Leia-se Mateus 14:22-33
Há uma imensa força, profundidade e significação nestas frases: “Senhor, se és tu”, “manda-me ir ter contigo”, “por cima das águas.” Note-se que é “ir ter contigo por cima das águas”. Não se trata de que Jesus viesse a Pedro, à barca — algo muito bendito e precioso —mas que Pedro saísse ao encontro de Jesus sobre as águas. Uma coisa é ter a Jesus vindo para o meio das nossas circunstâncias, apaziguando os nossos temores, aliviando as nossas ansiedades, tranquilizando os nossos corações, e outra muito distinta, é lançarmo-nos nós, desde a margem das circunstâncias, ou desde a barca dos recursos humanos para andar com calma vitoriosa sobre as circunstâncias, a fim de estarmos com Jesus aonde Ele está. O primeiro caso recorda-nos a viúva de Sarepta (1Reis 17); o segundo, a sunamita (2Reis 4).
Acaso,
não apreciamos a excelente graça que exalam estas palavras: “Tende ânimo; eu
sou, não temais!”? Longe de nós esteja este pensamento. Estas palavras são
muito preciosas. E, ademais, Pedro havia as provado; sim, tinha-se deleitado na
sua doçura, ainda que nunca tivesse posto sequer um pé fora da barca. É bom que
distingamos entre estas duas coisas. Ambas se confundem, demasiado a amiúde.
Todos nós somos propensos a descansar no pensamento de ter o Senhor conosco, e
as suas misericórdias acompanhando-nos durante a nossa senda quotidiana. A
nossa visão não ultrapassa as relações naturais, os gozos da Terra, tais quais
são, a ampla gama de bênçãos que o nosso bondoso Deus derrama tão generosamente
sobre nós. Aferramo-nos, com afinco, às circunstâncias, em lugar de anelar um
mais íntimo companheirismo com um Cristo rechaçado. Nesta senda sofreremos
imensas perdas.
Sim,
dizemo-lo com vigor: imensas perdas. Não é que devamos apreciar menos as
bênçãos e misericórdias de Deus, senão que deveremos apreciá-Lo mais a Ele.
Cremos que Pedro teria sido um perdedor se tivesse ficado na barca. Alguns
podem pensar que atuou debaixo do influxo da sua impaciência e impulsividade;
pela nossa parte cremos que o seu proceder foi fruto do seu veemente anelo pelo
seu muito amado Senhor, um intenso desejo de estar perto d’Ele, a todo o custo.
Viu o seu Senhor andando sobre as águas e sentiu-se impulsionado pelo desejo de
andar com Ele, e o seu desejo foi legítimo; foi grato ao coração de Jesus.
Ademais,
não atuou debaixo da autoridade do seu Senhor ao deixar a barca? Certamente que
sim. A voz de comando —“vem”—, uma voz de intensa força moral, alcançou o seu
coração e fê-lo sair da barca para ir ao encontro de Jesus. A palavra de Cristo
era a autoridade para entrar nessa estranha e misteriosa senda; e a presença
viva e sentida de Cristo constituía o poder para avançar nela. Sem essa ordem,
ele não se haveria atrevido a partir; sem essa Presença, ele não teria podido
avançar. Era algo estranho, inexplicável, sobrenatural andar sobre as águas;
mas ali estava Jesus andando, e a fé pode andar com Ele. Assim o creu Pedro, e
então, “descendendo da barca”, “andava sobre as águas para ir ter com Jesus”
(Mateus 14:29).
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