Leia-se Mateus 14:22-33
Contudo,
esta é uma notável figura da verdadeira senda do cristão: a senda da fé. A
garantia para empreender essa senda é dada pela palavra de Cristo. O poder para
nela avançar consiste em manter os olhos fixos em Cristo mesmo. Não é uma
questão de se está bem ou se está mal. A pergunta é: em quem pomos o nosso
olhar? A firme intenção do nosso coração é estar o mais possível próximo de
Jesus? Ansiamos de verdade provar uma mais profunda, uma mais estreita e uma
mais plena comunhão com Ele? É Ele suficiente para nós? Estamos dispostos a
deixar de lado tudo aquilo a que a mera natureza se aferra, e a apoiarmo-nos
somente em Jesus? Em Seu infinito e condescendente amor, Ele faz-nos acenos
para que venhamos para Ele. Diz-nos: “Vem.” Negar-nos-emos? Vacilaremos e
quedar-nos-emos atrás, ante a Sua voz? Agarrar-nos-emos à barca enquanto a voz
de Jesus nos diz “vem”?
Talvez,
poder-se-ia objetar que Pedro caiu e que, portanto, teria sido melhor, mais
seguro e mais prudente deter-se na barca do que afundar-se na água. É melhor
não tomar um lugar proeminente para, depois de havê-lo tomado, fracassar nele.
Bem, é absolutamente certo que Pedro fracassou; mas por quê? Foi porque deixou
a barca? Não, foi porque deixar de olhar para Jesus. “Mas, sentindo o vento
forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor,
salva-me!” (Mateus 14:30). Assim sucedeu com o pobre Pedro. O seu erro não
consistiu em deixar a barca, mas em olhar para a força do vento e das ondas, em
olhar ao seu redor, em vez de cravar o olhar em Jesus. Havia entrado numa
senda, a qual só podia ser atravessada pela fé, uma senda na qual, se ele não
tinha a Jesus, não tinha absolutamente nada; nem barca, nem bote, nem
salva-vidas, nem sequer uma tábua à qual se agarrasse. Numa palavra, tratava-se
de Cristo ou de nada; de caminhar com Jesus sobre as águas ou de afundar-se no
mais fundo, sem Ele. Nada, senão a fé podia sustentar o coração em tal
carreira. Mas, a fé pôde sustentá-lo, pois a fé pode viver no meio das ondas
encrespadas e dos ventos mais tempestuosos. A fé pode caminhar sobre as mais
agitadas águas; a incredulidade não o pode fazer sobre as mais calmas.
Mas,
Pedro fracassou. Sim; e o que é que isso tem? Acaso, isso prova que fez mal em
obedecer ao chamamento do seu Senhor? Acaso, Jesus o reprovou porque tivesse
deixado a barca? Ah, não! Isso não teria sido próprio d’Ele. Jesus não podia
ter dito ao Seu pobre servo que viesse, e logo depois repreendê-lo por ele ter
vindo. Ele sabia e podia condoer-Se —como O fez— da debilidade de Pedro, pelo
que lemos que “E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: homem de
pouca fé, por que duvidaste?” Não lhe disse: «Homem aloucado e precipitado!
Porque deixaste a barca?» Não, mas: “Porque duvidaste?” Esta foi a terna
reprimenda. E onde estava Pedro quando ouviu estas palavras? Nos braços do seu
Senhor! Que lugar! Que experiência! Acaso não valia a pena abandonar a barca
para provar semelhante bênção? Sem dúvida que sim. Pedro esteve acertado em
deixar a barca; e, ainda que tenha escorregado nessa altíssima senda na qual
tinha entrado, isso não fez mais que conduzi-lo a tomar maior consciência da
sua própria debilidade e insignificância, assim como também da graça e do amor
do seu Senhor.
Leitor
cristão, qual é a lição moral que extraímos de tudo isto? Simplesmente que
Jesus nos chama a sair das coisas temporais e dos sentidos naturais para que
andemos com Ele. Insta-nos a abandonar as nossas esperanças terrenas e a todas
as nossas seguranças humanas — respectivamente os esteios e os recursos sobre
os quais se apoia o nosso coração. A Sua voz pode ouvir-Se muito mais
fortemente que o estrondo das ondas e dos rugidos da tempestade, e essa voz
diz-nos: “Vem!”. Oh, obedeçamos-Lhe! Acedamos de todo o coração ao Seu
chamamento! “Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. ”
Jesus quer ter-nos próximo Dele, caminhando com Ele, apoiados Nele e não
olhando para as circunstâncias que nos rodeiam, mas olhando só e sempre para
Ele.
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