Spurgeon
“O infiel de
coração dos seus próprios caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o
homem de bem” (Provérbios 14:14).
Quando o amargor e a amargura ficarem
mais evidentes no cálice da vida, será triste reconhecer que “eu consegui isto
para mim com minha tolice vergonhosa”. Ó Senhor, segura-nos e guarda-nos de
cairmos aos poucos, para não afundarmos no pecado e continuarmos nele por um
período, pois certamente a angústia resultante de um mal assim é tão terrível
como a própria morte. Se Davi pudesse se levantar do seu túmulo e aparecer
diante de vocês com seu rosto sulcado de tristeza e sua testa vincada por seu
sofrimento, ele lhes diria: “Cuidem diligentemente dos seus corações, para não
trazerem castigo para si mesmos. Vigiem com oração, e se guardem do início do
pecado, para que seus ossos não envelheçam com seus gemidos e seu vigor se
torne em sequidão de estio” Proteja-se de um coração errante, porque será uma
coisa terrível ficar cheio das próprias recaídas.
Existe um terceiro tipo de
infidelidade, e eu temo que um grande número dentre nós já mereceu este título.
Estou pensando naqueles que, em qualquer grau ou medida, mesmo que por pouco
tem, retrocedem do ponto que já tinham alcançado. Talvez uma pessoa assim nem
deveria ser chamada de infiel porque este não é seu caráter predominante, mas
ela retrocedeu. Se não crê com a mesma firmeza de antes, não ama com a mesma
intensidade, não serve com o mesmo zelo, então a pessoa se tornou infiel em
certo sentido, e a infidelidade em qualquer sentido é pecado e nos encherá na
mesma medida com as consequências. Se você semeia só duas ou três sementes de
espinheiro, não haverá tantos cardos em sua fazenda como se você esvaziasse um
saco inteiro, mas mesmo assim, haverá o suficiente e até mais. Cada pequena
recaída, como as pessoas a chamam, é um grande mal; todo pequeno desvio de
Deus, mesmo só no coração, sem jamais se manifestar em palavras ou atos, nos
trará alguma medida de tristeza. Se todo o pecado fosse removido do nosso ser a
tristeza também seria e, na verdade, estaríamos no céu, porque um estado de
santidade perfeita equivale à bênção perfeita. O pecado em qualquer grau dará
seu fruto próprio, e este fruto cedo ou tarde mostrará as suas garras; por isso
é mau ser infiel, mesmo no menor grau.
Dito isto, continuemos a reflexão sobre
os últimos dois tipos de infiéis, deixando de fora o apóstata. Leiamos
novamente o seu nome, depois sua história; temos ambos em nosso texto.
A primeira parte do seu nome é “infiel”,
“aquele que se desvia”. Ele não sai correndo, nem pula para longe, mas
desvia-se, escorregando, deslizando com um movimento suave, sem esforço, fácil,
silencioso, talvez imperceptível para ele mesmo ou para as outras pessoas. A
vida cristã é muito parecida com subir uma montanha coberta de neve. Você não
pode escorregar para cima; terá de fazer buracos para firmar o pé, e só poderá
fazer progressos com muito trabalho e cuidado; precisará de um guia para
ajudá-lo, e não estará seguro de cair numa fenda se não estiver preso no guia.
Ninguém escorrega para cima; mas, se não tomar cuidado, poderá escorregar para
baixo, em outras palavras, desviar-se, a resposta é: pare de avançar, e você
deslizará para trás; deixe de subir e você descerá necessariamente, pois não é
possível ficar parado. Para nos induzir a recair, Satanás age conosco como
engenheiros fazem com uma estrada morro abaixo. Para construir uma estrada lá
no divisor de águas até o vale, eles nem pensam em fazê-la despencar por um
precipício ou descer um paredão a pique, porque ninguém usaria uma estrada
assim. Eles a fazem dar voltas e curvas.
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