terça-feira, 23 de dezembro de 2014

REGENERAÇÃO (7)




SPURGEON
“Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3:3)
         (continuação)
         “Bem”, diz outro, “tomarei cuidado de ser regenerado antes de morrer”. Moço, repito que você é um tolo falando assim; como você sabe se vai continuar vivendo? Você fez um contrato de aluguel por sua vida como o fez com sua casa? Você pode garantir o sopro em suas narinas? Você pode dizer com certeza que seus olhos verão a luz amanhã? Você pode saber se seu coração já não está tocando a marcha fúnebre em direção ao túmulo, e você morrerá onde está parado ou sentado agora? Ó homem! Se seus ossos fossem de ferro, seus tendões de bronze e seus pulmões de aço, então você poderia dizer: “Viverei”. Mas você é feito de pó; você é como a flor no campo; você pode morrer a qualquer momento. Olhe! Estou vendo a morte parada ali, afinando a fosse com sua pedra. Ela vai brandir a foice para alguns de vocês hoje – ela ceifa os campos, e vocês caem um a um. Vocês não devem e não podem viver. Deus nos leva como uma enchente, como um navio num redemoinho, como um galho na correnteza arremessando-se para a cachoeira. Não há como parar nenhum de nós. Todos estamos morrendo! E você ainda diz que quer ser regenerado antes de morrer! Meus senhores, vocês estão regenerados agora? Porque se não, esperar para amanhã pode ser muito tarde. Amanhã vocês podem estar no inferno, com o destino gravado em diamante para sempre.
         “Veja”, exclama outro, “não me importo muito com isso/ não faço caso de ser excluído do paraíso”. Meu senhor, você fala do que não entende. Você sorri agora, mas chegará o dia em que a sua consciência será mais sensível, sua memória estará viva, seu julgamento será às claras e você pensará muito diferente do que agora. Os pecadores no inferno não são tolos como os da terra; no inferno não riem do fogo eterno; no abismo não desprezam as palavras “fogo eterno”. O verme que nunca morre devora todas as piadas e risadas. Você pode estar desprezando a Deus e a mim pelo que estou dizendo agora, mas a morte mudará seu tom de voz.
         Queridos ouvinte, se fosse só isso, eu o suportaria. Vocês podem desprezar a mim; mas eu imploro, não desprezem vocês mesmos! Não sejam idiotas para irem assobiando para o inferno, rindo para o abismo; quando chegarem lá, vocês verão que é bem diferente do que sonham agora. Quando virem as portas do paraíso fechadas para vocês, vocês descobrirão que isto é mais importante do que julgam agora. Vocês vieram hoje ouvir-me pregar, como vão à ópera o u ao teatro; acharam que eu deveria entretê-los. Longe de mim essa intenção. Deus é minha testemunha que vim sole e seriamente para lavar minhas mãos do sangue de vocês. Se algum de vocês for condenado, não será por falta de aviso.
         Meus amigos, eu não posso falar como gostaria. Esta manhã acho que me sinto como Dante quando escreveu seu inferno. As pessoas diziam que ele estivera no inferno; pelo menos ele tinha a aparência de quem esteve. Ele pensou tanto nisso e falou com seriedade e terror tal que disseram: “Ele esteve no inferno”. Oh, se eu pudesse, também falaria como ele. São só mais alguns dias, e eu verei face a face. Posso olhar além do espaço de alguns anos até você e eu estarmos perante o tribunal de Deus: “Vigia, vigia”, diz uma voz, “você os advertiu? Você os advertiu?” Algum de vocês dirá que não? Não, mesmo os mais despreocupados dirão naquele dia: “Nós rimos, nós zombamos, nós não nos importamos; ó Senhor, somos obrigados a falar a verdade: o homem falava sério, falou-nos de nossa condenação, ele está limpo”. É isto que vocês dirão? Eu sei que sim.
(final)





















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