Isso fica perfeitamente esclarecido no trecho de Mateus 5:16: "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.".
É digno de nossa atenção, o fato de que essa é a primeira ocorrência dessa expressão, e, conforme geralmente é o caso, a primeira menção de qualquer verdade, nas Escrituras, dá a entender seu escopo, e seu uso subsequentes. Nesta altura aprendemos que os discípulos de Cristo precisam autenticar a sua profissão cristã, pelo silencioso, mas impressionante testemunho de suas vidas, (pois, a "luz" não faz nenhum ruído ao "iluminar"), a fim de que os homens possam ver (e não ouvir as jactâncias) as boas obras dos crentes; pois, é assim que nosso Pai celestial, que está nos céus, pode ser glorificado. Aqui, pois, temos o seu desígnio fundamental – a Honra de Deus.
Posto que o conteúdo do trecho de Mateus 5:16 é tão geralmente mal entendido e pervertido, acrescentamos aqui um outro pensamento. Com exagerada frequência as "boas obras" são confundidas com a própria "luz". Entretanto, são perfeitamente distintas, posto que estejam inseparavelmente vinculadas entre si. A "luz" é o nosso testemunho em favor de Cristo; mas, que valor teria esse testemunho, se a própria vida não o exemplificasse? As "boas obras" não visam a chamar a atenção dos homens para nós mesmos, mas antes, para Aquele (Deus) que as lavrou em nós. E essas boas obras devem revestir-se de tal qualidade e caráter, que até mesmo os ímpios reconheçam que elas procedem de alguma fonte superior à natureza humana decaída. Um fruto Sobrenatural, requer uma raiz Sobrenatural; e quando isso é reconhecido, o Divino Viticultor é devidamente glorificado.
Igualmente significativa é a última referência às boas obras, existente nas Escrituras: "... Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no da visitação" (I Pedro 2:12). Por conseguinte, a primeira e a última menção às "boas obras" frisam o seu desígnio: glorificar a Deus, devido às Suas obras, realizadas por meio de Seu povo, neste mundo.
4. Tiramos proveito da Palavra, quando ali aprendemos a verdadeira Natureza das boas obras.
Eis alguma coisa sobre o que os indivíduos não regenerados são totalmente ignorantes. A julgar meramente pelas coisas externas, a aquilatar as coisas apenas pelos padrões humanos, aquelas e estes são totalmente incompetentes para determinar quais obras são boas, segundo o pensamento Divino, e quais não são boas.
Supondo que aquilo que os homens reputam como boas obras, também seja aprovado pelo Senhor, ainda assim, os homens permanecem nas trevas de seu entendimento embotado pelo pecado; e ninguém pode convencê-los sobre seu erro, enquanto o Espírito Santo não os vivifica para que recebam novidade de vida, arrebatando-os das trevas, e trazendo-os para a maravilhosa luz de Deus. Então transparecerá claramente que boas obras são somente aquelas que, são realizadas em obediência à Vontade de Deus (Romanos 6:16), com base no princípio de amor a Ele (Hebreus 10:24), em nome de Cristo (Colossenses 3:17), visando sempre à Glória de Deus por intermédio dEle (I Coríntios 10:31).
A natureza autêntica das "boas obras" foi perfeitamente exemplificada pelo Senhor Jesus. Tudo quanto Ele praticou, fê-lo em obediência a Seu Pai. Cristo, "... Não Se agradou a Si mesmo...". (Rom. 15:3), Mas sempre obedeceu Àquele que O enviara (João 6:38). Por isso mesmo, Cristo pôde dizer: "... Eu faço sempre o que Lhe agrada". (João 8:29). Não havia limites à sujeição de Cristo à Vontade do Pai. Ele tornou-Se, "... Obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:8).
Por semelhante modo, tudo quanto Cristo fez, procedia de Seu amor ao Pai, bem como do amor a Seus semelhantes humanos. De fato, o amor é o cumprimento da Lei; sem amor, a anuência à Lei nada é, senão, uma sujeição servil, e isso não pode ser aceito por Aquele, que é o próprio Amor. A prova que a obediência de Cristo, em todos os seus aspectos, fluía do amor, se encontra em Suas próprias palavras: "... Agrada-me fazer a tua Vontade, ó Deus meu...". (Salmo 40:8). E, por igual modo, tudo quanto Cristo fez, tinha em vista a Glória do Pai. Disse Ele: "Pai, glorifica o teu nome...". (João 12:28). E essas palavras revelam-nos o objetivo, que Ele tinha constantemente em mira.
5. Tiramos proveito da Palavra, quando ali aprendemos qual é a verdadeira Fonte das boas obras.
Os homens não regenerados são capazes de realizar obras que são boas, em sentido natural e civil, embora não em sentido espiritual. Esses homens podem fazer aquelas coisas que, externamente, no que diz respeito à sua matéria e substância, são boas, como a leitura da Bíblia, o recebimento de Instruções bíblicas, a dádiva de esmolas para os pobres, etc.; contudo, o manancial dessas ações, bem com a ausência de motivos realmente Piedosos, torna tais obras como trapos de imundícia aos olhos do Deus três vezes Santo.
Os homens não regenerados, não têm a capacidade de realizar obras de forma espiritual, razão por que está escrito: "... Não há quem faça o bem, não há nem um sequer...". (Romanos 3:12). De fato, para tais homens isso é simplesmente impossível – eles têm uma natureza que: "... Não está sujeita à Lei de Deus, nem mesmo pode estar.". (Romanos 8:7).
Por conseguinte, as boas obras dos ímpios são inaceitáveis para Deus. E os próprios crentes, não são capazes de ter um bom pensamento, ou fazer qualquer boa obra por si mesmos, (II Coríntios 3:5); porquanto, é Deus, quem opera neles. "... Tanto o querer, como o realizar, segundo a Sua boa vontade". (Filipenses 2:13). “Quando um etíope puder mudar a cor de sua pele, ou o leopardo puder trocar as manchas de seu couro, então também poderão fazer o bem aqueles que estão acostumados a fazer o mal.”. (Jeremias 13:23). É mais fácil os homens esperarem poder colher uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos, do que poderem os não regenerados dar bom fruto, ou produzir boas obras. É mister que primeiramente sejamos, "... Criados em Cristo Jesus..." (Efésios 2:10),
Que o Seu Santo Espírito nos seja outorgado (Gálatas 4:6), e também que a Sua graça seja implantada em nossos corações, (Efésios 4:7 e I Coríntios 15:10), para que tenhamos qualquer capacidade para praticar as boas obras. E mesmo depois dessa experiência, nada poderemos fazer à parte de Cristo (João 15:5). Com grande frequência, nós, os crentes em Cristo, temos vontade de fazer coisas boas; mas não sabemos como realizá-las (Romanos 7:18). Isso nos leva a cair de joelhos, implorando para que Deus nos faça, "Perfeitos para toda boa obra, ‘operando em nós’ "... O que é agradável diante dEle..." (Hebreus 13:21).
Dessa maneira é que somos libertados, de nosso senso de auto suficiência, sendo levados a perceber que todas as nossas fontes, se encontram em Deus (Salmos 87:7); e dessa maneira também descobrimos que tudo podemos, mediante Cristo, que nos fortalece (Filipenses 4:13).
6. Tiramos proveito da Palavra, quando ali aprendemos qual é a Grande importância das boas obras.
Condensando a questão o mais possível, diremos que as "boas obras" se revestem de capital importância, porque, por meio delas, Deus é glorificado (Mateus 5:16), por meio delas, são caladas as bocas daqueles que falam contra nós (I Pedro 2:12), e por meio delas, evidenciamos a genuinidade de nossa profissão de fé (Tiago 2:13-17).
É altamente desejável e válido, que ornemos, "... Em todas as coisas, a Doutrina de Deus, nosso Salvador". (Tito 2 :10). Nada redunda em maior Honra para Cristo, do que o fato, de que aqueles que receberam o Seu Nome, são encontrados a viver constantemente (Devido à força capacitadora dada por Ele) de maneira cristã, no espírito cristão. Não foi sem razão que, o mesmo Espírito que levou o apóstolo a prefaciar sua declaração concernente à vida de Cristo a este mundo, para salvar aos pecadores, com as palavras: "Fiel é a Palavra...",
Também o impulsionou para que escrevesse: "Fiel é a palavra... que os que teem crido em Deus, sejam solícitos na prática de boas obras" (Tito 3:8). Que todos nós verdadeiramente, sejamos zelosos "... de boas obras" (Tito 2:14).
7. Tiramos proveito da Palavra, quando ali aprendemos qual é o Verdadeiro escopo das boas obras.
Isso é tão amplo, que inclui a realização de nossos deveres, em todas as relações em que Deus nos colocou. É deveras interessante e instrutivo observarmos que a primeira "boa obra" (assim descrita nas Santas Escrituras) foi a unção do Salvador, por parte de Maria de Betânia (Mateus 26:10 e Marcos 14:6).
Indiferente, tanto para com as acusações, como para com as aplausos dos homens, tendo olhos somente para o, "Mais distinguido entre dez mil" (Cantares 5:10), Ela derramou abundantemente sobre Ele, o seu precioso unguento. E outra mulher, de nome Dorcas (Atos 9:36), também é mencionada como mulher, "... notável pelas boas obras...''. Sim, após a adoração vem o serviço, em que glorificamos a Deus entre os homens, e nos tornamos beneficentes para com o próximo. "... A fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra..." (Colossenses 1:10).
A criação dos filhos, (em que não é preciso arrastá-los à força!), a hospitalidade para com os estrangeiros (espirituais), a lavagem dos pés dos santos, (que também indica a ministração a seus confortos temporais), e o alívio dado aos aflitos, (I Timóteo 5:10), tudo é considerado como "boas obras".
A menos que nossa leitura e estudo das Escrituras estejam contribuindo para nos tornarmos melhores soldados de Jesus Cristo, melhores cidadãos do país onde vivemos como forasteiros, e melhores membros de nossos lares terrenos, (mais gentis, mais bondosos, mais altruístas), ficando assim preparados para "toda boa obra", aquilo de pouco ou nada nos está aproveitando.
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