1. Estamos tirando proveito das Escrituras, quando percebemos a grande Importância do amor cristão.
Em parte alguma, isso é ressaltado mais enfaticamente do que na epístola de I Coríntios 13. Ali, o Espírito Santo diz-nos que embora um crente professo possa falar fluente e eloquentemente sobre as realidades Divinas, se não tiver amor, será como o metal, o qual, embora faça ruído ao ser tangido, não tem vida alguma.
Que embora um crente profetize e compreenda todos os mistérios, e possua todo o conhecimento, e ainda que a sua fé seja tão potente ao ponto de realizar milagres, contudo, se lhe faltar o amor, espiritualmente será sem valor. Sim, que embora um crente seja benévolo, e dê todas as suas possessões materiais para sustento dos pobres, e ainda que entregue seu corpo ao martírio, todavia, se lhe faltar o amor, isso não lhe será de qualquer proveito. Quão imenso é o valor aqui conferido ao amor; e quão essencial para mim é certificar-me de que o possuo! Disse nosso Senhor: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros". (João 13:35).
Visto que Cristo fez do amor, o grande sinal do discipulado cristão, isso nos permite ver, uma vez mais, a grande importância do amor. Trata-se de um teste essencial, acerca da genuinidade de nossa profissão cristã: não podemos amar a Cristo, a menos que amemos a Seus irmãos, porquanto, estão todos ligados no mesmo, "Feixe dos que vivem com o SENHOR". (I Samuel 25:29).
O amor por aqueles a quem o Senhor remiu, é uma evidência segura de que possuímos o amor espiritual e Sobrenatural do próprio Senhor Jesus. Sempre que o Espírito Santo realiza um nascimento Sobrenatural, fará igualmente, que essa nova vida entre em exercício, e também produzirá nos corações, nas vidas e na conduta dos santos as suas graças sobrenaturais, uma das quais consiste em amarmos a todos quantos pertencem a Cristo, por amor a Cristo.
2. Estamos nos beneficiando com a Palavra, quando aprendemos a perceber as lamentáveis perversões do amor cristão.
Assim como a água não se eleva acima do seu próprio nível, assim também o homem natural é incapaz de compreender, e, menos ainda, de apreciar, qualquer realidade espiritual, (I Coríntios 2:14). Portanto, não nos deveríamos surpreender quando cristãos professos, não regenerados, confundem o sentimentalismo humano, e aquilo que agrada à carne com o amor espiritual.
O mais entristecedor ainda é ver alguns, dentre o próprio povo de Deus, que vivem em plano tão inferior, que confundem a amabilidade e a afabilidade humanas com a rainha de todas as graças cristãs. Pois, apesar de ser verdade que o amor se caracteriza pela mansidão, e pela gentileza, contudo, é algo muito diferente das cortesias e gentilezas carnais, e muito superior a elas. Quantos pais hesitantes têm evitado usar a vara com seus filhos, presos à errônea noção de que o real afeto por eles, e o castigo são incompatíveis! Quantas mães insensatas se jactam de que o "amor" reina em seus lares, ao mesmo tempo que desdenham de toda a disciplina corporal! Uma das experiências mais tristes, é passar algum tempo hospedado em lares onde as crianças são completamente estragadas pelos mimos. Isso é uma ímpia perversão do vocábulo "amor", – aplicá-lo à frouxidão moral, e à negligência dos deveres paternos. Porém, essa mesma idéia perniciosa, governa as mentes de muitas pessoas, em outras conexões e relações.
Se um servo de Deus repreende os métodos carnais e mundanos dessas pessoas, se ele faz pressão, sobre a necessidade de atendermos às reivindicações intransigentes de Deus, imediatamente é acusado de ser alguém a quem "falta o amor". Oh, quão terrivelmente as multidões andam enganadas por Satanás, quanto a esse mui importante assunto!
3. Tiramos real proveito da Palavra, quando aprendemos a verdadeira Natureza do amor cristão.
O amor cristão é uma graça espiritual, que permanece nas almas dos santos, juntamente com a fé e a esperança, (I Coríntios 13:13). Trata-se de santa disposição, insuflada neles, quando são regenerados (I João 5:1). Não é menos que o amor de Deus derramado em seus corações pelo Espírito Santo (Romanos 5:5).
O amor é um princípio justo, que busca o mais alto bem do próximo. É o reverso mesmo do princípio do egoísmo, e do interesse próprio, que se encontra em nós por natureza. Consiste não apenas de consideração afetuosa por todos quantos trazem a imagem de Cristo, mas, também envolve o poderoso desejo de promover o bem estar dos mesmos. E não é nenhum sentimento passageiro, que facilmente se sente ofendido, porque é antes uma força dinâmica permanente, que as "muitas águas" da fria indiferença, ou que os "dilúvios" da desaprovação não podem apagar, e nem afogar (Cantares 8:7). E embora fiquemos muito aquém do grande exemplo de amor, tem idêntica essência ao amor daquele sobre quem foi dito: "... Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (João 13:1).
Não há meio mais seguro e mais certo de obtermos a correta concepção da natureza do amor cristão, do que fazermos um estudo completo dele, em sua perfeita exemplificação, que é o Senhor Jesus. E quando falamos em "estudo completo", indicamos a realização de uma pesquisa ampla, de tudo quanto está registrado a seu respeito, nos quatro Evangelhos, não nos limitando a algumas poucas passagens, ou incidentes favoritos. Quando assim fazemos, então descobrimos que o amor de Cristo não somente era benévolo e magnânimo, refletido e gentil, altruísta e inclinado à abnegação, paciente e imutável, mas, que também, havia muitos outros elementos componentes.
Assim é que o amor foi capaz de negar um pedido urgente (João 11:6), de repreender Sua mãe (João 2:4), de usar um açoite de cordas (João 2:15), de repreender severamente Seus discípulos que duvidavam (Lucas 24:25), e de denunciar a indivíduos hipócritas. (Mateus 23:13-33).
Sim, o amor pode ser ríspido, (Mateus 16:23), indignado, (Marcos 3:5). O amor espiritual é uma realidade santa: é fiel a Deus, e não transige perante qualquer coisa má.
4. Tiramos verdadeiro proveito da Palavra, quando descobrimos que o amor cristão é Divinamente transmitido.
"Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama, permanece na morte" (I João 3: 14).
"O amor aos irmãos é o fruto, e o efeito de um novo e Sobrenatural nascimento, operado em nossas almas pelo Espírito Santo, sendo uma bendita evidência do fato de que fomos escolhidos em Cristo, pelo Pai Divino, antes de haver mundo. Amar a Cristo, e àqueles que Lhe pertencem, faz parte congênita da natureza Divina, de que Ele nos tornou participantes, através do Seu Santo Espírito... Esse amor aos irmãos, deve ser um amor peculiar, de modo que ninguém, senão os regenerados, pode possuir, e como ninguém, além deles, pode exercer; doutro modo, o apóstolo não o teria mencionado tão particularmente: é de sorte tal, que aqueles que não o possuem, também não são regenerados; por isso mesmo está escrito: 'aquele que não ama, permanece na morte' ". (S. E. Pierce).
O amor aos irmãos envolve muito, muito mais do que simpatizarmos com a companhia daqueles, cujo temperamento é semelhante ao nosso, daqueles cujos pontos de vista, concordam com os nossos. Não é algo que pertença apenas à natureza humana, mas, é antes algo espiritual e Sobrenatural. O amor nos liga de coração, àqueles em quem percebemos algo de Cristo.
Portanto, trata-se de muito mais do que de espírito fraterno: abrange a todos em quem podemos ver a imagem do Filho de Deus. Por conseguinte, trata-se de amarmos aos homens por amor a Cristo, devido aquilo que vejo de Cristo na pessoa deles. E, é o Espírito Santo, quem me atrai, e conquista para o Cristo, que habita em meus irmãos e irmãs na fé.
Assim sendo, o verdadeiro amor cristão, não é apenas um dom Divino, mas, é algo que depende inteiramente de Deus, para seu fortalecimento e exercício. Precisamos orar diariamente, para que o Espírito Santo ponha o amor em ação, e o manifeste, dirigindo-o tanto a Deus, como ao Seu povo, aquele amor que o Senhor derramou em nossos corações.
5. Tiramos proveito da Palavra, quando exercemos corretamente o amor cristão.
Isso é feito não quando buscamos agradar aos nossos irmãos, ou nos tornarmos simpáticos segundo a estima deles, mas, quando buscamos verdadeiramente o bem deles. "Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus, e praticamos os seus Mandamentos". (I João 5:2). E qual será o teste que verifica o grau de meu amor pessoal, ao próprio Deus? Esse teste é a minha observância dos Seus mandamentos, (João 14:15, 21, 24; 15:10, 14). O caráter genuíno, e a intensidade de meu amor a Deus, não podem ser aquilatados pelas minhas palavras, nem pela beleza com que entôo os Seus louvores, e, sim, pela minha obediência à Sua Palavra. E o mesmo princípio opera no caso de minhas relações com os meus irmãos na fé.
Sim, "nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e praticamos os Seus mandamentos". Se porventura exploro demoradamente, as falhas de meus irmãos e irmãs, se estou andando em companhia deles, mas, procurando sempre a minha vontade própria, e o que me agrada, então é que não os "amo". "Não aborrecerás a teu irmão no teu íntimo; mas, repreenderás o teu próximo, e por causa dele, não levarás sobre ti pecado". (Levítico l0:17).
O amor deve ser exercido, segundo os moldes Divinos, e nunca às custas de deixar eu de amar a Deus; de fato, é somente quando Deus recebe o lugar que Lhe convém, em meu coração, é que o amor espiritual pode ser exercido por mim, para com meus irmãos. O verdadeiro amor espiritual, não consiste em procurar satisfazê-los, e, sim, de agradar a Deus, e de ajudá-los. Mas só poderei ajudá-los na vereda ordenada por Deus. Mimar e afagar uns aos outros, não é demonstração de amor fraternal; exortarmo-nos uns aos outros, para que prossigamos avante, na carreira que nos está proposta, proferindo palavras, (reforçadas pelo exemplo do nossa vida diária), que encorajem a outros a "olhar fixamente para Jesus", é atitude muito mais útil do que aquela outra.
O amor fraternal é algo santo, e não algum sentimento carnal, ou alguma indiferença frouxa, acerca da senda que nos convém palmilhar. Os "Mandamentos" de Deus são expressões do seu amor, bem como de sua Autoridade; por isso mesmo, se os ignoramos, apesar de buscarmos ser gentilmente afeiçoados uns aos outros, isso não será "amar", sob hipótese alguma. O exercício do amor deve estar em perfeita conformidade, com a Verdade revelada de Deus. Cumpre-nos amar "na verdade" (III João 1).
6. Beneficiamo-nos realmente da Palavra, quando aprendemos sobre as variadas manifestações do amor cristão.
Amar aos irmãos, e manifestar o amor, de todas as maneiras possíveis, é nosso dever inequívoco. Porém, em ponto algum podemos fazer isso mais verdadeira e eficazmente, e com menos afetação e ostentação, do que em termos comunhão com os irmãos na fé, diante do trono da graça.
Existem irmãos e irmãs em Cristo, nos quatro cantos da terra, acerca de quem nada sei, no tocante aos detalhes de suas provações e conflitos, de suas tentações e tristezas; a despeito disso, posso mostrar-lhes o meu amor, derramando o meu coração diante de Deus, em favor deles, mediante a súplica e a intercessão intensas. Não há outra maneira do crente manifestar melhor sua afetuosa consideração para com seus companheiros de peregrinação, senão utilizar-se de toda a sua participação no Senhor Jesus em favor deles, implorando-lhe a misericórdia e a graça, em prol dos mesmos. "Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade". (I João 1:17,18).
Muitos dentre o povo de Deus são extremamente pobres, quanto a bens deste mundo. E chegam a indagar por que as coisas lhes correm assim; é tudo uma grande provação por que passam. Uma das razões, pelas quais o Senhor permite isso é dar oportunidade, a outros de Seus santos, para que se compadeçam daqueles, e ministrem às suas necessidades temporais, dentre a abundância que Deus lhes propiciou.
O verdadeiro amor é intensamente prático: não considera por demais vis, a quaisquer empreendimentos, nem por demais humilhante, a qualquer tarefa, sempre que os sofrimentos de algum irmão em Cristo possam ser aliviados. Quando o Senhor do amor Se encontrava na face da terra, os Seus pensamentos se voltaram para a fome física das multidões, e para o conforto dos pés de Seus discípulos!
Mas existem alguns, dentre o povo do Senhor, que são tão pobres, que pouquíssimos bens possuem para distribuí-los a outros. Nesse caso, que poderão fazer? Ora, que tornem suas, as preocupações espirituais de todos os santos; que se interessem em favor deles, diante do trono da graça! Com base em nossas próprias circunstâncias e em nossas vidas, sabemos quais devem ser os sentimentos, as tristezas e as queixas de outros santos. Com base em nossa triste experiência, sabemos quão fácil é nos deixarmos invadir pelo espírito de descontentamento, e de murmuração.
Mas também sabemos que, sempre que clamamos ao Senhor, para que a Sua mão aquietadora seja imposta em nós, ou quando Ele nos traz à memória alguma promessa preciosa, grande paz e consolo nos enche o coração.
Assim, pois, roguemos a Deus, para que seja igualmente gracioso para com todas as aflições dos santos. Procuremos sentir e tornar nossas as cargas alheias, chorando com aqueles que choram, regozijando-nos com aqueles que se regozijam. Desse modo, haveremos de expressar verdadeiro amor em Cristo, pelas suas pessoas, interessando o Senhor deles e nosso, para que use de sua bondade eterna para com eles.
É dessa maneira que o Senhor Jesus atualmente manifesta o Seu amor pelos Seus santos: "Por isso também pode salvar totalmente, os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". (Hebreus 7:25).
Cristo torna Suas, a causas e as preocupações deles. Vive rogando em favor deles diante de Deus Pai. Ninguém é esquecido por Ele, – cada ovelha solitária, o Bom Pastor a leva no coração. Por conseguinte, quando expressamos nosso amor aos irmãos, em orações diárias, para que sejam supridas Suas variadas necessidades, somos levados a desfrutar de comunhão com o nosso grande Sumo Sacerdote.
E, não somente isso, mas os santos, nesse processo, se nos tornarão mais caros – nossas próprias orações em favor daqueles que são amados por Deus, aumentará o nosso amor, e a nossa estima por eles, como tais. Não poderíamos mesmo trazê-los no coração, até ao trono da graça, se em nossos corações, não tivéssemos um verdadeiro afeto por eles. A melhor maneira de dominarmos qualquer sentimento de amargura, contra algum irmão em Cristo, que nos tenha ofendido, é dedicarmo-nos à oração em favor dele.
7. Derivamos proveito autêntico da Palavra, quando ali somos ensinados como se deve Cultivar apropriadamente o amor cristão.
Sugerimos aqui duas ou três regras, a respeito da questão. Em primeiro lugar, reconhecendo desde o começo, que há muito no prezado leitor (como em mim também) que serve para testar severamente o amor dos irmãos, também muito haverá neles que sirva de teste ao nosso amor, "Suportando-nos uns aos outros, em amor...". (Efésios 4:3).
Essa é uma grande admoestação, acerca desse problema, e que todos nós precisarmos entesourar no coração. Sem dúvida é impressionante, o fato de que a primeira qualidade do amor espiritual é que, "O amor é paciente". (I Cor. 13:4).
Em segundo lugar, a melhor maneira de cultivar qualquer virtude ou graça cristã, consiste em exercê-la. Falar, e traçar teorias a respeito de alguma virtude, de nada vale, a não ser que a ponhamos em ação. Muitas, são as queixas, que se ouvem, em nossos dias, acerca das parcas manifestações do amor em tantos lugares, – e isso é um motivo a mais, pelo qual devo procurar dar melhor exemplo!
Não permitamos que a frieza, e a falta de gentileza dos outros, venham a abafar o nosso amor, mas antes, façamos o que se lê em Romanos 12:12: "Vence o mal com o bem". Que você pondere, sob oração, pelo menos uma vez por semana, acerca do que se diz em I Coríntios 13.
Em terceiro lugar, que você verifique se o seu coração está se aquecendo na luz, e no calor do amor de Deus. Cada ser gera o que lhe é semelhante. Quando mais nos ocuparmos, em verdade, com o amor invariável, infalível e insondável de Cristo para conosco, tanto mais o nosso coração se voltará amorosamente, para com aqueles que lhe pertencem. Uma belíssima ilustração a esse respeito se acha no fato de que, o apóstolo que mais escreveu sobre o amor fraternal, foi exatamente aquele que se recostou ao peito do Senhor Jesus.
Que o Senhor outorgue toda a graça necessária, tanto a você como a mim, (que acima de todos precisa dar ouvidos à Palavra), para que possam observar essas regras, visando ao Louvor da Glória da Graça Divina, e o bem de Seu povo amado.
A. W. Pink.
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