6. Tiramos proveito da Palavra, quando despertamos contra nós o ódio
do mundo.
Quanto esforço este mundo envida para
salvar as aparências, e para conservar um estado bom e decente! Suas convenções
e civilidades, suas cortesias e caridades, são outros tantos artifícios, que
lhe emprestam certo ar de respeitabilidade. Por semelhante modo, seus templos e
catedrais, seus sacerdotes e prelados são necessários para encobrir as
corrupções que fervilham logo abaixo da superfície. E, como contrapeso, o
"cristianismo" é acrescentado, ao passo que o nome de Cristo é
proferido com os lábios, por milhares e milhares de pessoas, que nunca
aceitaram o seu "jugo". A respeito dessas pessoas, declara o Senhor
Deus: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de
mim". (Mat.15:8).
E qual deve ser a atitude de todos os
verdadeiros crentes em relação a isso? A resposta, dada pelas Sagradas
Escrituras, é perfeitamente clara: "Foge também destes". (II Timóteo
3:5); "... Retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor...".
(II Coríntios 6:17). E qual será o resultado, quando essas ordens bíblicas são
atendidas? Ora, é então que provaremos o sabor da veracidade daquelas palavras
de Cristo: "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo
vos odeia" (João 15:19). Qual "mundo" está especificamente em
foco aqui? Que o versículo prévio o responda: "Se o mundo vos odeia, sabei
que, primeiro do que a vós outros, Me odiou a mim" (João 15:18).
Ora, qual foi o "mundo" que
odiou a Cristo e o condenou à morte? Foi o mundo religioso, aqueles que fingiam ser os elementos mais zelosos em
prol da glória de Deus. Assim também acontece até hoje. Que o crente volte as
costas para a cristandade que desonra a Cristo, e os seus adversários mais
ferozes, e mais incansáveis e inescrupulosos serão aqueles que se afirmam
cristãos! Porém, "Bem-aventurados sois quando, por Minha causa, vos
injuriarem e vos perseguirem... Regozijai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus...". (Mateus 5:11,12). Ah, meu prezado irmão, é um
bom e claro sinal, é marca segura de que você está tirando proveito da Palavra
de Deus, quando o mundo dos religiosos passa a odiá-lo. Mas, por outro lado, se
você ainda goza de boa reputação nas "igrejas" ou
"assembleias", isso é motivo grave para temer, que continua amando
mais o louvor dos homens, do que a aprovação Divina!
7. Tiramos proveito da Palavra, quando somos elevados acima do
mundo.
Antes de tudo, acima de seus costumes e de suas modas. Os indivíduos mundanos são verdadeiros escravos dos hábitos
e estilos, que prevalecem em seus dias. Mas, isso não acontece com aquele que
anda com Deus – pois, a sua principal preocupação é "conformar-se com a
imagem do Filho de Deus". Em segundo lugar, somos elevados acima dos cuidados, e das tristezas do mundo. Foi dito acerca dos antigos santos que eles
aceitavam de bom grado, o espólio de seus bens, sabendo que nos céus, tinham
"... Patrimônio superior e durável". (Hebreus 10:34).
Em terceiro lugar, quando somos
elevados acima das tentações
exercidas pelo mundo – que atração têm o brilho e o resplendor do mundo, para
aqueles que se deleitam no Senhor? Nenhuma! Em quarto lugar, quando somos
elevados acima de suas opiniões e aprovações. Você já aprendeu a ser
independente e a desafiar o mundo? Se todo o seu coração está resolvido a
agradar a Deus, então nunca se preocupará com a desaprovação dos ímpios.
Ora, meu prezado leitor, você deseja
verdadeiramente aquilatar-se de acordo com o conteúdo desta mensagem? Então
procure dar respostas honestas às seguintes perguntas: Primeiramente, quais são
os seus objetivos, na mente, em períodos de recreação? Sobre o que se ocupam os
seus pensamentos, antes de tudo? Em segundo lugar, quais são os objetos de sua
preferência? Quando você resolve como passar uma tarde, ou um domingo à tarde,
o que seleciona? Em terceiro lugar, quais destas duas coisas você mais lamenta:
A perda de bens materiais, ou a falta de comunhão com Deus? O que lhe causa
maior pesar (ou enfado), a derrocada dos seus planos, ou a frieza de seu
coração para com Cristo? Em quarto lugar, qual é o seu tópico favorito de
conversação? Você fica debatendo sobre as novidades do dia, ou prefere
encontrar-se com aqueles que falam sobre Aquele que é "Inteiramente
amável"? Em quinto lugar, as suas "boas intenções", passam a ser
cumpridas, ou elas são apenas sonhos vazios de determinação? Você está gastando
mais tempo ou menos tempo do que antes, de joelhos? A Palavra de Deus parece
mais doce ao seu paladar, ou sua alma perdeu o gosto para ela?
As promessas Divinas tornam conhecido
o beneplácito da Vontade de Deus relativamente a Seu povo, de que queria
derramar sobre eles as riquezas de Sua graça. Essas promessas são os
testemunhos externos do seu coração, o qual, desde toda a eternidade os ama e
determinou previamente todas as coisas em favor deles, e acerca deles. Na
pessoa e na obra realizada por Seu Filho, Deus estabeleceu uma provisão toda
suficiente para a completa salvação deles, tanto quanto ao tempo como quanto à
eternidade.
Com a finalidade de que Seus remidos
tivessem um conhecimento autêntico, claro e espiritual, dessa provisão, pareceu
bem ao Senhor apresentá-la dentro das grandes e preciosíssimas promessas que se
encontram dispersas por todas as Escrituras Sagradas, como outras tantas
estrelas, no glorioso firmamento da graça Divina. E, através delas, podem eles
ficar certos da Vontade de Deus, em Cristo Jesus, a respeito deles,
abrigando-se em Cristo qual seu santuário, para que, por esse intermédio, gozem
de real comunhão com Deus, em Sua graça e misericórdia, a todo o tempo, sem
importar quais sejam o seu caso e as suas circunstâncias.
As promessas Divinas são outras tantas
declarações de que Deus nos propiciará algum bem, ou removerá algum mal. Nesse
sentido, elas tornam conhecido, e manifestam o amor de Deus a Seu povo, da
maneira mais abençoada possível. Há três passos vinculados ao amor de
Deus: Primeiro, há o Seu propósito
íntimo de exercê-lo; por fim, há a real execução desse propósito; mas, entre uma
e outra coisa há o desvendamento gracioso
desse propósito aos Seus beneficiários. Enquanto o amor conservar-se oculto,
não poderemos ser consolados pelo mesmo. Ora, Deus, que é "amor", não
somente ama aos que Lhe pertencem, e não somente mostrará plenamente o Seu amor
a eles, no tempo devido, mas também, nesse ínterim, conserva-os informados acerca dos Seus benévolos
desígnios, a fim de que possam descansar docemente em Seu amor, dependendo
confortavelmente de Suas firmes promessas. Por esse motivo é que somos
capacitados a dizer: "Que preciosos para mim, SENHOR, são os teus
pensamentos! E como é grande a soma deles!". (Salmo 139:17). Na passagem
de II Pedro 1:4, as promessas Divinas são referidas como, "... Preciosas e
mui grandes...".
Conforme Spurgeon salientou, "...
A grandiosidade e a preciosidade dificilmente andam juntas; mas, no presente
caso, acham-se unidas de forma admirável". Quando o Senhor acha por bem
abrir a Sua boca, revelando Seu coração, fá-lo de maneira digna de Si mesmo,
com palavras de poder e riqueza superlativos. Citando novamente aquele amado
pastor londrino: "Procedem de um grande Deus, dirigem-se a grandes
pecadores, operam em nosso favor grandes resultados, e abordam grandes
questões". E apesar de que o intelecto natural é capaz de perceber muito
dessa grandeza, somente o coração renovado, pode sentir o gosto de suas
inefáveis promessas, dizendo, juntamente com Davi: "Quão doces são as tuas
palavras ao meu paladar! mais do que o mel à minha boca" (Salmo 119:103).
1. Tiramos real proveito da Palavra, quando percebemos a Quem
pertencem as promessas.
Essas promessas foram postas à
disposição exclusivamente daqueles que estão em Cristo. "Porque quantas
são as promessas de Deus, tantas têm nele (em Cristo Jesus) o sim; porquanto,
também por ele é o amém, para glória de Deus, por nosso intermédio". (II
Coríntios 1:20). Não pode haver qualquer relacionamento entre o Deus três vezes
santo, e as criaturas pecaminosas, a não ser através de um Mediador, que tenha
satisfeito a Deus em nosso favor. Por essa mesma razão, esse Mediador deve
receber, da parte de Deus, todas as bênçãos para Seu povo, recebendo-as este
das mãos desse Mediador. Um pecador, Que despreza e rejeita a Cristo, poderia
implorar misericórdia de uma árvore, tanto quanto a implora de Deus – e nada
receberia. Tanto as promessas como as bênçãos prometidas, são entregues ao
Senhor Jesus e são transmitidas aos santos por intermédio Dele. "E esta é
a (principal e maior) promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna". (I
João 2:25). E conforme somos informados, nessa mesma epístola: "Esta vida
está no seu Filho" (I João 5:11).
Sendo as coisas assim, qual é o
benefício que podem ter aqueles que não estão em Cristo, com base nessas
promessas? Nenhum benefício! O indivíduo fora de Cristo, também não desfruta do
favor Divino; de fato, está debaixo de Sua justa indignação. Sua porção são as
ameaças Divinas, e não Suas promessas. Solene, soleníssima consideração é
aquela que diz que aqueles que estão "sem Cristo" são, "...
Separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não
tendo esperança e sem Deus no mundo". (Efésios 2:12). Somente os filhos de
Deus são igualmente "filhos da promessa" (Rom. 9:8). Certifique-se,
meu prezado leitor, de que você é um deles também.
Quão terrível, pois, é a cegueira, e
quão profundo é o pecado daqueles pregadores, que aplicam indiscriminadamente
as promessas Divinas a salvos e perdidos igualmente! Esses não somente tomam o
"pão dos filhos" e os lançam aos "cães", mas também
adulteram "... A palavra de Deus...". (II Coríntios 4:2), além de
enganarem a almas mortais. E aqueles que lhes dão ouvidos são pouco menos
culpados, porquanto, Deus reputa a todos responsáveis por examinarem as
Escrituras por si mesmos, submetendo a teste tudo quanto leem ou escutam,
através desse padrão insofismável. Se porventura alguém é por demais preguiçoso
para fazer tal exame, preferindo seguir cegamente os seus guias cegos, então
que o seu sangue recaia sobre suas próprias cabeças. A verdade tem de ser
"comprada" (Provérbios 23:23), e aqueles que não estão dispostos a
pagar o preço pela sua possessão, devem fatalmente ficar sem ela.
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