração para com o povo do Senhor, para com o seu
serviço, e para com os felizes e santos exercícios da Assembleia. Posso
tornar-me estéril em boas obras, sem simpatia pelos pobres, pelos doentes,
pelos afligidos, viver encerrado dentro do meu estreito círculo, pensando só em
mim mesmo e nos meus interesses pessoais e familiares.
Pode
haver um estado mais miserável que este? Pois não, já que este não é outro
senão o muito deplorável egoísmo, mas não nós não damos conta dele porque
estamos cegos com nossa excessiva ocupação com as faltas dos outros.
Pois
bem, é muito fácil descobrir defeitos, debilidades e faltas nos nossos irmãos e
amigos. Mas a questão é esta: Como devemos enfrentar estas coisas? Fechando-nos
sobre nós mesmos? Jamais! Atuar assim seria tornar-nos tão miseráveis como
inúteis, e ainda pior que inúteis para os demais. Nada pode ser mais desditoso
que um homem decepcionado. Põe-se sempre a criticar os demais. Jamais descobriu
a raiz oculta deste hábito, nem a verdadeira maneira de tratá-lo. Retirou-se,
mas em si mesmo; isolou-se, mas o seu isolamento é uma posição absolutamente
falsa. Encontra-se num estado miserável, e torna, também, tão miseráveis,
débeis e insensatos como ele, a todos aqueles que o seguem, e o escutam. O seu
viver diário é uma completa bancarrota; sucumbiu às dificuldades do seu tempo,
e demonstrou ser totalmente incapaz de fazer frente às duras realidades da vida
atual. E então, em vez de tomar consciência disso e de confessá-lo, encerra-se
no seu estreito círculo de ideias e pensamentos, sem parar de criticar a todos,
exceto a si mesmo.
Que
delícia e que consolo achamos ao voltarmo-nos deste quadro tão triste para
contemplar o único Homem perfeito que pisou as sendas desta Terra! O Seu
caminho foi certamente solitário, mais que nenhum outro. Nunca achou qualquer
simpatia, qualquer compreensão, ao Seu redor. “O mundo não o conheceu.” “Veio
para os seus (Israel), e os seus não o receberam.” “Esperei quem se
compadecesse de mim, e não o houve; e consoladores, e nenhum achei. (João
1:10-11; Salmo 69:20). Até os seus amados discípulos se mostraram incapazes de
simpatizar com Ele e de compreendê-Lo. Adormeceram no Monte da Transfiguração,
na presença da Sua glória, da mesma maneira no horto do Getsêmane, em presença
da Sua agonia. Despertaram-No do Seu sono na barca, por causa da sua incrédula
angústia; e continuamente O importunavam com as suas perguntas ignorantes e
pensamentos insensatos.
Como
respondeu o Senhor a tudo isto? Com uma graça, paciência e ternura perfeitas.
Respondeu a todas as suas perguntas, corrigiu os seus pensamentos, apaziguou os
seus temores, aplainou as suas dificuldades, proveu as suas necessidades,
suportou as suas debilidades, reconheceu-lhes devoção no preciso momento em que
todos iriam abandoná-Lo. Ele olhava-os através dos Seus olhos de amor, e
amava-os apesar de tudo. “Como havia amado os Seus que estavam no mundo,
amou-os até ao fim” (João 13.1).
Leitor
cristão, empapemo-nos do espírito do nosso adorável Mestre, e andemos sobre as
Suas pegadas. Então a nossa será separação certa, genuína e verdadeira; e ainda
que o nosso caminho seja estreito, o nosso coração será largo.
Tradução
de Carlos António da Rocha
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