terça-feira, 18 de junho de 2013

OS TESOUROS DE DAVID (3 de 4)




Spurgeon
         Vers. 4. Digo: Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Oxalá não haja por todo o universo seres racionais entre os quais o orgulho pudesse aparecer mais impróprio e incompatível do que no homem, considerando a situação em que está colocado. Está exposto a numerosas degradações e calamidades, à fúria das borrascas e das tempestades, à devastação dos terremotos e dos vulcões, ao ímpeto dos torvelinhos, às ingentes ondas do oceano, aos estragos da espada, à fome, à pestilência e a toda espécie de enfermidades; e, no final, tem de afundar-se na tumba e o seu corpo será pasto dos vermes! O mais altivo e satisfeito de si mesmo entre os filhos dos homens está submetido às mesmas vicissitudes que os mais humildes da família humana. Não obstante, até nestas circunstâncias, o homem, este débil verme de pó, cujo conhecimento é tão limitado e cujas necessidades são tão numerosas e evidentes, tem o descaramento de pavonear-se na altivez do orgulho e de glorificar-se na sua desvergonha.
         O Dr. Chalmers, nos seus “Discursos astronômicos”, diz verdadeiramente: «Damo-vos uma débil imagem da nossa relativa insignificância quando dizemos que o esplendor de um bosque extenso não sofreria mais pela queda de uma só folha do que a glória deste extenso universo, se este globo no qual nos achamos, ‘e tudo o que dele provém, se dissolvesse’». C. H. S.
         É algo maravilhoso que Deus pense nos homens e os recorde continuamente. João Calvino, 1509-1564.
         Pode uma criatura tão desprezível como eu alcançar favor aos olhos de Deus? Em Ezequiel 16:1-5, temos uma relação da maravilhosa condescendência de Deus para com o homem, o qual ali é comparado a um menino de origem desprezível, abandonado no dia do seu nascimento, no seu sangue e na sua imundície, sem ainda estar envolto em faixas, de quem ninguém se compadece; criaturas lastimosas assim somos diante de Deus; e, contudo, quando Ele passou e nos viu agitando-nos no nosso sangue disse: «Vive». James Janeway, 1674.
         Pergunta o profeta Isaías: «O que é o homem?», e responde: «O homem é erva. Toda a carne é erva, e toda a sua glória como flor do campo» (40:6). Pergunta David: «O que é o homem?» Responde-te: «O homem é uma mentira» (Salmo 62:9); é não só um mentiroso, um enganador, mas também «uma mentira» e um engano. A natureza pecaminosa do homem é inimizade para com a natureza de Deus e queria arrancar Deus do Céu; e, apesar disso, Deus, ao mesmo tempo, está elevando o homem para o Céu; o pecado queria diminuir o grande Deus, e, apesar disso, Deus engrandece o homem pecador. Joseph Caryl.
         Que é o homem? Oh a grandeza e a pequenez, a excelência e a corrupção, a majestade e a baixeza do homem! Pascal, 1623-1662.
         Vers. 5. Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos. Em ordem à dignidade, o homem acha-se por debaixo dos anjos, é um pouco menos do que eles; no Senhor Jesus isto também foi realizado, porque Ele foi feito um pouco menor que os anjos por causa do sofrimento da morte. C. H. S.
         É uma coisa misteriosa, a que apenas nos atrevemos a aludir, que tenha aparecido um Redentor dos homens caídos, mas não dos anjos caídos. Não queríamos elaborar teorias sobre esta verdade tão terrível e inescrutável; mas, não é demasiado sugerir que a intervenção em favor do homem, e a não intervenção em favor dos anjos, não nos dá base para a convicção de que os homens ocupam um lugar que não é inferior ao dos anjos no amor e na solicitude do seu Criador?

O Redentor apresenta-Se como submetendo-Se a ser humilhado -«pouco menor o fizeste do que os anjos»- por amor ou com vistas à glória que havia de ser a recompensa dos Seus sofrimentos. Isto é uma representação importante, que deve ser considerada com a máxima atenção; e da qual podemos tirar, creio, um argumento claro e sólido em favor da divindade de Cristo.
         Não deveríamos nós considerar que pudesse ser humildade numa criatura, fosse qual fosse a dignidade da sua condição, o fato de que assumisse o ofício de Mediador e obrasse a nossa reconciliação? Não nos esqueçamos a que degradação extrema um Mediador consente em ser reduzido, e através de que sofrimentos e ignomínia deve submeter-Se para poder conseguir a nossa redenção; porém, tampouco esquecemos a incomensurável exaltação que foi o resultado ou a recompensa deste Mediador, e que se a Escritura for certa, havia de fazê-Lo muito mais elevado do que os mais altos principados e potências, e nós não podemos conhecer onde teria estado a assombrosa humildade, e a condescendência sem paralelo, se alguma mera criatura tivesse consentido em aceitar este ofício com a perspectiva de tal recompensa. Henry Melvill, B.D., 1854.

Tradução de Carlos António da Rocha

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