sexta-feira, 24 de maio de 2013

As “Doutrinas da Graça” e a paixão pelas almas dos homens




J. A. Broadus

“Eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos.” (Romanos 9:3)

       A preocupação com a salvação dos outros não é anulada pela crença naquilo que chamamos “As Doutrinas da Graça.” Tal preocupação não diminui por crermos na soberania divina, na predestinação e na eleição. Muitas pessoas demonstram intensa antipatia pelas ideias expressas nestes últimos vocábulos. Recusam-se a aceitá-las, porque, em suas mentes, tais ideias estão associadas ao conceito de indiferença apática. Estas pessoas dizem que, se a predestinação é verdadeira, conclui-se que um homem não pode fazer nada pela sua própria salvação; se tiver de ser salvo, ele sê-lo-á, não podendo ele fazer coisa alguma para isso, nem ele, nem qualquer outra pessoa precisa importar-se com isso.
            Mas isto não é verdade; eu o provarei mediante o fato de que o próprio Paulo, o grande porta-voz dessas doutrinas nas Escrituras, pronunciou essas palavras de interesse e amor ardente, em favor da salvação dos outros, vinculando-as intimamente às passagens em que ele ensinou as doutrinas da graça. Volte os seus olhos para algumas frases anteriores a Romanos 9:3 e encontrará a própria passagem sobre a qual muitos tropeçam. “E aos que predestinou” — muitas pessoas estremecem ao ouvir essas palavras — “a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8:30).
            Apenas um pouco depois de Paulo ter proferido essas palavras, das quais muitos pretendem inferir a ideia de que, crendo nelas, o homem não precisa de se preocupar com a sua salvação ou com a salvação dos outros, vieram aquelas palavras cheias de paixão que constituem o nosso versículo texto. E isso não é tudo, pois você encontrará logo em seguida, o texto onde Paulo falou sobre Esaú e Jacob, afirmando que Deus estabeleceu uma diferença entre eles, antes mesmo de nascerem, e onde disse, a respeito de Faraó, que Deus o havia levantado para demonstrar o Seu poder e declarar o Seu nome em toda a terra. “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.” Algumas boas pessoas chegam a estremecer diante da inferência que lhes parece inevitável de uma linguagem como esta. Mas eu digo que esta inferência deve estar errada, pois o homem inspirado, que proferiu essas palavras, apenas alguns momentos antes havia pronunciado as palavras de nosso versículo texto.
            E, sempre que você perceber que seu coração ou o coração de um amigo está propenso a fugir desses grandes ensinamentos das Escrituras divinas, com relação à soberania e a predestinação, então eu oro para que você não discuta sobre isto, mas que se volte para esse texto bíblico, expresso em linguagem de tão grande preocupação a favor da salvação dos outros, de forma tão intensamente cheia de paixão, que os homens se admirarão e certamente dirão que tais palavras não podem significar o que elas realmente dizem.
       O problema é que neste caso, e em muitos outros, tiramos inferências sem fundamento dos ensinamentos da Palavra de Deus e deitamos todo o nosso desprezo a essas conclusões sobre as verdades que delas extraímos. Ora, qualquer coisa considerada como verdade, a favor ou contra a doutrina do apóstolo acerca da predestinação e da soberania divina na salvação, eu afirmo que isto não torna um homem indiferente à sua própria salvação e à salvação dos outros; este não foi o efeito sobre Paulo, e entre essas duas grandes passagens encontram-se as maravilhosas palavras de nosso versículo texto.

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