2. Tiramos proveito da Palavra, quando nos esforçamos por tornar nossas as promessas de Deus.
Para tanto devemos, antes de tudo, estar dispostos ao trabalho de nos familiarizarmos verdadeiramente com essas promessas. É surpreendente o grande número de promessas existentes nas Escrituras, acerca das quais, os santos nada sabem, sobretudo quando levamos em conta que essas promessas são o tesouro peculiar dos remidos, já que a substância da herança da fé depende delas.
É verdade que os crentes já são os beneficiários de bênçãos admiráveis; no entanto o capital de suas riquezas, a parte principal de suas propriedades, encontra-se ainda em estado latente. Já receberam o "penhor" das promessas; mas, a porção melhor daquilo que Cristo adquiriu para eles, jaz ainda nas promessas Divinas. Quão diligentes, portanto, deveriam mostrar-se os crentes, no estudo de seu testamento, familiarizando-se com aquelas coisas boas que o Espírito nos "... revelou..." (I Coríntios 2:10), pois, assim procurariam fazer o inventário de seus tesouros espirituais!
Não somente convém que eu pesquise as páginas da Bíblia, para descobrir o que já me foi entregue, devido ao Pacto eterno; mas também preciso meditar sobre as promessas, revolvendo-as sempre na minha mente, e clamando ao Senhor para que me seja conferido entendimento espiritual delas. Uma abelha não extrai mel da flor, enquanto fica somente a contemplá-la. Por igual modo, o crente não deriva qualquer consolo real, e nem qualquer força espiritual das promessas Divinas, enquanto a sua fé não se apossa delas, e enquanto elas não penetram em seu coração. Deus não deixou qualquer promessa de que os desinteressados serão espiritualmente alimentados, mas declarou: "... A alma dos diligentes se farta". (Provérbios 13:4). Por essa mesma razão, é que Cristo ensinou: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna". (João 6:27). Somente quando as promessas divinas são entesouradas em nossas mentes, é que o Espírito as traz à nossa memória, naquelas ocasiões de desânimo, quando delas mais necessitarmos.
3. Tiramos real proveito da Palavra, quando reconhecemos o bendito Escopo das promessas de Deus.
Há certa forma de afetação que impede alguns crentes de inquirirem pelas realidades religiosas, como se a sua esfera estivesse entre as trivialidades da vida diária. Para eles, essas promessas parecem transcendentais, sonhadoras; mais uma criação da ficção pia, do que uma realidade palpável. Creem em Deus de certo modo, como também assim acreditam nas coisas espirituais e na vida vindoura; mas, andam totalmente esquecidos, de que a verdadeira piedade, tem a promessa da vida que agora é, e daquela que haverá no futuro. Para esses, a oração acerca das pequenas questões diárias, de que se compõe a vida, seria quase uma profanação. Talvez ficassem boquiabertos se eu me aventurasse a sugerir que isso deveria levá-los a pôr em dúvida a realidade de sua fé. Se esta não pode ajudá-los nas pequenas dificuldades da vida, porventura, poderá sustentá-los nas tribulações maiores da morte? "A piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é, e da que há de ser". (I Timóteo 4:8).
Prezado leitor, você realmente crê que as promessas de Deus envolvem cada aspecto e particularidade de sua vida diária? Ou os "dispensacionalistas" conseguiram iludi-lo, levando-o a supor que o Antigo Testamento pertence exclusivamente aos judeus carnais, e que as "nossas promessas", dizem respeito a bênçãos espirituais, mas não materiais? Quantos e quantos crentes têm derivado consolo das palavras que dizem: "De maneira alguma te deixarei, nunca, jamais te abandonarei" (Heb. 13:5). Pois, bem, essa é uma citação extraída do trecho de Josué 1:5! Por semelhante modo, a passagem de II Coríntios 7:1 fala em termos de, "... Tais promessas...". Mas, uma delas, citada em II Coríntios 6:18, foi tirada do livro de Levítico!
Mas alguém poderia indagar: "Onde devo traçar a linha divisória? Quais das promessas do Antigo Testamento realmente me pertencem?". Respondemos com a declaração do trecho de Salmos 84:11: "O Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente". Se você realmente está andando em "retidão", então tem o direito de apropriar-se dessa bendita promessa, dependendo do Senhor, o qual lhe conferirá qualquer "coisa boa", de que você realmente precisar. "E o meu Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19). Por conseguinte, se em qualquer segmento da Bíblia há alguma promessa que se encaixa à situação e às circunstâncias presentes do prezado leitor, que se aposse dela pela fé, segundo a sua "necessidade". E que o prezado leitor resista firmemente, a qualquer tentativa de Satanás de furtar-lhe qualquer porção da Palavra do Pai.
4. Beneficiamo-nos realmente da Palavra, quando discriminamos acertadamente entre as promessas de Deus.
Muitos, dentre o povo de Deus, tornam-se culpados do pecado de furto espiritual. Ao assim dizermos, referimo-nos ao fato de que esses se apropriam de coisas, a que não têm direito, porquanto pertencem a outrem. Alguns termos do pacto, estabelecidos entre o Senhor Jesus Cristo e Seus eleitos remidos, são inteiramente incondicionais, naquilo que concerne a estes últimos; mas, existem muitas outras ricas declarações do Senhor, que contêm estipulações que devem ser ciosamente resguardadas, pois, de outro modo, não obteremos as bênçãos ali prometidas.
Uma parte das pesquisas diligentes que você faz, deve visar a esse importantíssimo ponto. Deus haverá de cumprir no seu caso, as promessas que fez; tão somente, você deve observar zelosamente as condições estipuladas no pacto. Pois, somente quando cumprimos as exigências de uma promessa condicional, é que podemos esperar que aquela promessa seja concretizada para nós". (C. H. Spurgeon).
Muitas das promessas Divinas se dirigem a caracteres particulares, ou, usando de uma linguagem mais correta, visam ao derramamento de graças particulares. Por exemplo, em Salmos 25:9, o Senhor declara que ele, "Guia os humildes na justiça, e ensina aos mansos o seu caminho".
Porém, se por acaso eu estiver fora de comunhão com Ele, e estiver palmilhando uma vereda de minha própria escolha teimosa, se meu coração for altivo, então não estarei com a razão ao pensar que, esse citado versículo pode consolar-me. Novamente, na passagem de João 15:7, o Senhor nos ensina como segue: "Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito".
Porém, se eu não gozo de comunhão experimental com o Senhor, e se os Seus preceitos não estão regulamentando a minha conduta, então minhas orações ficarão sem resposta. Pois, apesar do fato de que as promessas de Deus se derivam de Sua pura graça, contudo, nunca nos deveríamos olvidar que a graça reina, "... Pela justiça...", segundo se lê em Romanos 5:21, jamais ficando eliminada a faceta da responsabilidade humana.
Se, porventura, eu ignorar as leis da saúde, não poderei ficar surpreendido se as enfermidades me impedirem de desfrutar de muitas das misericórdias temporais de Deus; e, por semelhante modo, se eu estiver negligenciando aos preceitos Divinos, terei de culpar somente a mim mesmo, se porventura não receber o cumprimento de muitas das promessas do Senhor. Que ninguém suponha que, devido às Suas promessas, Deus se obrigou a ignorar as exigências de sua santidade, porquanto, Ele jamais exerceu qualquer de Suas perfeições a expensas de outra. E que ninguém imagine, por semelhante modo, que Deus haveria de magnificar a obra expiatória do Calvário, se porventura, proporcionasse de seus frutos a almas impenitentes e descuidadas.
Neste ponto, há certo equilíbrio da verdade que precisa ser preservado; infelizmente, esse equilíbrio, nestes nossos dias, com frequência é olvidado, e isso sob a pretensão de exaltar a graça Divina, que assim os homens, na realidade, tornam em "lascívia". Com quanta frequência se ouve a seguinte citação: "Invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás" (Salmos 50:15). Mas esse versículo começa somente depois das palavras antecedentes. "Cumpre os teus votos para com o Altíssimo.".
Assim também, com grande frequência se ouve repetir: "Sob as minhas vistas, te darei conselho". (Salmos 32:8). Mas isso é dito por pessoas que não dão a mínima atenção ao contexto dessa passagem! Contudo, temos aqui a promessa de Deus para aqueles que, tiverem confessado a sua "iniquidade" (ver Salmos 32:5). Assim sendo, se você tiver deixado de confessar algum pecado que lhe pesa sobre a consciência, dependendo do braço da carne, ou buscando ajuda da parte de seus semelhantes, ao invés de esperar somente em Deus (Salmo 62:5), então não terá qualquer direito de esperar pela orientação sob as vistas de Deus. Esta orientação Divina necessariamente pressupõe que, você estará andando em comunhão com Ele, já que não posso estar sob a vigilância de alguém, se estou distante desse alguém.
5. Tiramos proveito da Palavra, quando somos capacitados de fazer das promessas de Deus nosso apoio e arrimo.
Essa é uma das razões que explicam por que Deus nos deu as Suas promessas, – não somente a fim de manifestar o Seu amor, tornando-nos conhecidos os Seus benévolos desígnios, mas, também a fim de consolar nossos corações, e desenvolver a nossa fé. Se Deus assim tivesse querido, poderia proporcionar-nos as Suas bênçãos, sem avisar-nos de antemão acerca dos Seus propósitos. O Senhor poderia conferir-nos todas as misericórdias de que necessitamos, sem comprometer-Se de forma alguma a fazê-lo. Nesse caso, entretanto, não poderíamos ser crentes; pois, a fé sem qualquer promessa, seria como um pé sem chão onde pisar.
Nosso terno Pai celestial planejou que desfrutássemos por duas vezes em seguida de Suas bênçãos – primeiramente, através da fé; e então, pelo recebimento concretizado das promessas feitas. Por esses meios Ele, mui sabiamente, desliga os nossos corações daquelas coisas que vemos e que perecem, convocando-nos para olhar para frente, e para o alto, isto é, para aquelas realidades espirituais e eternas. Além disso, se não houvesse nenhuma promessa, não somente seria inexistente a fé, mas também não haveria esperança. Pois, do que consiste a esperança, senão da expectação daquelas coisas que Deus declarou que nos daria? A fé olha para a Palavra que faz a promessa; e a esperança espera a concretização da promessa. Assim também sucedeu no caso de Abraão: ''... Esperando contra a esperança, creu... E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou da promessa de Deus.". (Romanos 4:18-20).
Outro tanto aconteceu na vida de Moisés: "... Porquanto considerou o opróbrio de Cristo, por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão". (Hebreus 11:26). E a mesma atitude sustentou o apóstolo Paulo: "... Pois, eu confio em Deus, que sucederá do modo por que me foi dito". (Atos 27:25). Assim também acontece em seu caso, prezado leitor? As promessas Daquele que não pode mentir são o lugar de descanso de seu pobre coração?
6. Tiramos real proveito da Palavra, quando esperamos com paciência, pelo cumprimento das promessas de Deus.
Deus prometeu a Abraão um filho; mas, Abraão teve de esperar por muitos anos, até que essa promessa tivesse cumprimento. Simeão recebeu a promessa, de que não provaria a morte física, enquanto não visse ao Ungido do Senhor (Lucas 2:26). Contudo, essa promessa só se cumpriu, quando ele já estava praticamente com um dos pés no sepulcro. Geralmente ocorre um longo e difícil inverno, entre o tempo da semeadura da oração, e a colheita da resposta. O próprio Senhor Jesus ainda não recebeu plena resposta para a oração que fez, e que se acha registrada no 17o capítulo do evangelho de João, embora a tenha feito há quase 2000 anos.
Muitas das melhores promessas Divinas para o Seu povo, não receberão Sua mais rica realização enquanto não Se acharem os remidos já na glória. Aquele que tem a eternidade inteira à Sua disposição, não precisa de pressa. Com frequência Deus nos faz esperar, a fim de que a paciência seja "aperfeiçoada"; não devemos, pois, desconfiar Dele. "Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas, se apressa para o fim, e não falhará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará". (Habacuque 2:3). "Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas, vendo-as porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra" (Hebreus 11:13).
Neste versículo podemos perceber o escopo inteiro da fé – conhecimento, confiança e aderência amorosa. As palavras "... de longe...", se referem às realidades prometidas; essas os santos antigos "viram" com a mente, discernindo a substância existente por detrás da sombra simbólica, descobrindo nesta última, a sabedoria e a bondade de Deus. E também "saudaram-nas", porque estavam "persuadidos" a seu respeito. Não duvidaram, mas antes, ficaram convictos de que haveriam de participar daquelas promessas, sabendo que não ficariam desapontados. Essa palavra também expressa o deleite e a veneração que tiveram, em que seus corações se aferraram às promessas com amor, saudando cordialmente às mesmas.
As promessas foram o consolo e o arrimo daquelas almas crentes, em suas peregrinações, tentações e sofrimentos. Várias finalidades são alcançadas por Deus, quando Se demora na execução de Suas promessas. Não somente a nossa fé é submetida a grande teste, de forma que assim transparece mais claramente o seu caráter genuíno; não somente a paciência, ou constância se desenvolve, e à esperança é conferida a oportunidade de exercitar-se; mas, também a submissão à vontade Divina é fomentada.
"O processo de desligamento ainda não se cumpriu por essa altura: ainda almejamos pelos consolos que o Senhor deseja que ultrapassemos. Abraão muito festejou quando Isaque, seu filho, foi desmamado; e talvez nosso Pai celestial faz outro tanto conosco. Deita-te, coração orgulhoso. Abandona os teus ídolos; esquece-te dos teus feitos queridos; e a paz prometida te será conferida". (C. H. Spurgeon).
7. Tiramos real proveito da Palavra, quando nos utilizamos corretamente de suas promessas.
Em primeiro lugar, em nosso relacionamento com o próprio Deus. Quando nos avizinhamos de Seu trono, isso deveria ser feito para pleitearmos alguma de Suas promessas. Elas formam não apenas o alicerce de nossa fé, mas, também, a substância dos nossos pedidos. Precisamos fazer nossas petições de conformidade com a Vontade de Deus, se quisermos ser ouvidos; e a vontade do Senhor acha-se revelada naquelas boas coisas que Ele declarou que há de nos dar. Portanto, compete-nos tomar posse das certezas que Ele nos confere, expondo-as perante Ele e dizendo: "Faze como falaste". (II Samuel 7:25). Observamos como Jacó pleiteou certa promessa, no trecho de Gênesis 32:12; como Moisés, o fez, na narrativa bíblica de Êxodo 32:13; como Davi agiu, segundo se lê em Salmo 119:58; e como fez Salomão, conforme se aprende em I Reis 8:25. Quanto a você, prezado leitor, aja por semelhante modo.
Em segundo lugar, utilizamo-nos corretamente das promessas de Deus, segundo a forma de vida, que vivermos neste mundo. Na passagem de Hebreus 11:13, lemos que, os patriarcas não somente discerniram as promessas Divinas, confiando nelas e saudando-as de longe, mas, também somos informados acerca dos efeitos que essas promessas produziram sobre eles: "... Confessando que eram estrangeiros, e peregrinos sobre a terra", O que significa que, se manifestaram publicamente acerca de sua fé. Reconheceram eles (e demonstraram-no através de sua conduta), que os seus interesses, não estavam fixados nas coisas deste mundo; antes, sua porção satisfatória, era as promessas de que se tinham apropriado pela fé. Seus corações se voltavam para as realidades celestes; pois, onde estiver firmado o coração de um homem, aí estará igualmente o seu tesouro. "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor do Senhor.". (II Coríntios 7:1).
Esse é o efeito que essas promessas devem produzir em nós; e assim sucederá, de fato, se nossa fé apossar-se delas. "... Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas para que, por elas, vos tomeis coparticipantes da natureza Divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo" (II Pedro 1:4).
Ora, quando o evangelho e suas preciosas promessas são graciosamente conferidos, e poderosamente aplicados, exercem profunda influência sobre a conduta, e sobre a pureza de coração, ensinando os homens a negarem a impiedade e as concupiscências mundanas, a fim de que vivam sóbria, justa e piedosamente.
Estes são os poderosíssimos efeitos das promessas contidas no evangelho, debaixo da influência Divina, o que leva os remidos a se tomarem participantes, no íntimo, da própria natureza Divina, e para que, externamente, se abstenham das corrupções prevalecentes, e evitem os vícios que caracterizam os homens em seus dias.
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