Spurgeon
“Aquele capitão respondera ao homem de Deus:
Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu, poderia suceder isso, segundo essa
palavra? Dissera o profeta: Eis que tu o verás com os teus olhos, porém disso
não comerás” (2 Reis 7:19)
Em todos os
casos, a cura de Naamã era assunto de conversa comum na corte; mesmo em face de
toda essa evidência, nas barbas de todas essas credenciais da missão do
profeta, ele duvidou e o insultou, dizendo que o céu precisava abrir-se inteiro
antes que a promessa se cumprisse. Em resposta Deus pronunciou sua condenação
pela boca do homem que recém pronunciara a promessa: “Tu verás com os teus
olhos, porém disso não comerás”. A providência – que sempre cumpre as profecias,
assim como o papel registra a impressão das letras – destruiu o homem.
Pisoteado nas ruas de Samaria, ele morreu à porta, ainda vendo a abundância,
mas sem chegar a prová-la. Talvez seu procedimento fosse arrogante e insultuoso
para o povo, ou ele tentasse controlar a correria desenfreada deles; ou,
poderíamos dizer, foi por meio acidente que ele foi pisoteado; assim ele viu a
profecia se cumprir, mas não viveu para alegrar-se nela. Neste caso, ver foi
crer, mas não foi prazer.
Nesta manhã
quero convidar a atenção de vocês para duas coisas: o pecado e o castigo deste
homem. Talvez eu diga pouco do homem, pois já descrevi as circunstâncias, mas
discurse sobre o pecado da descrença e seu castigo.
1. Primeiro, o pecado. Seu pecado foi
incredulidade. Ele duvidou da promessa de Deus. Neste caso particular a
descrença tomou a forma da dúvida da veracidade divina, ou de desconfiança do
poder de Deus. Ou ele duvidou que Deus realmente que dizer o que Ele disse, ou
que estava dentro do alcance do possível que Deus cumprisse Sua promessa. A
incredulidade tem mais fases que a lua e mais cores que um camaleão. As pessoas
comuns dizem que o diabo pode ser visto às vezes com uma forma e outras vezes
com outra. Eu tenho certeza que isto vale também para o primogênito de satanás –
a descrença – porque ela tem uma legião de formas. A um tempo eu vejo a
descrença vestida como um anjo de luz. Ela chama a si mesma de humildade, e
diz: “Não quero ser presunçosa; não me atrevo a pensar que Deus me perdoará.
Sou um pecador ruim demais”. Chamamos isso de humildade, e agradecemos a Deus
que nosso amigo apresenta uma atitude tão boa. Eu não agradeço a Deus por
engano próprio como esse. É o diabo vestido como anjo de luz; no fim das contas
é incredulidade.
Outras
vezes detectamos a incredulidade sob a forma da dúvida sobre a imutabilidade de
Deus: “O Senhor me amou, mas talvez amanhã Ele me rejeite. Ele me ajudou ontem,
e sob a sombra das suas asas eu estou seguro; mas talvez eu não receba ajuda na
próxima aflição. Talvez ele me expulse; ele pode ter esquecido da sua aliança e
deixar de ser gracioso”. Às vezes esta infidelidade está incluída numa dúvida
quanto ao poder de Deus. Sofremos pressões novas a cada dia, somos envolvidos
em novas dificuldades, e pensamos: “Com certeza o Senhor não pode nos livrar
dessa”. Nos esforçamos para aliviarmos nosso fardo e, ao vermos que não o
conseguimos, achamos que o braço de Deus é tão curto como o nosso e que seu
poder é tão pequeno como a força humana.
(continua)
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