por
Charles Haddon Spurgeon.
“Todos
aqueles, pois, que são das obras da Lei estão debaixo da maldição; porque está
escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da Lei, para fazê-las.” (Gl 3:10)
Mas, alguém exclama: “Eu não me
declararei culpado, pois ainda que esteja muito consciente de que não permaneci
‘em todas as coisas escritas no livro da Lei’, fiz o melhor que pude.” Essa é
uma mentira; diante de Deus é uma falsidade. Não o tens feito! Não tens feito o
melhor que podias. Houve muitas ocasiões nas quais poderias ter realizado um
esforço melhor. Acaso, aquele jovem que está acolá, atrever-se-ia a dizer-me
que está fazendo agora o melhor que pode? Que não pode reprimir a sua risada na
casa de Deus? É possível que seja difícil para ele que o faça, mas é possível
que poderia, se quisesse, refrear-se de insultar o seu Criador, na Sua cara. De
certo, nenhum de nós tem feito o melhor que podia. Em cada período, em cada
momento, houve oportunidades de escapar da tentação. Se não tivéssemos tido
nenhuma liberdade de escapar do pecado, poderia haver alguma desculpa por ele;
contudo, houve pontos decisivos na nossa história quando teríamos podido
decidir pelo correto ou o incorreto, mas temos feito o mal e evitamos o bem, e
dirigimo-nos a esse caminho que conduz ao Inferno.
“Ah,
mas eu declaro, senhor,” diz outro, “que embora seja certo que tenho
quebrantado essa Lei, sem dúvida alguma, não fui pior do que os meus semelhantes.”
E, por certo, esse é um argumento muito triste, pois de que te serve? Seres
condenado em grupo, não te serve de mais consolo, do que se tu fores condenado
sozinho. É certo que não foste pior do que os teus semelhantes, porém, isto não
te servirá de nada. Quando os ímpios forem atirados para o Inferno, será de
muito pouco consolo para ti que Deus diga: “Apartai-vos de mim, malditos” a mil
pessoas juntamente contigo. Recorda que a maldição de Deus, quando arraste uma
nação ao Inferno, será sentida por cada indivíduo da multidão de igual maneira
como se o castigo fosse para um só indivíduo. Deus não é como os nossos juízes
terrestres. Se os vossos tribunais estivessem saturados de prisioneiros,
poderiam sentir-se inclinados a tratar levianamente muitos casos. Mas, com
Jeová não acontece o mesmo. Ele é tão infinito na Sua mente, que a abundância
de criminosos não será uma dificuldade para Ele. Tratará contigo com a mesma
severidade e justiça como se não houvesse nenhum outro pecador em todo mundo.
E
eu pergunto-te: o que tens tu que ver com os pecados de outros homens? Tu não
és responsável por eles. Deus determinou que tu te sustentarias ou cairias por
ti mesmo. De acordo com as tuas próprias ações serás julgado. O pecado da
rameira pode ser mais grave do que o teu, porém, tu não serás condenado pelas
suas iniquidades. A culpa do assassino pode ultrapassar em muito as tuas
transgressões, porém, tu não serás condenado pelo assassino. Oh, homem, a
religião é algo entre Deus e a tua própria alma; e, portanto, imploro-te que
não olhes para o coração do teu vizinho, mas para o teu próprio coração.
“Ai,”
exclama alguém, “Mas eu esforcei-me, muitas vezes, para guardar a Lei, e penso
que o logrei por algum tempo.” Escuta outra vez a leitura do versículo:
“Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no livro da
Lei, para as fazer.” Oh, senhores!, não é algum rubor febril nas faces que
brota por uma irresolução doentia, o que Deus reconhece como a saúde da
obediência. Não se trata de uma ligeira obediência durante uma hora, o que Deus
aceitará no dia do juízo. Ele usa a palavra “permanecer;” e, a menos que, desde
a minha mais temporã infância, até ao dia em que os meus cabelos brancos desçam
à sepultura, tenha permanecido em obediência a Deus, deverei ser condenado. A
menos que tenha servido obedientemente a Deus, desde o primeiro despertar da
razão, quando comecei a ser responsável, até que, como um arbusto de trigo,
seja juntado no celeiro do meu Senhor, a salvação pelas obras será impossível para
mim, e eu serei condenado se estou apoiado no meu próprio fundamento. Não é,
afirmo-o, alguma flutuante obediência o que salvará a alma. Tu não permaneceste
“em todas as coisas escritas no livro da Lei,” e, portanto, estás condenado.
“Mas,”
dirá outro, “Há muitas coisas que eu não tenho feito, mas apesar de tudo, tenho
sido muito virtuoso.” Essa, também, é uma pobre desculpa. Supõe que tens sido
virtuoso; supõe que tens evitado muitos vícios: lê o meu versículo. Não é minha
a palavra, mas a palavra de Deus, lê-o: “Todas as coisas.” Não diz: “Algumas
coisas.” “Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas escritas no
livro da Lei, para as fazer.” Agora, tens posto em prática todas as virtudes?
Tens-te apartado de todos os vícios? Podes pôr-te de pé e declarar: “Nunca fui
um bêbado”? Entretanto, serás condenado, se tiveres sido um fornicador.
Respondes acaso: “Nunca fui imundo”? Entretanto, quebrantaste o dia de repouso.
Declaras-te culpado desse cargo? Acaso declaras que nunca quebrantaste o dia de
repouso? Tu tomaste o nome de Deus em vão, não é verdade? Em alguma parte ou em
outra, a Lei de Deus pode ferir-te. É certo (deixa agora que fale à tua
consciência e afirme o que eu assevero), é certo que não permaneceste “Em todas
as coisas escritas no livro da Lei.” E mais, estou convencido de que não
permaneceste plenamente em nenhum mandamento de Deus, pois o mandamento é
extremamente amplo. Não é o ato patente, simplesmente, o que condenará um
homem; é o pensamento, a imaginação, a concepção do pecado, os que bastam para
arruinar a alma. Recordai, meus queridos ouvintes, que estou pregando agora a
própria palavra de Deus, não uma rigorosa doutrina da minha propriedade. Se
nunca tivésseis cometido um só ato de pecado, o mero pensamento de pecado, a simples
imaginação do pecado bastariam para arrastar a alma para o Inferno para sempre.
Se
tivesses nascido numa cela, e não tivesses podido sair nunca para o mundo, para
cometer atos de lascívia, de assassinato ou de roubo, bastaria o pensamento do
mal nessa cela solitária, para apartar a tua alma para sempre do rosto de Deus.
Oh!, não há ninguém aqui que possa ter a esperança de escapar. Cada um de nós
deve inclinar a sua cabeça diante de Deus, e clamar: «Culpado, Senhor, culpado,
cada um de nós é culpado: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as
coisas escritas no livro da Lei, para as fazer.’» Quando olho o teu rosto, oh
Lei, o meu espírito treme de horror. Quando escuto os teus trovões, o meu
coração derrete-se como a cera no meio das minhas entranhas. Como poderia
suportar-te? Se estiver para ser julgado no fim, pela minha vida, de certeza
não necessitarei de um juiz, pois eu serei o meu próprio acusador voluntário, e
a minha consciência será uma testemunha para me condenar.
Penso
que não preciso de me alargar mais neste ponto. Oh, tu, que estás sem Cristo e
sem Deus, não permaneces condenado diante Dele? Tira de ti todas as máscaras, e
despreza todas as desculpas; que cada um de nós arremesse ao vento todas as
suas vãs pretensões. A menos que contemos com o sangue e a justiça de Cristo,
para que nos cubram, cada um de nós deve reconhecer que esta sentença fecha as
portas do Céu na nossa cara, e unicamente nos prepara para as chamas da
perdição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário