4. O indivíduo se beneficia da Palavra, espiritualmente falando, quando ele odeia o pecado, com maior profundidade.
"Vós, que amais o SENHOR, detestai o mal: ele guarda as almas dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios" (Salmos 97:10).
"Não podemos amar a Deus, sem odiar aquilo que Ele odeia. Não somente devemos evitar o mal, recusando-nos a continuar nele, mas também devemos declarar guerra contra ele, voltando-nos contra ele com indignação no íntimo" (C.H. Spurgeon). Um dos testes mais seguros que se pode aplicar à professada conversão, é a atitude do coração para com o pecado. Sempre que o princípio de santidade houver sido implantado, necessariamente haverá repulsa por tudo quanto é profano. E se nosso repúdio ao mal for genuíno, então seremos gratos quando a Palavra reprovar até mesmo o mal, de que nem suspeitávamos.
Essa foi também a experiência de Davi: "Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento; por isso, detesto todo caminho de falsidade" (Salmos 119:104). Observemos atentamente que não devemos meramente "Abster-nos do pecado", pois, "Detesto"; e não somente a "Alguns" ou "Muitos" pecados, mas antes, a "Todo caminho de falsidade", e não apenas a "Todo mal" mas a "Todo caminho de falsidade". E continua o salmista:
"Por isso, tenho por em tudo, retos os teus preceitos todos, e aborreço todo caminho de falsidade" (Salmos 119:128).
No entanto, dá-se exatamente o contrário no caso do ímpio: "De que te serve repetires os meus preceitos, e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina, e rejeitas as minhas Palavras?". (Salmos 50:16,17). E em Provérbios 8:13, lemos:
"O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho, e a boca perversa, eu os aborreço". Ora, esse temor piedoso nos vem através da leitura da Palavra (Deuteronômio 17:18,19). Com razão, pois, é que alguém declarou:
"Enquanto não odiarmos ao pecado, não poderemos mortificá-lo, ninguém clamará contra o pecado, como os judeus clamaram contra o Cristo: ''Crucifica-O! Crucifica-O!'', enquanto realmente não abominar o pecado, como Ele foi abominado" (Edward Reyner, 1635).
5. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o leva a abandonar o pecado.
"Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor" (II Timóteo 2:19).
Quanto mais lemos a Palavra de Deus, com o objetivo definido de descobrir o que é agradável, e o que é desagradável ao Senhor, mais a Sua vontade tornar-se-á conhecida por nós; e se os nossos corações forem corretos diante dEle, mais ainda os nossos caminhos se harmonizarão com a Sua vontade. Então é que andaremos "Na verdade" (II João 4). No fim do sexto capítulo da segunda epístola aos Coríntios algumas promessas preciosas, são dadas àqueles que se separarem dos incrédulos. Observemos, naquela passagem, a aplicação feita pelo Espírito Santo. Não diz o Senhor: "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, consolemo-nos e nos entreguemos à complacência...", e, sim: "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito...". (II Coríntios 7:1); "Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado" (João I5:3).
Eis aqui outra importante regra, por meio da qual nos deveríamos testar com frequência: A leitura e o estudo da Palavra de Deus está produzindo a purgação de minha conduta? Desde os dias antigos vinha sendo feita a indagação: "De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? E a resposta do salmista inspirado declara: ‘Observando-o segundo a Tua Palavra’". (Salmo119:9). Sim, não basta ler a Palavra, crer nela ou memorizá-la; mas é preciso haver a aplicação pessoal da Palavra ao nosso "Caminho". É quando "Damos ouvidos" às exortações como aquelas que estipulam:
"Fugi da impureza!" (I Coríntios 6:18); "Fugi da idolatria" (I Coríntios 10:14); "... Foge destas cousas..." – da cobiça apaixonada pelo dinheiro (1 Tim. 6:11); e, "Foge, outrossim, das paixões da mocidade" (II Tim. 2:22). É que o crente é levado a separar-se do mal, na prática; pois, então o pecado não somente tem sido confessado, mas também tem sido "Deixado" (Provérbios 28:13).
6. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o fortalece contra o pecado.
As Sagradas Escrituras nos foram dadas, não somente com o propósito de revelar-nos a nossa pecaminosidade inata, ou a fim de mostrar as muitas e muitas maneiras mediante as quais carecemos "Da Glória de Deus" (Romanos 3:23), mas igualmente para ensinar-nos como podemos obter livramento do pecado, como podemos ser livres de desagradar a Deus.
"Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra Ti" (Salmos 119:11).
De cada um de nós é requerido o seguinte: "Aceita, pego-te, a instrução que profere, e põe as suas Palavras no teu coração" (Jó 22:22). O de que precisamos é, particularmente, dos Mandamentos, das Advertências, das Exortações da Bíblia, para que sejam como que nosso tesouro particular; devemos memorizá-los, meditar sobre os mesmos, orar a seu respeito e, pô-los em prática.
Eis a única maneira eficaz de se evitar que um terreno qualquer seja invadido por ervas daninhas: É semear ali a boa semente: "... Vence o mal com o bem" (Romanos 12:21). Por conseguinte, quanto mais "Ricamente" estiver habitando em nós a Palavra de Cristo (Colossenses 3:16), menos espaço haverá para o exercício do pecado, em nossos corações e em nossas vidas.
Não é suficiente apenas assentirmos à veracidade das Escrituras, mas é necessário que elas sejam recebidas em nossos afetos. É uma verdade soleníssima, aquela em que o Espírito Santo especifica a base da apostasia, "... Porque ao amor da verdade eles não receberam" (II Tessalonicenses 2:10, original grego).
“Se essa semente ficar apenas na língua ou na mente, para que seja apenas uma questão de palavras ou de especulação, não demorará muito para que desapareça. A semente que jaz à superfície será apanhada pelas aves do céu. Portanto, que cada qual a esconda no profundo do ser; que vá dos ouvidos para a mente, da mente para o coração; e que ela penetre cada vez mais profundamente. Somente ao exercer ela um domínio soberano sobre o coração, é que a receberemos na força de seu amor – quando ela é mais cara para nós que nossas concupiscências mais queridas, então nos apegamos a ela”. (Thomas Manton).
Não há qualquer outra coisa que nos preserve das infecções deste mundo, que nos livre das tentações de Satanás, que se mostre preservativo tão eficaz contra o pecado, como a Palavra de Deus recebida em nossos afetos: "No coração tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão" (Salmos 37:31). Enquanto a verdade mostrar-se ativa em nosso íntimo, despertando-nos a consciência e sendo realmente amada por nós, seremos preservados da queda. Quando José foi tentado pela esposa de Potifar, respondeu ele:
"... Como, pois, cometeria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?". (Gênesis 39:9).
A Palavra de Deus se achava em seu coração, pelo que também prevaleceu sobre os seus desejos. Essa é a inefável santidade, o grandioso poder de Deus, o qual é poderoso tanto para salvar como para destruir. Nenhum de nós sabe em que ocasião, será sujeito às tentações; portanto, é mister estarmos preparados contra elas. "Quem há entre vós que ouça isto? Que atenda e ouça o que há de ser depois?". (Isaías 42:23).
Sim, compete-nos antecipar o futuro e nos fortalecermos intimamente para Ele, entesourando a Palavra em nossos corações, para as emergências futuras.
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