quarta-feira, 8 de maio de 2013

PEDRO SOBRE AS ÁGUAS




Leia-se Mateus 14:22-33 
Há dois aspectos pelos quais podemos considerar esta interessante passagem das Escrituras. Em primeiro lugar, podemo-la ler sob um ponto de vista dispensacional, em relação com o tema dos concertos de Deus com Israel. E, em segundo lugar, podemo-la ler como uma passagem que se refere diretamente ao nosso andar diário e prático com Deus.
         O Nosso Senhor, uma vez, tendo alimentado a multidão e tendo-se despedido dela, “subiu ao monte a orar à parte; e quando chegou a noite, estava lá sozinho.” Isto corresponde precisamente à Sua posição atual, com referência à nação de Israel. Ele deixou-os e subiu ao alto para empreender a bendita obra da intercessão. Enquanto isso, os discípulos — tipo do remanescente piedoso— estavam sendo sacudidos pelo tempestuoso mar durante as lúgubres vigílias da noite, passando por profundas provas e exercícios, na ausência do seu Senhor, O qual, não obstante, nunca os perdeu de vista por um momento, sequer, nunca afastou os Seus olhos deles; e, quando eles se acercaram do limite das suas possibilidades, por assim dizê-lo, sem saber que fazer, Jesus apresentou-Se para aliviá-los, sossega os ventos, acalma o mar e leva-os ao seu desejado porto.
         Tendo dito o suficiente quanto ao aspecto dispensacional desta porção das Escrituras, o qual, ainda que seja muito interessante, não o continuaremos desenvolvendo, por quanto o nosso propósito, neste breve artigo, é apresentar ao coração do leitor a preciosa verdade revelada na exposição de Pedro sobre as águas, a verdade que —como a temos dito— diz respeito diretamente à nossa própria senda individual, seja qual for a natureza dessa senda.
         Não requer qualquer esforço de imaginação ver, no caso de Pedro, uma notável figura da Igreja de Deus coletivamente ou do cristão individual. Pedro deixou a barca ante o chamamento de Cristo. Ele abandonou tudo aquilo a que o coração podia apegar-se e encontrou-se a caminhar sobre o tempestuoso mar, por uma senda traçada para lá e por cima dos limites da natureza; uma senda de fé; uma senda na qual nada, senão a simples fé, poderia viver um só momento. O segredo para todos quantos são chamados a recorrer a esta senda é Cristo ou nada. A nossa única fonte de poder consiste em manter os olhos da fé firmemente fixados em Jesus: “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé. ” Logo que apartemos os nossos olhos Dele, começaremos a afundarmo-nos.
          Não é preciso dizer que não se trata aqui da salvação —de alcançar a margem para estar a salvo. De maneira nenhuma; estamos falando, agora, do andar do cristão neste mundo; da carreira prática daquele que é chamado a abandonar este mundo, a renunciar a tudo aquilo em que a mera natureza busca apoiar-se ou depositar a sua confiança; a desprender-se das coisas terrenais, dos recursos humanos e dos meios naturais, a fim de andar com Jesus, por cima do poder e da influência das coisas visíveis e temporais.
         Tal é o elevado chamamento do cristão e de toda a Igreja de Deus, em contraste com Israel, o povo terrenal  de Deus. Nós somos chamados a viver pela fé; a caminhar, com calma confiante, por cima das circunstâncias deste mundo; a avançar, com santo companheirismo, junto a Jesus.
         A isso precisamente suspirava a alma de Pedro quando proferiu estas palavras: “E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas.” (Mt 14:28). Aqui estava o segredo: “se és tu”. Se não fosse Ele, o erro mais descomunal que Pedro teria podido cometer, teria sido deixar a barca. Mas, por outro lado, se certamente, era Ele mesmo, esse Bendito, Gloriosíssimo e Gracioso Jesus, Aquele que Pedro viu ali andando tranquilamente sobre a superfície das agitadas águas, então, seguramente, o mais excelente, o mais ditoso, o melhor que Pedro podia fazer era abandonar todo o recurso terreno e natural, a fim de sair atrás de Jesus e provar o inefável gozo da comunhão com Ele.
 Tradução de Carlos António da Rocha

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