3. Beneficiamo-nos de nossos estudos bíblicos, quando ficamos
conscientes da Necessidade que temos da ajuda do Espírito Santo.
Em primeiro lugar, para que Ele nos
torne conhecidas as nossas autênticas necessidades. Tomemos, por exemplo, as
nossas necessidades temporais. Com quanta frequência achamo-nos em alguma
situação aflitiva; externamente falando, as coisas nos pressionam fortemente, e
desejamos muito ser libertos desses testes e dessas dificuldades. Certamente
que, nesse caso, sabemos, por nós
mesmos, acerca do que nos convém
orar. Mas não! De fato, as coisas são bem diferentes disso! Pois, a verdade é
que, a despeito de nosso desejo natural de alívio, tão ignorantes somos nós, e
tão embotado é o nosso discernimento, que (até mesmo quando nossa consciência
está desperta) não sabemos em que ponto Deus quer que nos submetamos à Sua
Vontade, ou de que modo poderemos ser santificados nessas aflições, fazendo-as
redundar em nosso bem interno.
Por conseguinte, Deus designa as
petições da maioria daqueles que buscam alívio, devido a aflições externas, de
"uivos", e não "clamores de coração" (Oséias 7:14). "Pois,
quem sabe o que é bom para o homem, durante os poucos dias da sua vida de
vaidade, os quais gasta como sombra?". (Eclesiastes 6:12). Ah, a sabedoria
celestial se torna necessária, para ensinar-nos a orar acerca das nossas
"necessidades" temporais, de conformidade com a mente de Deus. Talvez
algumas poucas palavras precisem ser acrescentadas àquilo que acabamos de
dizer. Podemos orar, com sanção bíblica, pelas coisas temporais (Mateus
6:11ss.); mas, isso com a seguinte tríplice limitação: Incidentalmente, mas não
primariamente, podemos orar por elas, pois, não são essas as coisas que mais
preocupam o crente (Mateus 6:33). As realidades celestiais e eternas,
(Colossenses 3:1) é que devem ser procuradas primeira e principalmente, por
serem de muito maior importância do que as coisas de valor meramente temporal.
Também podemos orar subordinadamente,
como um meio para obtenção de um fim qualquer. Ao pedirmos as coisas materiais
da parte de Deus, não devemos fazê-lo, a fim de obter satisfação própria, e,
sim, como ajuda que nos permita agradar melhor ao Senhor. Por fim, podemos orar
de maneira submissa, e não como ditadores, porquanto isso importaria no pecado
de presunção. Outrossim, não sabemos dizer com certeza se qualquer misericórdia temporal, realmente contribuiria
para nosso maior bem (Salmo 106:18), pelo que também devemos permitir que Deus
decida a questão.
Temos desejos internos; tanto quanto
desejos externos. Alguns desses desejos podem ser discernidos à luz da
consciência, tal como a culpa e a contaminação do pecado, como os pecados
contra a luz e contra a natureza de acordo com a clara letra da lei. Não
obstante, o conhecimento que temos de nós mesmos, através da consciência, é tão
obscuro e confuso que, à parte do auxílio do Espírito Santo, de forma alguma,
seremos capazes de descobrir a verdadeira fonte da purificação. As coisas a
respeito das quais os crentes devem tratar primariamente com Deus, e geralmente
o fazem, em suas súplicas, são as atitudes intimas e as disposições espirituais
de suas almas.
Assim é que Davi não se satisfez
somente em confessar todas as transgressões conhecidas, e o seu pecado original
(Salmo 51:1-5), nem ainda em reconhecer que ninguém, poderia compreender os
seus erros próprios, em razão de que almejava ser purgado de suas ''faltas
ocultas" (Salmo 19:12); mas, também implorou a Deus que levasse a efeito a
sondagem profunda de seu coração, para que desvendasse o que havia de errado
ali (Salmo 139:23,24), porque sabia que Deus, antes de tudo, requer a,
"... Verdade no íntimo...". (Salmos 51:6). Portanto, em face do
trecho de I Coríntios 2:10-12, devemos buscar, de maneira bem definida, a ajuda
do Espírito Santo, a fim de podermos orar de modo aceitável a Deus.
4. Extraímos benefícios das Escrituras, quando o Espírito Santo nos
ensina a Correta finalidade da oração.
Deus determinou a ordenança da oração
com, pelo menos, um designo tríplice. Primeiro, para que o Grande Deus Triuno
seja honrado, já que a oração é um ato de adoração, a prestação de uma
homenagem – a Deus Pai, como o Doador, em nome do Filho, o Único por intermédio
de quem nos aproximamos Dele, devido ao poder impulsionador e orientador do
Espírito Santo. Segundo, para humilhar
os nossos corações, já que a oração foi determinada para levar-nos a uma
posição de dependência, para que em nós, se desenvolva o senso de incapacidade,
reconhecendo que sem o Senhor, nada podemos fazer, porquanto também dependemos
da Sua caridade por tudo quanto somos, e temos. Porém, quão debilmente isso é
percebido (se é que é percebido), por qualquer de nós, até que o Espírito Santo
nos tome em Sua mão, remova de nós o orgulho, e dê a Deus o lugar que a Ele
compete, em nossos corações e em nossos pensamentos. Terceiro, como meio pelo
que obtenhamos para nós mesmos, as coisas boas que pedimos.
É de temer-se grandemente, que uma das
principais razões pelas quais tantas de nossas orações ficam sem resposta, é
que temos alguma finalidade errônea e indigna em mira. Nosso Salvador disse:
"Pedi, e dar-se-vos-á" (Mateus 7:7). No entanto, Tiago ensina a
respeito de certos homens: "... Pedis, e não recebeis, porque pedis mal,
para esbanjardes em vossos prazeres". (Tiago 4:3).
Orar em prol de qualquer coisa, mas
não expressamente para a finalidade designada por Deus, é "Pedir
mal", e, portanto, é pedir sem propósito algum. Qualquer que seja a
confiança que podemos ter em nossa própria sabedoria e integridade, se formos
abandonados aos nossos próprios recursos, nossos alvos jamais se harmonizarão
com a Vontade de Deus. A menos que o Espírito Santo refreie a natureza carnal
que há em nós, nossos próprios afetos naturais e insubmissos se imiscuirão em
nossas súplicas, e estas se tomarão vãs. "Quer comais, quer bebais, ou
façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus". (I Coríntios
10:31). Contudo, somente o Espírito pode capacitar-nos a subordinar todos os
nossos desejos à Glória Divina.
5. Tiramos proveito das Escrituras, quando ali somos ensinados sobre
como devemos pleitear as Promessas de Deus.
Toda a oração deve ser feita na
atmosfera da fé, (Romanos 10:14), pois, do contrário, Deus não a ouvirá. Ora, a
fé diz respeito às Promessas de Deus, (Hebreus 4:1; Rom. 4:21); por
conseguinte, se não entendermos o que Deus Se comprometeu a dar-nos, não
poderemos nem ao menos orar. As Promessas de Deus contêm a matéria da oração, e
definem as suas dimensões. Aquilo que Deus tem prometido, tudo quanto Ele tem
prometido, e nada mais, sobre isso podemos orar. "As cousas encobertas
pertencem ao SENHOR nosso Deus..." (Deut. 29:29),
Mas, aquilo que Ele tem mostrado ser
de Sua Vontade, como revelação de Sua Igreja, pertence a nós; e isso nos serve
de regra. Não há nada de que tenhamos necessidade, que Deus não tenha prometido
suprir; mas, o faz de tal maneira, e sob tais limitações que sejam boas e úteis
para nós. Por semelhante modo, nada há que Deus tenha prometido, e de que não
tenhamos necessidade, ou que, de um modo ou de outro, não se refira a nós, na
qualidade de membros do corpo místico de Cristo. Portanto, quanto melhor
estivermos familiarizados com as Promessas Divinas, e quanto mais formos
capazes de compreender a bondade, a graça e a misericórdia preparadas e
propostas naquelas Promessas, tanto melhor equipados estaremos para fazer
orações aceitáveis ao Senhor.
Algumas das Promessas de Deus são gerais,
e não específicas; algumas delas são condicionais, ao passo que outras são
incondicionais; algumas se cumprem ainda nesta vida, mas outras, somente no
mundo vindouro. Por nós mesmos não somos capazes de discernir qual promessa se
adapta melhor para nosso caso específico e para nossa presente urgência e
necessidade, para que dela nos apropriemos pela fé, e façamos um apelo correto
perante Deus. É por isso que nos é expressamente dito: "Porque qual dos
homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está?
Assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.
Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de
Deus, para que conheçamos, o que por Deus nos foi dado gratuitamente". (I
Coríntios 2:11,12).
Se porventura alguém replicar:
"Se tanta coisa é exigida para que se façam orações aceitáveis, e se não
se podem fazer súplicas corretas a Deus sem tanta dificuldade como aqui é
indicado, poucos se dedicarão por muito tempo a este mister", então a
resposta é que a pessoa que assim objeta, não sabe o que é orar, e nem está disposta a
aprender a fazê-lo.
6. Tiramos real proveito das Escrituras, quando somos levados a uma
completa Submissão a Deus.
Conforme foi declarado acima, uma das
finalidades Divinas, ao determinar a ordenança da oração, é que assim fôssemos
humilhados. Isso é externamente denotado, quando nos prostramos de joelhos
perante o Senhor. A oração é o reconhecimento de nossa incapacidade, e
impotência, em que olhamos para Aquele, de onde chega toda a nossa ajuda. Isso
reconhece a Sua Suficiência, para suprir cada uma das nossas necessidades.
Orar é tornar conhecidas as nossas
"petições" (Filipenses 4:6) a Deus; mas petições são bem diferentes
de exigências. "O trono da graça
não foi erigido para que ali cheguemos e descarreguemos nossos sentimentos
indignados perante Deus" (Wm. Gurnall). Compete-nos expor o nosso caso na
presença de Deus, mas permitir que a Sua sabedoria superior prescreva como a
questão deve ser solucionada. Não podemos ditar a Deus, e nem podemos
"reivindicar" qualquer coisa de Sua parte, porquanto, somos
esmoleiros que dependem de Sua pura misericórdia. Em todas as orações devemos
acrescentar: "No entanto, não seja feita a minha vontade, e, sim, a
Tua".
Porém, não pode a fé pleitear as
promessas de Deus, e esperar a resposta? Certamente, mas deve ser a resposta de
Deus. O apóstolo Paulo rogou ao Senhor, por três vezes, que lhe removesse certo
espinho na carne; ao invés de fazê-lo, o Senhor lhe conferiu a graça, para
suportar tal espinho (II Coríntios 12:7-9). Muitas das Promessas de Deus são
coletivas, e não pessoais. Ele prometeu dar à Sua Igreja pastores, mestres e
evangelistas; no entanto, muitas das comunidades de Seus santos têm definhado
por longo tempo sem esses ministérios. Outras Promessas Divinas são indefinidas
e gerais, ao invés de serem absolutas e universais. Isso se verifica, por
exemplo, no trecho de Efésios 6:2,3. Deus jamais Se comprometeu a dar-nos bens
definidos em espécie ou tipo, a conferir-nos aquela coisa específica que
pedimos, embora a peçamos com fé.
Outrossim, Ele reserva para Si mesmo,
o direito de determinar o tempo próprio, a ocasião certa, para derramar sobre
nós a Sua mercê. "Buscai o SENHOR,
vós todos os mansos da terra... porventura lograreis esconder-vos no dia da ira
do SENHOR" (Sofonias 2:3). Justamente porque "pode" fazer parte
da Vontade de Deus proporcionar-me determinada bênção temporal, é meu dever
lançar-me aos Seus cuidados, e pleitear essa bênção; mas, sempre com inteira
submissão ao Seu beneplácito, para que isso se realize.
7. Beneficiamo-nos das Escrituras, quando a oração se torna uma
Alegria Real e Profunda.
Meramente "dizer as orações"
a cada manhã e tarde é uma tarefa enfadonha, um dever que produz um suspiro de
alívio ao ser realizado. Porém, realmente chegar à Presença consciente de Deus,
contemplar a Luz Gloriosa de Sua face, ter comunhão com Ele diante do
propiciatório, é prelibação da bem-aventurança eterna, que nos espera nos Céus.
Aquele que é abençoado com essa experiência, pode dizer juntamente com o
salmista: "Quanto a mim, bom é estar junto a Deus... " (Salmo 73:28).
Sim, é bom para o coração, porque
esse é aquietado; é bom para a fé,
pois, essa é fortalecida; é bom para a alma,
pois, ela é abençoada. A ausência dessa comunhão de alma com Deus é a raiz que
impede a resposta às nossas orações: "Agrada-te do SENHOR, e Ele satisfará
aos desejos do teu coração" (Salmo 37:4). Qual é o fator que, sob a bênção
do Espírito Santo, produz e promove essa alegria na oração?
Em primeiro lugar, é o deleite do
próprio coração em Deus, como o grande Objeto da oração; e, mais
particularmente, o reconhecimento e a percepção de Deus como nosso Pai. Por essa razão é que quando
os discípulos pediram ao Senhor Jesus que lhes ensinasse a orar, Ele respondeu:
"... Vós orareis assim: ‘Pai nosso que estás nos Céus’..." (Mateus
6:9). E também se lê: "E, porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba (termo hebraico que significa
"Pai") Gálatas 4:6. E isso inclui um deleite filial e santo em Deus,
tal como as crianças têm em seus progenitores, quando se dirigem de maneira
mais amorosa a eles. Por essa razão, por semelhante modo, é que nos é dito, em
Efésios 2:18, para fortalecimento da fé e para consolo de nossos corações que: "...
Por Ele (ou seja, Cristo), ambos temos acesso ao Pai em um Espírito". Que paz, que certeza e que liberdade isso
nos confere à alma – sabermos que nos aproximamos de nosso Pai!
Em segundo lugar, a alegria na oração
é promovida pelo fato de que o coração aprende, e a alma vê a Deus, como Alguém
assentado no trono da graça – uma
visão de expectação, conferida, não pela imaginação carnal, e, sim, pela
iluminação espiritual, já que é pela fé que vemos, "... Aquele que é
invisível". (Hebreus 11:27), Porque também a fé é, "... A convicção
de fatos que se não veem". (Hebreus 11:1), O que faz com que o seu objeto,
se torne evidente e presente para aqueles que creem. Tal vista de Deus sobre um
"trono", não pode deixar de arrebatar a alma. Por isso mesmo, somos
exortados: "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da
graça, a fim de recebermos misericórdia, e acharmos graça para socorro em
ocasião oportuna" (Hebreus 4:16).
Em terceiro lugar, e isso com base no
último trecho bíblico citado, a liberdade e o deleite na oração são
estimulados, pela consciência de que Deus, por intermédio de Jesus Cristo, está
disposto e pronto a dispensar graça e misericórdia aos pecadores súplices. Não
há Nele qualquer relutância que precisamos vencer. Por esse motivo é que ele é
representado, em Isaías 30:18, do seguinte modo: "Por isso o SENHOR
espera, para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós,
porque o SENHOR é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele
esperam". Sim, Deus espera ser solicitado por nós; Ele espera que
depositemos fé em Sua pronta disposição para abençoar-nos. Seus ouvidos estão
perenemente abertos para os clamores dos justos. Assim sendo, "...
Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé...". (Hebreus
10:22). E também se lê em Filipenses 4:6,7: "... Em tudo, porém, sejam
conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com
ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os
vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus".
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