Spurgeon
“O infiel de
coração dos seus próprios caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o
homem de bem” (Provérbios 14:14).
Em primeiro lugar, há apóstatas, que
são os que se unem à igreja de Cristo e agem por algum tempo como se
experimentassem uma transformação real de coração. Essas pessoas com frequência
são muito zelosas por um período e podem se tornar notáveis, se são destacadas,
na igreja de Deus. Eles corriam bem, como aqueles que o apóstolo menciona, mas
alguma coisa se interpõe e diminui o seu passo; em seguida eles param e se
detém e saem do meio do caminho para ficar na margem da estrada. Primeiro em
seus corações eles voltam para o Egito para, assim que encontram uma
oportunidade de retornar, escapar a todos os freios da sua profissão de fé e
esquecer o Senhor abertamente. Certamente o fim dessas pessoas será pior que o
começo. Judas é o grande exemplo destes infiéis destacados. Judas era um crente
professo em Jesus, discípulo do Senhor,
ministro do evangelho, apóstolo de Cristo, tesoureiro de confiança do grupo dos
apóstolos, e acabou se revelando como “filho da perdição”, que vendeu seu
Mestre por trinta moedas de prata. Há muito que ele estava cheio dos seus
caminhos próprios porque, mesmo atormentado pelo remorso, ele jogou fora o
dinheiro de sangue que lhe custara tanto para ganhar, enforcou-se e foi para o
lugar que merecia.
A história de Judas tem sido reescrita
vez após vez na vida dos traidores. Temos ouvido de Judas como diácono ou
presbítero; temos ouvido Judas pregar, temos lido as obras de Judas bispo e
visto Judas o missionário. Às vezes Judas permanece em sua profissão de fé por
anos mas, cedo ou tarde, o verdadeiro caráter do homem se revela. Seu pecado
cai sobre sua cabeça e, se não der um fim em si mesmo, não duvido e, às vezes
nesta vida, ele conviva com um remorso tão terrível que sua alma preferiria
enforcar-se a viver. Ele colheu as uvas de Gomorra e agora tem de beber o
vinho; ele plantou uma árvore amarga e precisa comer o fruto dela. Oh,
senhores, que nenhum de vocês traia nosso Senhor e Mestre. Que Deus conceda que
eu nunca o faça.
O título de infiel também se aplica a
outro tipo de pessoas, não tão perdidas, mas ainda numa condição lamentável, dos
quais não Judas mas Davi poder servir como tipo: refiro-me aos que não retrocedem
para pecado flagrante. Há pessoas que descem da pureza para uma vida
descuidada, e da vida descuidada para a permissividade da carne, e da
permissividade nas coisas pequenas para o pecado consciente, e de um pecado
para outro até ficarem submersos na impureza. Eles nasceram de novo e, por
isso, a vida trêmula e quase extinta dentro deles precisa e vai reviver e
trazê-los ao arrependimento; eles voltarão cansados, chorando, humilhados, com
o coração partido, e serão restaurados, mas nunca mais serão o que eram antes.
Sua voz ficará rouca como a de Davi depois do seu crime, pois ele nunca mais
cantou com tanto júbilo como nos primeiros dias. A vida será mais cheia de
tremor e tribulação e evidente diminuição de ânimo e alegria de espírito. É
penoso andar com ossos quebrados e, mesmo depois que eles são recolocados no
lugar, eles costumam sentir pontadas de dor quando o tempo fica ruim. Posso
estar falando para alguns assim esta manhã e, neste caso, quero falar com um
amor muito fiel. Querido irmão, se você agora seguindo a Jesus de longe, em
pouco tempo você irá traí-lo como Pedro o fez. Mesmo que você alcance
misericórdia do Senhor, certamente o texto se cumprirá e você “se fartará dos
seus próprios caminhos”. Tão certo como Moisés tomou o bezerro de ouro e o moeu
até virar pó, que misturou à água que os israelitas pecadores tiveram de beber
até todos sentirem o gosto de areia na boca, assim o Senhor fará com você é de
fato Seu filho; Ele tomará seu ídolo de pecado e o moerá até virá pó, e sua
vida será tornada amarga por Ele por muitos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário